terça-feira, 28 de maio de 2013

Psicólog@s: 30 Horas JÁ!

A CHAPA 12 - PSI DF: VEM SOMAR! VEM CUIDAR! apóia a luta de psicólogas e psicólogos pela JORNADA DE 30 horas, considerando que é função de um Conselho Profissional, como mediador entre a categoria que representa e a sociedade, zelar por condições dignas na oferta de serviços que incidam no bem comum, na promoção de saúde e cidadania.
Pela aprovação do PL 3338/08 na Câmara Federal Já!!! Estamos junt@s nessa luta!!!
Estamos no Facebook: http://www.facebook.com/psidf# e http://www.facebook.com/groups/157311647774088/

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Trabalho Generificado

As questões de gênero se constituem, em um primeiro momento, num campo do estudos e de enfrentamento político às desigualdades constatadas nas relações entre homens e mulheres, a partir de um conceito eminentemente relacional/funcional, como é o de gênero, sob uma perspectiva não-essencialista.
Os diferentes pensamentos feministas e os movimentos de mulheres têm contribuído para a rediscussão sobre a diversidade de identidades pessoais e sociais das mulheres (inclusive reconhecendo mulheres antes invisíveis, para além do âmbito biológico), seus papéis sociais, e para a reformulação das políticas calcadas em diferenças atribuídas aos gêneros, indo além da dimensão meramente interpessoal ou intergrupal, ao desenvolver modelos alternativos de participação e, no âmbito das organizações de trabalho, reelaborado práticas sexistas.
Seus reflexos podem ser encontrados em outros movimentos sociais que lutam contra a naturalização e o binarismo entre grupos, e a diversificação dos papéis sociais reservados às mulheres se reflete no mundo do trabalho, mesmo que de modo lento e incompleto, considerando limitações estruturais, cooptação de intenções oposicionistas ao status quo e lógicas de incorporação/hierarquização nas sociedades contemporâneas. Ainda hoje o trabalho dos homens é tido como produtivo, realizado nos espaços públicos e voltado ao desenvolvimento da sociedade, enquanto o das mulheres é tratado como reprodutivo, restrito aos espaços privados e destinados à manutenção da sociedade.
Há uma lamentável lacuna nos estudos sobre trabalho, falta relacionar avanços e desafios, no que tange ao atendimento de direitos de mulheres trabalhadoras no Brasil contemporâneo, a aspectos psicossociais da mobilização por direitos (isso decorre da crença - que particularmente considero reducionista - de que movimentos sociais só ocorrem fora dos ambientes de trabalho, nas ruas). Faz-se mister distinguir e comparar as condições laborais de grupos diferentes de mulheres, sem "pasteurizá-las" como se fossem parte de um grupo identitário unitário, desconsiderando sua pluralidade.
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terça-feira, 21 de maio de 2013

Cotas Abrem Portas

A recente publicação do meu artigo "O Desafio da Convivência: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008)", e os dez anos de implementação do sistema de cotas para negros na Universidade de Brasília, que deverão ser avaliados por uma comissão agora em 2013, renovaram-me lembranças dos intensos debates sobre ações afirmativas voltadas para as relações étnicas e raciais que ocorriam na época; colocações em torno da natureza, função e resultados da implementação de cotas raciais muitas vezes desinformadas, por vezes preconceituosas e, quase sempre, apaixonadas, independentemente do posicionamento do/a interlocutor/a.
A ideia de substituir o sistema de cotas para negros por cotas estritamente para pobres era comum, e ao meu ver demonstrava aquilo que denominamos de "cegueira colorida", isto é, desejava-se evitar o racismo negando que existem diferenciações sociais entre as pessoas devido a sua aparência/características anatômicas e a sua cor de pele. Um tipo de sistema não exclui o outro, de modo que a questão só faria sentido em um contexto no qual, objetivamente, não se desejasse ver negros incluídos.
Era corrente o argumento prosaico de que "o governo quer desunir o que está unido e importa um problema que não é nosso, que é o problema da segregação racial". Ora, não ver que há racismo e segregação racial no Brasil é parte desse processo muitas vezes inconsciente da cegueira colorida (que tecnicamente podemos considerar como uma expressão de "colusão", que, sinteticamente, é praticar discriminar sem "intenção", sem perceber que se está vilipendiando uma outra pessoa ou um grupo), pois há racismo neste país e ele é um problema que deve ser reconhecido para ser enfrentado.
É notável hoje que parte considerável da população brasileira, mesmo tendo pouca informação acerca das filigranas e dos meandros das políticas de ações afirmativas para as pessoas negras, entende que elas têm por objetivo remediar situações estruturais desvantajosas a um grupo social, ainda que impliquem tratamento temporariamente favorável a esse mesmo grupo. Ela percebe a necessidade de atender a uma demanda ética decorrente da pouca presença de negras e negros em nossas universidades, em todos os níveis: dos estudantes, passando pelos técnicos e chegando aos professores.
Nos Estados Unidos o modelo, que não se restringiu ao espaço acadêmico, mas também abrangeu o mercado de trabalho, funcionou bem, possibilitando a formação de uma classe média negra, de uma elite negra que não ainda existe no Brasil (estou falando de contingentes, e não de indivíduos e grupos isolados). Não à toa lá haja o background que possibilitou a candidatura de um presidenciável negro.
Afirmar que as cotas gerariam mais ódio racial era de praxe, ignorando-se os fatos históricos e sociais e se esquecendo que o racismo já existia antes de políticas que o combatessem. Entendo que, em termos psicossociais, o objetivo de quaisquer ações afirmativas é o de formar uma massa crítica que se inserirá nos espaços de poder, empoderá-la, para fortalecer o trabalho de transformação das demandas sociais que, obviamente, não conseguirão ser totalmente abrangidas pelas cotas raciais. Políticas afirmativas, quaisquer que sejam, não excluem a necessidade do desenvolvimento de educação pública de qualidade, são ambos projetos fundamentais para a inclusão da população negra brasileira, mas atendem a questões específicas, e não devem ser considerados antônimos.
Cotas por classe social são importantes sim, mas sem que se negue a dimensão racial da pobreza e da exclusão no Brasil, identificada por institutos sérios como o IBGE e o IPEA. Preconceito contra os negros não é existir cota racial, preconceito contra os negros são as barreiras impostas neste país para sua ascensão, para um mínimo de reparação aos três séculos em que a população negra foi explorada como mão-de-obra escrava, e depois excluída do acesso aos recursos culturais e econômicos que ela mesma construiu.
Daí também a dimensão perversa do embranquecimento no Brasil, onde negros de diferentes matizes são estimulados pelo racismo institucional a desprezarem sua aparência, onde pessoas negras, em toda sua diversidade interna, não se vêem representadas nos meios de comunicação visual de massa, senão como estereótipos de sua pluralidade.
O racismo no Brasil se dá pela aparência, por isso não faz o menor sentido falar de herança genética - outro tópico corriqueiro há 10 anos - quando pessoas negras são discriminadas por empregadores ou mortas sem que se precise fazer qualquer tipo de exame de DNA. Na vida cotidiana, socialmente construída, o olhar do outro também constrói a identidade racial, de modo que não basta "se achar" negro, branco ou seja lá de que cor, meramente em função de ancestralidade.
Concluindo, reafirmo algumas das palavras de Martin Luther King que servem plenamente para essa discussão: "é óbvio que, se um homem chega com 300 anos de atraso ao ponto de largada de uma corrida, terá que fazer um tremendo esforço para alcançar o outro corredor", e "uma sociedade que fez coisas especiais contra o negro durante centenas de anos agora precisa fazer alguma coisa especial por ele, equipando-o para competir numa base justa e igual".
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segunda-feira, 20 de maio de 2013

