quarta-feira, 31 de julho de 2013

Minha História com a UnB

Minha história com a Universidade de Brasília – UnB começou antes do meu nascimento. Um amigo de minha mãe me contou há muitos anos que, grávida de mim, ela brigava nas aulas de Pedagogia com seus colegas que fumassem em sala. Até os meus 15 anos resistiu em nossa casa o cesto de vime no qual ela me levava, ainda bebê, em todas suas disciplinas, até se formar, depois ele virou revisteiro.
Vi coisas belas serem desfeitas e surgirem na UnB. Minha avó materna mora em frente ao campus, desde os primeiros anos de Brasília. A L3 Norte era uma pista de mão dupla (sem saída na altura do hoje Parque Olhos D`Água, na época ocupado por barracos), na qual eu me deitava com meus primos na noite de Natal, atiçando o perigo de carros que não passavam.
Eu me recordo de quando nós, as crianças, acompanhávamos nossos tios que se embrenhavam no cerrado de onde hoje surgem tantos prédios novos da UnB. Eles às vezes caçavam ali. Uma pena ver que não existem mais os tatus e tamanduás que viviam na UnB, e não sumiram por culpa dos meus tios. Não vejo mais nem mesmo as famílias de quatis antes comuns no entorno da Biblioteca Central.
Nesse tempo tínhamos uma cachoeira particular, que jorrava da antiga caixa d`água cercada de pés de jamelão, e uma lagoa só nossa, num canto pedregoso da Faculdade de Educação, ambos secos atualmente. Eu pedalava velozmente com minha prima Patrícia, descendo a ladeira cimentada que vai da ponta do Minhocão Norte à Reitoria, até o dia em que a coroa dianteira decepou um pedaço do seu calcanhar. Que agonia! Fico triste, até hoje, só de lembrar. Nunca mais nos arriscamos por ali.
Uma das minhas diversões era visitar meu pai de surpresa, toda suja de terra. Ele trabalhava no Centro de Processamento de Dados da UnB, um lugar extremamente limpo no subsolo do Minhocão Central, cinza e gelado, com enormes computadores em formato de freezer que engoliam sem parar cartões perfurados e rolos e mais rolos de folhas de papel picotadas, que não são mais fabricadas. Ele morria de vergonha, dizia que os seus colegas iriam pensar que ele não cuidava de mim. Eu era apenas avoada mesmo.
Posso afirmar que algumas das partes mais fascinantes da minha infância se passaram entre brincadeiras e investigações nos prédios e bosques da UnB. Depois, no fim da adolescência, passei no vestibular e virei aluna, experimentei a Química e me decidi pela Psicologia (são tantas as histórias da graduação que não cabem neste testemunho!), minha profissão atualmente.
A UnB foi minha primeira empregadora, eu soube do resultado do concurso no mesmo dia em que saiu o da minha seleção no Mestrado, na UnB também.
Neste instante, da janela do meu apartamento em um bloco da Colina Velha da UnB, penso em como esta instituição, apesar das críticas que dirijo a ela, faz parte do meu corpo e do meu espírito: formou minha falecida mãe; foi mantida com o trabalho do meu pai, agora aposentado; ofereceu-me tatus, tamanduás, barbatimão, jamelão, jambo, outras frutas e até desinfetante feito das folhas dos pés de eucalipto; formou-me e, hoje como doutora pela UnB, continua abrindo para mim possibilidades, novas perguntas, instiga que se busquem soluções para os seus muitos problemas; e de bônus me oferece e ao amor da minha vida uma bela vista do Lago Paranoá.
Muito obrigada por tanta aventura!

terça-feira, 30 de julho de 2013

A Vós Que Destroem Ídolos

Ofereço este clipe a vocês, humilhadas/os e ofendidas/os, pessoas fora dos padrões idealizados de ser humano deste século XXI tão conservador e reprimido: negras/os, indígenas, pobres, homo/bissexuais, nordestinas/os, pessoas trans, intersexuais, gordas/os, manifestantes, deficientes, profissionais do sexo, moradoras/es de comunidades carentes, injustiçadas/os, religiosos não-cristãos, ateus/ateias, vadias e putos!
A vocês que caminham destruindo ídolos: LIKE A PRAYER, MADONNA

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Onde Está Amarildo?

