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terça-feira, 24 de setembro de 2013
Movimentos de Luta pela Libertação
"A história da sociedade brasileira, defendem Aquino e cols. (1999, 2000), só pode ser conhecida quando a oficialidade dos vencedores é contrastada ante ao papel da participação popular na busca de justiça social, democracia e humanismo real, mascarada pela repressão.
A sociedade civil organizada, em semelhante conjuntura, conforme definido por Schiochet (1999), constitui-se enquanto 'instrumento conceitual de politização do social' (p. 7), significando que a sociedade se organiza para a política por meio dos movimentos sociais, de modo que os indivíduos participantes desses movimentos, os contemporaneamente denominados 'ativistas' ou 'militantes' são em si mesmos veículos do interesse da coletividade, e não apenas de seus próprios interesses.
Exemplos de resistência à falsa cordialidade do escravismo brasileiro, defendida por autores como Gilberto Freyre (2003), reverberam em toda literatura científica e nos documentos históricos. Como resgatou Silva (2001), a partir da análise do trabalho realizado por escravos e libertos no Rio Grande do Sul com o manuseio de químicas, observa-se que os escravos formavam redes de solidariedade até mesmo para obtenção de drogas com as quais alguns envenenavam 'toda a ceia da família de seu senhor' (p. 31), e muitos praticavam 'feitiçaria', sofriam alcoolismo, tabagismo ou consumiam-nas para entorpecimento, cometiam suicídios: era comum os senhores de escravos vigiarem o parto das escravas, para que essas não matassem seus filhos recém-nascidos, evitando assim que as crianças fossem escravizadas desde a pequena infância. Tudo isso realizado como prática de resistência ao horrível martírio da escravidão, prática de suicídio como libertação, reiterada desde a Antiguidade, simbolizada inclusive na literatura eurocêntrica por figuras clássicas como Demóstenes e Cleópatra, que como milhões de outros não-libertos na História, livravam-se da morte ignominiosa, da injúria ou da servidão perpétua conduzindo sua morte com as próprias mãos.
É uma constatação dos movimentos de resistência à opressão e em prol da libertação em qualquer lugar do mundo, especialmente nos países submetidos aos regimes colonialistas, como as nações africanas, que esses regimes buscam a legitimação de sua autoridade por meio do trabalho de aproximação entre os sujeitos colonizados e caricaturas de sua identidade histórica (South West África People’s Organisation of Namíbia – SWAPO, 1987).
O movimento pela libertação, assim, configura-se não só como um ato de liberação física, mas principalmente de independência psicossocial ante à força do opressor.
Historicamente, o sucesso ou o fracasso dos movimentos sociais pela libertação depende, segundo Rudé (1991), da sua associação e influência ante aos detentores do poder, em especial 'as forças armadas à disposição do governo'; esse dado é especialmente verificável quando se refere ao Brasil, em que a obediência das forças armadas ao governo instituído sempre foi uma variável mais fortemente dependente de fatores sociais e políticos do que unicamente militares. Pode-se traduzir essa força armada como uma força da arma, ou em poder de intervir materializado.
A ação pela libertação dos oprimidos, destarte, é um processo de empoderamento que, por meios particulares, resulta na libertação. Conforme apontado acerca do pensamento de Gramsci, segundo Finelli (2001), somente enquanto resultado, e não como princípio, é que se pode avaliar a capacidade de ação de uma subjetividade sobre a história, resultado constatado por meio da evolução dos grupos subalternos do nível das iniciativas tão-somente econômicas para o nível das iniciativas culturais e políticas".
Trecho extraído de JESUS, J. G. (2005). Trabalho escravo no Brasil contemporâneo: representações sociais dos libertadores. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. Brasília: Universidade de Brasília, pp. 52-54. Disponível eletronicamente em http://issuu.com/jaquelinejesus/docs/libertadores_de_escravos_no_brasil_contempor_neo.
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