O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008)

Acaba de ser publicado pela Revista Psicologia: Ciência e Profissão, do Conselho Federal de Psicologia, o artigo "O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008)", de minha autoria, no qual analiso, sob o foco da gestão da diversidade, a minha experiência como assessora de diversidade e apoio aos cotistas e coordenadora do Centro de Convivência Negra - CCN da Universidade de Brasília - UnB entre os anos de 2004 e 2008.
O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008) encontra-se disponível pelos links http://www.scielo.br/pdf/pcp/v33n1/v33n1a17.pdf e http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932013000100017.
Abaixo seguem o resumo, o abstract e o resumen do artigo:
O DESAFIO DA CONVIVÊNCIA: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008)
THE CHALLENGE OF CONVIVIALITY: Advisory For diversity and support to quota holders (2004-2008)
EL DESAFÍO DE LA CONVIVENCIA: Asesoría de diversidad y apoyo a los cotizantes (2004-2008)
Jaqueline Gomes de Jesus Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela UnB, Brasília, DF - Brasil.
Resumo
Em 2003, a Universidade de Brasília adotou uma política de ações afirmativas para pessoas negras, o Sistema de Cotas para Negros. Em 2004, foi criada a Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas – ADAC. Ante à demanda do movimento social por uma sala de apoio aos estudantes, desenvolveu-se o Centro de Convivência Negra – CCN, espaço aberto a toda a comunidade acadêmica. O presente artigo apresenta a experiência da ADAC até 2008 e analisa os desafios da convivência entre estudantes cotistas e o espaço acadêmico a partir de pesquisa qualitativa sobre percepções, sentimentos e expectativas acerca do CCN, na forma de questionários com uma pergunta de evocação ao CCN, aplicados a 35 estudantes universitários oriundos do Sistema de Cotas para Negros frequentadores do CCN. Os dados de evocação foram analisados utilizando-se o software Evoc. Os resultados indicam que o CCN, no período analisado, era reconhecido por seus usuários como um espaço de acolhimento ante a uma organização acadêmica heterogênea, marcada por preconceitos. São discutidas as limitações e as possibilidades de intervenção a partir do uso do CCN, e uma agenda propositiva para a ADAC, com foco na gestão da diversidade.
Palavras-chave: Relações étnicas e raciais, Identidade social, Racismo, Inclusão social.
Abstract
In 2003, the University of Brasília adopted a policy of affirmative action for black people, the System of Quotas for Blacks. In 2004 the Advisory for Diversity and Support to Quota Holders was created. Faced with the demands of the social movement for a support room for students, the Black Conviviality Center was developed, a space opened to the entire academic community. This article presents the experience of the Advisory to 2008 and analyzes the challenges of conviviality between quota students and academic space, through a qualitative research on perceptions, feelings and expectations about the Center, in the form of questionnaires which contained an evocation question to the Center, applied to 35 college students from the System of Quotas for Blacks who attended the Center. The evocation data were analyzed using the software Evoc. The results indicate that the Center, in the analyzed period, was recognized by its users as a welcoming space, compared to a heterogeneous academic organization, marked by prejudices. The limitations and possibilities of interventions for the use of CCN are discussed, and an agenda for the Advisory is proposed, with a focus on diversity management.
Keywords: Racial and ethnic relations, Social identity, Racism, Social inclusion.
Resumen
En 2003, la Universidad de Brasilia adoptó una política de acciones afirmativas para personas negras, el Sistema de Cotas para Negros. En 2004, fue creada la Asesoría de Diversidad y Apoyo a los Cotizantes – ADAC. Ante la demanda del movimiento social por una sala de apoyo a los estudiantes, se desarrolló el Centro de Convivencia Negra – CCN, espacio abierto a toda la comunidad académica. El presente artículo presenta la experiencia de la ADAC hasta 2008 y analiza los desafíos de la convivencia entre estudiantes cotizantes y el espacio académico a partir de una investigación cualitativa sobre percepciones, sentimientos y expectativas acerca del CCN, en la forma de cuestionarios con una pregunta de evocación al CCN, aplicados a 35 estudiantes universitarios oriundos del Sistema de Cotas para Negros asistentes al CCN. Los datos de evocación fueron analizados utilizando el software Evoc. Los resultados indican que el CCN, en el período analizado, era reconocido por sus usuarios como un espacio de abrigo ante a una organización académica heterogénea, marcada por prejuicios. Son discutidas las limitaciones y las posibilidades de intervención desde el uso del CCN, y una agenda de propuestas para la ADAC, con foco en la gestión de la diversidad.
Palabras clave: Relaciones étnicas y raciales, Identidad social, Racismo, Inclusión social.
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domingo, 19 de maio de 2013

Wole Soyinka, sobre os Dramas da Existência

"O tigre não alardeia sua tigretude, ele simplesmente ataca", Wole Soyinka.
Akinwande Oluwole "Wole" Soyinka, escritor, dramaturgo e poeta, nasceu na Nigéria em 1934, e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1986: http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1986/soyinka.html.
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sábado, 18 de maio de 2013

Quem é a Diversidade?

Foto que tirei em uma quadra comercial de Brasília.
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QUEM É A DIVERSIDADE?*
Jaqueline Gomes de Jesus, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília - UnB, professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN, pesquisadora da Rede de Antropologia Dos e Desde os Corpos e membro da Associação Brasileira de Psicologia Social - ABRAPSO e da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros - ABPN.
*Adaptação de discurso que fiz no Memorial dos Povos indígenas, em Brasília, no dia 8 de agosto de 2007, como convidada do evento "Diálogo Indígena: Os Direitos Humanos e a Afirmação da Identidade Inter-Étnica".
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A diversidade existe, ponto. Existia e não existia antes de as pessoas verem diferenças, mas depois de se ver diferenças é que ela passou a ser vista.
Cada pessoa tem uma visão diferente para o mundo perfeito. Um mundo perfeito não existe fora da concepção de quem o imagina, até porque as visões do que quer que seja "perfeição" têm tal disparidade que se poderiam criar vários mundos perfeitos, e não apenas um, e cada um desses mundos poderia ser um inferno para outros. Em um mundo como o nosso, a "perfeição", relativizada, tem necessariamente que ser diversificada, múltipla e formada pela fragmentação que chamamos de "realidade".
Quanto mais as sociedades se interpenetram na conjuntura da globalização, mais se pluralizam as diferenças individuais e grupais, ou, no mínimo, as diferenças já existentes se tornam evidentes, quando anteriormente não o eram. Nesse contexto, fortalecer as parcerias entre as pessoas resulta favorável à evolução de quaisquer sociedades.
O termo "Diversidade", da forma que o utilizamos atualmente, significa, desde um antigo Dicionário Aurélio (Ferreira, 1975), diferença, dessemelhança, dissimilitude, divergência, contradição, oposição. A palavra “Diversidade” não pode se restringir à listagem de seus sinônimos, porque engloba conceitos antônimos, situações específicas e pessoas concretas.
A Diversidade e a adversidade são palavras de sons semelhantes, cujos sentidos soam parecidos a uma parte considerável das pessoas. Diante do absurdo cotidiano, das queixas quanto ao isolamento na vida moderna, confunde-se Diversidade com um embaralhado de belicosas diferenças, e não é incomum serem geradas as ideologias da uniformidade, que promovem, em seus adeptos, a crença de que outros grupos são inferiores por natureza. Toda produtiva Diversidade é desprezada, em prol de uma reprodutiva igualdade que só produza iguais ideias.
O maior desafio de quem lida com preconceitos é ser capaz de propiciar o reconhecimento, o respeito e, preferencialmente, a valorização das diferenças, que passam a ser entendidas e pensadas além dos estereótipos cotidianos sobre o "outro", os quais tendem a limitar as possibilidades desses outros discriminados na sociedade. Concepções e vivências que levam a ideologias discriminadoras são concepções falaciosas e vivências imaturas.
O conceito de Diversidade é umbilicalmente ligado ao seu objeto real, e é um paradoxo: o paradoxo fundamental da Diversidade Humana é que somos todos iguais, porém diferentes e únicos, conforme ensinou o psicólogo social Gordon Allport (1954).
O mundo é criado pelos seres humanos, que nele são criados: se o mundo fosse diferente dos seres humanos que nele se movimentam, ele necessariamente teria de ser uniforme, e qualquer característica que o mundo impusesse às pessoas seria facilmente explicada; isso, entretanto, não acontece.
A sociedade não ocupa um espaço definido por coordenadas precisas: a bem da verdade, sequer existe em um espaço, propriamente dito, fora das pessoas; a sociedade existe nos sujeitos que a pensam, sentem-na, produzem-na e a reproduzem. É mera ilusão ou tradicional superstição crer que, por exemplo, um estado tenha de fato fronteiras físicas; essas fronteiras existem sim, mas na mente das pessoas, que as representam, materialmente, por meio da construção de placas, cercas, muros, pela escrita ou por quaisquer outros recursos gráficos disponíveis.
Por isso é que a Diversidade só existe como ideia resultante da perspectiva do observador: a Diversidade é o resultado da reflexão extremamente pessoal que os homens fazem das formas idealizadas da sociedade: o outro é diferente de mim enquanto o vejo como tal e até quando ele se perceba de tal forma, o que normalmente só ocorre quando ele entra em contato com membros de outros grupos, que o identifiquem como um outro.
A individualidade não é absoluta, mas adaptável à conjuntura composta pelas demais individualidades. Não há jamais duas pessoas com o mesmo grau de consciência, mas graus semelhantes de concordância no que se refere a certos debates. Essa afirmação concebe a Diversidade como um agregado de características sempre interativo que tanto pode ser harmônico quanto dissonante, é como Música: a "harmonia" seria representada pela convivência equilibrada com a Diversidade, pautada por atitudes de respeito e valorização das diferenças; a "dissonância" seria representada pela discriminação e pelo preconceito.
Tudo o que falei até agora foram ideias, agora, vamos ao Brasil.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, dentre os objetivos fundamentais da República consta, no capítulo dos direitos e deveres individuais e coletivos: "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" (Brasil, 1988; p. 3) , sendo que "a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais" (p. 8).
A proposta constitucional de "promover o bem de todos" e de punir "qualquer discriminação" ainda não foi plenamente aplicada em território nacional, tornou-se um mito que instiga as pessoas preocupadas com a realidade a prosseguir lutando até concretizar seus ideais de igualdade de oportunidades para todos, e esse tipo de igualdade só pode ser alcançado por meio de uma isonomia verdadeira entre as classes historicamente desprivilegiadas e as privilegiadas, a qual não pode ser alcançada simplesmente por políticas universalistas de apoio, mas por ações efetivas ou afirmativas de incentivo à melhoria das condições dos desfavorecidos, dada a exclusão que diferencia a humanidade, sem uni-la no que têm de comum: essa mesma humanidade.
Relatarei uma cena vista em qualquer cidade do Brasil, foi vista em Brasília, e contada pelo senador Cristovam Buarque (1999) em seu livro O que é Apartação: dois jovens, em um carro, divertiam-se despejando batatas fritas, compradas em uma lanchonete fast food multinacional, no chão, para meninos de rua que as catavam, rastejando indignamente, a fim de comerem aquele alimento rejeitado pelos mais ricos.
O ato daqueles jovens abastados demonstra o severo grau de distanciamento entre uns e outros no Brasil, ricos e pobres, brancos e negros ou indígenas, afastamento não apenas físico, mas brutalmente humano e econômico, distanciamento comparado outrora com o da Bélgica para com a Índia, só que dentro do mesmo território nacional. A sustentação de uma sociedade como essa não garante o futuro, mas a perpetuação do passado, fantasiado de progresso.
Um passado construído em colônia, com guerras e genocídios contra os indígenas, com escravidão contra os negros, com censura para os que trazem outros discursos. Traumas não tratados de uma cultura. Quem inventou isso tudo neste Brasil foram os dominadores, os dirigentes (todos os artigos propriamente no masculino); os indígenas e negros não estavam entre esses, na verdade sofriam por causa deles.
O nosso subdesenvolvimento ou desenvolvimento recente, como queiram, não é apenas econômico, é ético, e essa ética precária se relaciona com as disparidades sociais que permitem a alguns cidadãos desperdiçar fartamente os recursos de que dispõem, enquanto a outros falta tudo.
A negação de valor à Diversidade das pessoas, especialmente aos marginalizados, por meio de seu silenciamento ou da incapacidade de escutar suas demandas, inviabiliza o desenvolvimento integral da sociedade que os discrimina, diminui e amesquinha a riqueza de toda a nação, seja econômica ou cultural.
Como escreveu o professor Helio Santos (2003), a desigualdade social no Brasil se explica e se perpetua por meio da desigualdade etnicorracial, a qual se orienta por tecnologias da exclusão. Em outras palavras, o Brasil nunca será o país do futuro enquanto continuar deixando o futuro passar em branco para negros e indígenas.
A superação das disparidades é difícil em uma sociedade cujas elites tentam a todo custo manter privilégios, rechaçando os excluídos de qualquer chance de mudança de sua realidade, principalmente quando se criam obstáculos para o acesso dos excluídos a todos os níveis de educação, mas principalmente ao ensino superior, o que redunda na baixa escolaridade e, por fim, em um desemprego insuperável.
No Brasil, educação foi pensada, ao longo de séculos, como uma questão mais de status do que de desenvolvimento. Por isso é que ações afirmativas na educação, como as cotas para negros ou o vestibular diferenciado para indígenas, para além de serem atos de justiça social e elementos impulsionadores do desenvolvimento, mostram que o limitado conceito de mérito que tínhamos/temos, que desconsiderava conjunturas sócio-educacionais e particularidades nas trilhas de aprendizagem, era/é falso, racista, filho do genocídio e do eurocentrismo.
Na cultura brasileira, a/o cidadã/o negra/o ou indígena é interpretada/o na categoria fixa construída pela sociedade racista e eurocêntrica. Em função da gradação da cor da pele e de características anatômicas, a pessoa é socialmente invisibilizada: o que se vê não é a/o cidadã/o negra/o ou indígena, mas a sua negativa, a não cidadania. O que se vê não é a humanidade de Lélia Gonzales/Zumbi ou de Eliane Potiguara/Uirá, mas aquela/e que deve ser depreciada/o ou morta/o.
Não espanta o fato de tantos brasileiros se comportarem cinicamente no que concerne à questão do racismo, intitulando-se "democratas raciais", enquanto o preconceito e a discriminação contra a população negra e indígena transbordam. O dito popular "só cego não vê" representa com propriedade a percepção do racismo pela classe dirigente: nega-se que exista, apesar dos indícios.
A imagem da pessoa negra ou indígena foi construída sobre estereótipos que variam, de sentimentos desagradáveis associados à "feiúra", até o grotesco, essa imagem transparece desde os livros didáticos, passando pelos jornais e revistas e despontando nos programas televisivos, quando raramente há pessoas não-brancas. A sociedade a criou, e trabalha continuamente para confirmá-la, por meio de sua reprodução nos meios de comunicação de massa.
É outra a imagem que queremos construir hoje, a partir do projeto de uma democracia real, não apenas imaginada. Queremos uma imagem que valorize a herança cultural e estética de nossa ancestralidade, que testemunhe o combate secular às injustiças que impedem a realização do sistema democrático na República Federativa do Brasil, luta que tem como alguns de seus muitos exemplos a chamada Guerra dos Bárbaros, de indígenas contra os invasores europeus, e o Quilombo dos Palmares.
Em mais este momento histórico em que o Brasil anseia se conhecer e (re)construir identidades brasileiras, nada mais adequado do que dialogarmos sobre negros e indígenas com/entre negros e indígenas. Afirmar nossa identidade brasileira, valorizando de fato e com igualdade a sua diversidade, poderá nos transformar no que ainda não somos, mas algo certamente muito melhor do que tudo isso que é aplaudido e premiado por aí em rede nacional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Allport, G. W. (1954). The nature of prejudice. Reading: Addison-Wesley.
Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico.
Buarque, C. (1999). O que é apartação. O apartheid social no Brasil. São Paulo: Brasiliense.
Ferreira, A. B. H. (1975). Novo dicionário da língua portuguesa. Nova Fronteira: Rio de Janeiro.
Santos, H. (2003). A busca de um caminho para o Brasil. A trilha do círculo vicioso. São Paulo: Senac.
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sexta-feira, 17 de maio de 2013

Como Pensar o Gênero Aquém do Sexo?

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COMO PENSAR O GÊNERO AQUÉM DO SEXO? Desafios para a Superação do Paradigma Dimorfista
Grupo de Trabalho do Seminário Internacional Desfazendo Gênero: subjetividade, cidadania e transfeminismo (14 a 16 de agosto de 2013, em Natal/RN, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte), maiores informações em http://www.nucleotiresias.ufrn.br.
Coordenadores: Jaqueline Gomes de Jesus (Universidade de Brasília - UnB) e Marcos de Jesus Oliveira (Instituto de Pesquisa e Educação em Direitos Humanos - IPEDH).
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Ementa:
O conceito de "gênero", multifuncional e transdisciplinar, ainda tem sido utilizado com tibieza nos Estudos de Gênero brasileiros, geralmente sendo tratado como sinônimo de sexo (biológico), e aplicado a estudos que se restringem à tese clássica da diferenciação sexual. Desse modo, têm sido produzidos saberes sobre gênero aquém de suas possibilidades, restritos ao paradigma do binarismo ou dimorfismo sexual, desconsiderando a performatividade e possibilidades do conceito de gênero. Concomitantemente, aumenta o impacto de teorias feministas, no ambiente acadêmico e nos movimentos sociais, que criticam os modelos tradicionais epistemológicos, ontológicos e de investigação sobre gênero. O Grupo de Trabalho "COMO PENSAR O GÊNERO AQUÉM DO SEXO? Desafios para a Superação do Paradigma Dimorfista" tem como objetivo abrir espaço para novas visões sobre gênero, oriundas de diferentes campos do conhecimento, dissidentes a noções superficiais acerca dos processos identitários, sociais e culturais estruturantes de identidades sexuais/de gênero.
Justificativa:
Embora a noção de gênero tenha sido, tradicionalmente, tratada a partir de arcabouços teórico-conceituais nos quais se pressupunha o sexo como anterior à cultura, há, na contemporaneidade, uma série de pensadores dos mais diversos campos disciplinares e epistemológicos engajados em desafiar tal concepção. A tendência pode ser apontada como um indicativo de que está se processando uma transformação significativa no âmbito das humanidades e das ciências em geral. As dualidades que compõem o quadro constitutivo do pensamento moderno (natureza versus cultura, sexo versus gênero, sujeito versus objeto etc.) são revisitadas com o intuito de refletir, em nível meta-teórico, sobre outras formas de viver e vivenciar o gênero, o corpo e a sexualidade. O grupo de trabalho “Como pensar o gênero aquém do sexo: desafios para a superação do paradigma dimorfista” se alinha, portanto, ao esforço intelectual e político das últimas décadas no sentido de inventar e de explorar experimentos político-conceituais em cujo interior esteja o interesse em expandir o campo das possibilidades das vidas gendradas.
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Período para inscrição de resumos para os GTs do Desfazendo Gênero: 22 de maio a 30 de junho (orientações pelo link http://nucleotiresias.ufrn.br/sidg/index.php/sidg2013/sidg2013).
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sábado, 11 de maio de 2013

NOTAS SOBRE A DOMINÂNCIA SOCIAL - A Pedagogia do Oprimido: Como o Mundo é Impossibilitado

NOTAS SOBRE A DOMINÂNCIA SOCIAL - A Pedagogia do Oprimido: Como o Mundo é Impossibilitado
Jaqueline Gomes de Jesus
Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília - UnB e professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN
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O MUNDO NÃO É,
O MUNDO ESTÁ SENDO...
E PODEMOS FAZÊ-LO MELHOR.
Paulo Freire.
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I
A categoria "mundo" consta do vocabulário freireano: o mundo, em Paulo Freire, é basicamente a mediação entre os sujeitos (indivíduos participantes) na relação de reconhecimento mútuo. Pode-se deduzir que há, portanto, vários mundos, pois há vários tipos de relações individuais.
Uma licença discursiva - quase poética - permite entender que Paulo Freire aponta para a Teoria das Relações Intergrupais, mesmo que despropositadamente, pois os "sujeitos" aos quais ele se refere são, fundamentalmente, (1) o/a oprimido/a e (2) o/a opressor/a. Em suma, podem ser entendidos como grupos, e como recorda Devine (1995), "membros do grupo externo são percebidos como mais homogêneos em suas características, opiniões e comportamentos do que os membros do grupo interno" (p. 474). Torna-se viável a afirmação de que, enquanto existe a relação intergrupal entre oprimidos e opressores, ela é estereotipada e, portanto, impede a realização do mundo como mediação.
Segundo Taylor e Moghaddan (1994), a Teoria da Identidade Social, desde Tajfel, "tenta explicar relações entre grupos de uma perspectiva grupal" (p. 61). A teoria apoia a ideia de que os indivíduos são motivados a desenvolver uma identidade social positiva, produzida a partir do autoconceito, quando reconhecido no interior de um grupo social. O sentimento de "pertença" associado ao autoconceito possibilita a formação das comparações sociais intergrupais e extragrupais apontadas por Devine.
No entanto, apesar de se terem indicado razões para a existência da relação oprimido/opressor, não se explicou ainda o porquê de sua permanência. A teoria da dominância social traz algumas propostas no sentido de esclarecer essa questão.
II
A Teoria da Dominância Social, esclarecem Pratto, Liu, Levin, Sidanius, Shih, Bachrach e Hegarty (2000), associa algumas perspectivas teóricas e descobertas empíricas, tais como a da Personalidade Autoritária (Adorno, Frenkel-Brunswik, Levinson & Sanford, 1950), os estudos psicológicos do conservadorismo (McClosky, 1958; Wilson, 1973 ), a Teoria Política Bivalorativa de Rokeach (1973) e alguns modelos de conflito grupal (Blumer, 1960; Campbell, 1965; Marx & Engels, 1846/1970), para "explicar como sociedades perpetuam a dominância grupal" (p. 371), e afirmar que "diferentes pessoas têm diferentes orientações psicológicas com relação à dominância grupal (...), pessoas que mais apoiam a dominância grupal estão mais aptas a obter papéis sociais e posições políticas que as permitam aperfeiçoar ou manter a hierarquia social" (p. 371). A Teoria da Dominância Social parte de um nível de análise individual no contexto social, diferentemente da Teoria da Identidade Social.
Nessa perspectiva, reitera-se a noção de que a relação desigual entre oprimido/opressor é reforçada pelos fatores sócio-políticos que premiam os opressores, permitindo-lhes benesses, como acesso aos bens culturais e econômicos. Esse reforço impulsiona a opressão, tendo em vista que incentiva a alienação do opressor frente à situação subalternizada do oprimido: o opressor também é oprimido, no contexto da relação interpessoal/grupal, porque se encontra na mesma relação de opressão do oprimido, mas não percebe pois, ao contrário daquele, é reforçado positivamente. A satisfação de uns, em detrimento de outros, de modo algum neutraliza a precariedade da relação.
Isso significa que, de fato, a naturalização da relação oprimido/opressor deve ser combatida pelo reconhecimento mútuo da precariedade de tal relação, por meio da educação do opressor pelo oprimido, para que lhe mostre a impossibilidade de sua realização plena como sujeitos enquanto ambos não se tratarem como iguais em direitos, em uma relação equânime que possibilite a realização do mundo como construção conjunta.
III
Em uma perspectiva transcultural de compreensão das relações intergrupais, é a dominância social que impossibilita a realização do mundo, por meio da justificação da desigualdade, como suscitam Pratto e cols. (2000), como legitimação recorrente dessa desigualdade por meio dos privilégios rendidos aos opressores, os quais, em sua situação de grupo majoritário, propagam a ideologia da superioridade, e são percebidos como superiores, em razão do estrato social em que são postos: o mundo só é possibilitado de existir em uma relação grupal em que haja um reconhecimento da falácia da dominância social, e na qual se busque a superação dialética desse abismo que divide os grupos.
Só existe relação no mundo, dado que só há relação na mediação.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Adorno, T. W., Frenkel-Brunswik, E., Levinson, D. J., & Sanford, R. N. (1950). The authoritarian personality. New York: Norton.
Blumer, H. (1960). Race prejudice as a sense of group position. Pacific Sociological Review, 1, 3-5.
Campbell, D. T. (1965). Ethnocentrism and other altruistic motives. In D. Levine (Ed.), Nebraska symposium on motivation (pp. 283-311). Lincoln: University of Nebraska Press.
Devine, P. G. (1995). Prejudice and out-group perception. Em A. Tesser (Ed.), Advanced social psychology (pp. 467-524). New York: McGraw-Hill.
Marx, K., & Engels, F. (1846:1970). The german ideology. New York: International Publishers.
McClosky, H. (1958). Conservatism and personality. American Political Science Review, 52, 27-45.
Pratto, F., Liu, J. H., Levin, S., Sidanius, J., Shih, M., Bachrach, H. & Hegarty, P. (2000). Social dominance orientation and the legitimization of inequality across cultures. Journal of Cross-Cultural Psychology, 31, 369-409.
Rokeach, M. (1973). The nature of human values. New York: Free Press.
Taylor, D. M. & Moghaddam, F. M. (1994). Theories of intergroup relations: international social psychological perspectives. USA: Praeger Publishers.
Wilson, G. D. (1973). The psychology of conservatism. New York: Academic Press.
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sexta-feira, 10 de maio de 2013

Mulheres Negras na Primeira Pessoa

MULHERES NEGRAS NA PRIMEIRA PESSOA
Organizado por Jurema Werneck, Nilza Iraci e Simone Cruz.
Publicado pela Redes Editora, uma realização da AMNB – Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, com apoio da Fundação Ford.
Leia um trecho:
"Este livro poderia ser uma compilação de más notícias. Afinal, ser mulher, negra, indígena, lésbica, pobre, migrante, é viver de diferentes modos as assimetrias de gênero e raça que caracterizam a sociedade organizada sob as regras do racismo patriarcal. Em sociedades deste tipo, exatamente como a nossa, mulheres negras, em especial, são expostas a situações de grave subordinação e discriminação, que se traduzem em pobreza, violências e vulnerabilidades, sendo empurradas para as camadas inferiores, na base da pirâmide social. (...) ...somos nós, mulheres negras, as principais responsáveis pela subsistência das famílias e comunidades onde vivemos, e pelo cuidado daqueles que necessitam e são desamparados pelas políticas públicas. Isto, apesar das altas taxas de desemprego, precarização e superexploração vividas em nossa inserção no mercado de trabalho. Desse modo, arcamos com os custos mais altos das injustiças sociais brasileiras. (...) Este livro apresenta mulheres reais. Esperamos que você, seja quem for, aprecie a leitura. As organizadoras".
Clique na imagem abaixo para ler a saudação à obra da filósofa, feminista negra, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro:
O texto está disponível em versão digital. Acesse http://www.amnb.org.br/admin/biblioteca/Mulheres%20Negras%20na%20primeira%20Pessoa%20site.pdf.
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domingo, 5 de maio de 2013

SOMAR E CUIDAR!

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COLEGA PSI DF,
Aos que andam insatisfeitos com distintas situações onde a psicologia parece que está sendo sempre pautada e pautando quase nada e/ou nada como ciência e profissão aqui no DF, informo que organizamos um coletivo para discussão de ações e intervenção no cenário local.
Estamos cansados com o marasmo institucional que tem representado a psicologia no DF. Não há grupo organizado aqui em Brasília da Psicologia para lutar por pautas importantes tanto para a psicologia, como a sociedade em geral. Nada de articulação, nada de mobilização.
Há psicólogas e psicólogos comprometidos aqui no DF que acabam protagonizando isoladamente ou buscando outros coletivos desvinculados da profissão por não encontrarem aqui instância da psicologia que possa reverberar e dar voz para seus ativismos, suas inquietações com a atuação da ciência e profissão.
Temos realizado vários encontros com a categoria há algum tempo, pois nossa proposta sempre foi SOMAR com psicólogas e psicólogos, para CUIDAR da Profissão. Não há projeto ético-político que prospere se não for na construção com o coletivo imediatamente atingido por ele.
Em breve todas e todos serão convidados para conhecer e participar, de maneira mais sistemática e interativa, da formulação de pautas, propostas e ações advindas desse processo,
Ainda não dispomos de máquina institucional para garantir a infraestrutura necessária e que gostaríamos para encontros presenciais de maior porte com a categoria.
Mas isso pode e VAI MUDAR!!!
Se quiser se juntar a nós, venha!!!
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Conheça os componentes da Chapa 12 - PSI DF: VEM SOMAR! VEM CUIDAR!
- Cynthia Rejanne Corrêa Araújo Ciarallo
- Sueli Francisca Vieira
- Ingrid Pereira Quintão
- Marco Andrey Teixeira Hermógenes
- Tatiana Lionço
- Luiza Maria Rocha Pereira
- Carolina Maria Fernandes
- Márcia Maria da Silva
- Edmar Carrusca de Oliveira
- Jaqueline Gomes de Jesus
- Cíntia Gomes de Sá
- Wagner Gonçalves Saltorato
- Clara de Noronha de Martins Pereira
- Júlia Chamusca Chagas
- Paulo Sérgio de Andrade Bareicha
- Daniela Gonlçaves de Macedo Santos
- Andréia Crispim Rodrigues
- Rosana T. Dório de Athaíde Bohrer
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Meeting of Researchers in Gender and Sexualities

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I inform to those enrolled in the XXXIV Interamerican Congress of Psychology - CIP 2013 (information about the event here) that have or intend to develop studies in the field of gender and sexuality, that I will coordinate, along with Tatiana Lionço, the Meeting of Researchers in Gender and Sexualities, a multilateral meeting for discussions on the subject, and planning fo further future actions, along with several researchers of the Americas, and possibly also from Europe and Africa. Check it out here.
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MEETING OF RESEARCHERS IN GENDER AND SEXUALITIES
July 15, 13:30 to 17:30, at the Universitary Center of Brasília - UniCeub.
Coordinators: Jaqueline Gomes de Jesus (University of Brasília - UnB) and Tatiana Lionço (UniCeub).
Room CONFIRMED: UniCeub, Bloco 3, Sala 3116.
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I recommend to the interested ones that contact me in advance, by the e-mail jaquebrasilia@gmail.com
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sábado, 4 de maio de 2013

Encuentro de Investigadoras/es en Género y Sexualidades

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Informo a los suscriptores en el XXXIV Congreso Interamericano de Psicología - CIP 2013 (información sobre el evento aquí) que investigan o tienem la intención de realizar estudios en el ámbito del género y la sexualidad, que coordenarei, junto con Tatiana Lionço, el Encuentro de Investigadores/as en Género y Sexualidades, un encuentro multilateral para discutir sobre el tema, y ​​la planificación de acciones en conjunto, con varios investigadores de las Américas, y posiblemente también de Europa y África. Aquí.
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ENCUENTRO DE INVESTIGADORAS/ES EN GÉNERO Y SEXUALIDADES
15 de julio, 13:30-17:30, en el Centro Universitario de Brasilia - UniCEUB.
Coordinadoras: Jaqueline Gomes de Jesus (UnB) y Tatiana Lionço (UniCeub).
Local CONFIRMADO: UniCEUB, Bloco 3, Sala 3116.
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Recomiendo a los interesados ponerse en contacto conmigo, con antelación, por el correo electrónico jaquebrasilia@gmail.com
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O Ofício dos Músicos - uma reflexão

Foto de estátua de Santa Cecília, padroeira dos músicos. Fonte: http://aminhavidaeparati.wordpress.com/2012/11/23/santa-cecilia-rogai-por-nos
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O OFÍCIO DOS MÚSICOS - Uma reflexão
Jaqueline Gomes de Jesus
Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília - UnB e professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal - UNIPLAN
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A profissão do músico é regulamentada no Brasil desde 1960, por meio da Lei 3.857/60. Na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, do Ministério do Trabalho e Emprego, o músico pode ser arranjador, interprete, regente, compositor ou musicólogo, configurando-se diversas famílias de ocupações. Neste texto se busca compreender tal ofício para além das atribuições legalmente estabelecidas, por meio de um olhar crítico da Psicologia Social e do Trabalho.
A forma como um trabalho é executado, segundo Borges e Yamamoto (2004), apresenta-se nas dimensões concreta (as condições materiais para realização do trabalho – instrumentos, ambiente), gerencial (como o trabalho é planejado, organizado e controlado – gestão), socioeconômica (a articulação entre a execução do trabalho e a conjuntura socioeconômica – ritmo de crescimento econômico, oferta de emprego), ideológica (o discurso justificador do trabalho, nas relações de poder – representação social do trabalho), simbólica (os aspectos subjetivos da relação do indivíduo com seu trabalho).
Então, ao pensar o ofício dos músicos, tem-se de ter implícitos os instrumentos de trabalho do músico (os instrumentos musicais, incluindo-se aqui a voz); seus ambientes variados de trabalho (festejos, bares, teatros, casas de espetáculo, estúdios et cetera); como esse trabalho é gerido pelo profissional; como o exercício de trabalho se relaciona às questões socioeconômicas, em especial as brasileiras; a percepção sobre a profissão por parte do profissional e o quanto ela se associa/dissocia da representação social da sociedade sobre a mesma; e, por fim, como cada músico, como profissional, relaciona-se com a sua profissão.
Além dessas dimensões estruturantes do trabalho, podemos pensar a questão do trabalho do músico colocando a questão da sua produtividade. O que produz o músico, como trabalhador? Música. Como classificar a produtividade desse trabalho? Pela quantidade? Pela qualidade? Por ambos?
Adam Smith (1994) e Karl Marx (1994) tratam a questão da produtividade diferenciando o trabalho improdutivo (que não agrega valor à matéria-prima) e o produtivo (que agrega valor à matéria-prima), nesse, o trabalhador produz mais-valia, e somente assim existe a possibilidade de se valorizar o capital — Produtividade, nesta análise, deve ser entendida puramente no sentido econômico, e não no artístico.
Há diferentes perspectivas acerca das atuações dos músicos: o profissional músico, quando compõe, manipula os elementos primordiais do som para produzir música e, no mercado de trabalho, utilizá-la — de modos variados — para ser remunerado, agregando valor, gerando mais-valia, garantindo, legalmente, direitos autorais. Seu trabalho é produtivo. Em termos de trabalho e capital essa condição não é diferente de quando ele interpreta uma composição pré-existente, reproduzindo-a integralmente, ou realizando uma interpretação original, pessoal, da composição, acrescentando elementos que possibilitem novas leituras da música.
Na presente leitura não se recai em uma concepção platônica de arte como cópia da cópia, recordando Platão (1994), a realidade observável como uma cópia da realidade ideal, havendo sempre um modelo original cujas cópias ou reproduções sempre seriam “inferiores”. Essa não é uma preocupação quando se pensa em trabalho.
Porém, conforme ensina Kothe (1981), a mímese não se restringe à imitação. A arte “cópia de cópias” influencia o comportamento das pessoas, é indissociável das questões políticas, de modo que a oposição entre o “mundo das idéias” e o “mundo sensível” é uma leitura platônica da dominação de classe: as condições materiais afetam a realidade, as ideologias reproduzem as condições estruturais da vida concreta. A arte não seria necessariamente cópia da realidade, mas, isso sim, cópia de alguma ideologia.
No que tange à música, Kandinski (1973, citado por Kothe, 1981) defendia uma música “verdadeira”, próxima do real, despreocupada em ser bela — a música dissonante de Schoenberg seria, então, uma música mais verdadeira que a de Mozart —, entretanto, Kothe alerta que a harmonia de Mozart nada tem a ver com sua época ou a de qualquer ser humano. A “salvação” da produção artística do destino de se tornar mera expressão de ideologias poderia ser a mímese como avesso da realidade, igual ao real pela não-identidade: abstrata, portanto mais concreta.
Aquém a estas discussões, a sociedade contemporânea é marcada pela naturalização da ideia (e da prática) de transformação do produto do ofício/trabalho em mercadoria, caracterizando-se pela necessidade de produzir em série, obviamente, para não apenas suprir as necessidades, carências e/ou anseios do público consumidor, mas para, objetivamente, aumentar o lucro do detentor do capital, o que não necessariamente se reverte para o bem-estar dos trabalhadores, geralmente aumenta apenas a parte que cabe ao capitalista.
Horkheimer e Adorno (1997) introduzem a arte contemporânea nessa realidade ao lembrarem que também seus produtos são industrializados para a reprodutibilidade em série, reproduzidos continuamente em Compact Disks ou DVDs, e agora, em discos Blue-Ray, perdendo a “aura/auréola” da execução pessoal que individualizava cada produto musical como “único”.
Podem-se ainda fazer algumas reflexões sobre o trabalho dos músicos abordando questões de gênero, mas elas mereceriam um artigo próprio.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Borges, L. O. & Yamamoto, O. H. (2004). O mundo do trabalho. Em J. C. Zanelli, J. E. Borges-Andrade & A. V. B. Bastos, Psicologia, organizações e trabalho no Brasil (pp. 24-62). Porto Alegre: Artmed.
Horkheimer, M. & Adorno, T. W. (1997). Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Kandinsky, W. (1973). De lo espiritual en el arte. Barcelona: Barral Editores. Citado em Kothe, F. R. (1981). Literatura e sistemas intersemióticos. São Paulo: Cortez.
Kothe, F. R. (1981). Literatura e sistemas intersemióticos. São Paulo: Cortez.
Marx, K. (1994). Capital. Em Great books of the western world, vol. 50. Chicago: Encyclopaedia Britannica.
Platão. (1994). The republic. Em Great books of the western world, vol. 7. Chicago: Encyclopaedia Britannica.
Smith, A. (1994). An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations. Em Great books of the western world, vol. 39. Chicago: Encyclopaedia Britannica.
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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Encontro de Pesquisadoras/es em Gênero e Sexualidades

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Informo às/aos inscritas/os no XXXIV Congresso Interamericano de Psicologia - CIP 2013 (informações sobre o evento aqui) que desenvolvem ou pretendem desenvolver estudos no campo de gênero e de sexualidades, que coordenarei, juntamente com Tatiana Lionço, o Encontro de Pesquisadoras/es em Gênero e Sexualidades, um encontro multilateral para discussões sobre a temática, e planejamento de ações em conjunto, juntamente com diversas/os pesquisadoras/es das Américas e, possivelmente, também da Europa e do continente africano. Confira aqui.
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ENCONTRO DE PESQUISADORAS/ES EM GÊNERO E SEXUALIDADES
Dia 15 de julho, das 13h30 às 17h30, no Centro Universitário de Brasília - UniCeub.
Coordenadoras: Jaqueline Gomes de Jesus (UnB) e Tatiana Lionço (UniCeub).
Local CONFIRMADO: Prédio do UniCeub, Bloco 3, sala 3116.
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Recomendo às/aos interessadas/os em participar que entrem em contato comigo, antecipadamente, por meio do e-mail jaquebrasilia@gmail.com
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