TUITAÇO HOJE, 24 DE JULHO, ÀS 15 HORAS: #OndeEstaAmarildo
Para saber quem é Amarildo, leia este artigo de Jorge Antonio Barros, d´O Globo (clique aqui para ler o original):
"Onde está Amarildo? Junte-se a nós em busca da resposta
Amarildo Dias de Souza, conhecido como Boi, de 47 anos, é nascido e criado na Rocinha, uma das maiores do país. Quando nasceu em 1966, a favela ainda não tinha a projeção de hoje e era o grande celeiro de mão-de-obra barata para residências da Zona Sul carioca. Já era refúgio de criminosos, que vendiam por lá sua maconha. Só duas décadas depois se tornaria um dos maiores entrepostos de drogas ilícitas da cidade, com a massificação da cocaína vinda da Colômbia.
Como morador de uma favela marcada por confrontos entre policiais e bandidos e entre estes e seus rivais, Amarildo escapou de quantas balas perdidas? Aos 17 anos teve uma passagem na polícia por furto. Mas a polícia confirma que ele é ou era trabalhador. Mesmo que não fosse. Ninguém tem o direito de matar ou desaparecer com alguém. De quantos tribunais do tráfico Amarildo escapou? De quantas batidas policiais Amarildo se livrou? Pois Amarildo não escapou da pacificação da Rocinha, que foi saudada inclusive por este blog. Deixei a redação e subi o morro para ver de perto a grande operação que teria libertado a Rocinha. Pelo jeito não libertou nada.
Além de ter ainda cem bocas-de-fumo, a Rocinha, há fortes indícios, não foi retomada dos grupos ilegalmente armados que a subjugavam. Há 25 anos, quando morei lá por uma semana, para fazer uma reportagem para o "Jornal do Brasil", havia o tráfico, os policiais a serviço da contravenção, os policiais matadores e os policiais do Destacamento de Policiamento Ostensivo (o irmão mais velho da pacificação), além dos políticos que tratavam os eleitores como gado. Antes mesmo de se tornar um dos maiores pontos de venda de drogas da cidade, a Rocinha sempre foi alvo da disputa de grupos armados. Sempre houve alguém querendo ser o dono do morro.
No meio desse fogo cruzado, Amarildo desapareceu em pleno regime democrático, numa época bem esquisita, em que jovens de classe média saqueiam lojas no bairro de classe média e pesquisadores de segurança pública são sequestrados e ameaçados por criticarem a PM. A última vez que Amarildo foi visto estava sendo conduzido por PMs no domingo à noite para a Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP da Rocinha, cujo responsável é o major Edson, um policial respeitado na comunidade. Apesar disso, os policiais da UPP deverão prestar contas de Amarildo. A polícia não pode convidar um cidadão para prestar esclarecimentos e depois lavar as mãos tranquilamente diante do sumiço dele. Alguém tem que pagar por isso.
Como trata-se de um morador pobre de uma favela do Rio, esse caso tem tudo para cair no esquecimento. Felizmente a onda de protestos mantém a comunidade mobilizada. E pelo que conheço dos moradores da Rocinha esse desaparecimento vai custar caro para os responsáveis por esse crime. É gente aguerrida que não vai se cansar de erguer a voz. Não adianta reclamar que eles fecham o trânsito porque infelizmente só há esse jeito de chamarem a atenção. Lamento apenas que nós moradores do asfalto não estejamos unidos com a Rocinha nessa luta. Mas ainda há tempo. Convido os leitores do blog a cobrar das autoridades e, mesmo pelas mídias sociais, a se manifestar com uma pergunta simples até que alguma autoridade responda:
Onde está Amarildo?
A campanha, idealizada pelo Rio de Paz, já está no nosso Twitter".

terça-feira, 23 de julho de 2013

Igualdade Racial no Brasil: Reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes

APRESENTAÇÃO
"É com grande satisfação que publicamos a coletânea Igualdade racial no Brasil: reflexões no Ano Internacional dos Afrodescendentes. Fruto de seminários e discussões realizados no Ciclo de Debates promovido pelo Ipea, no âmbito do Ano Internacional dos Afrodescendentes, este livro congrega artigos de pesquisadores, técnicos, gestores e militantes de diversas instituições. Essa ampla gama de autores e autoras possibilitou a reunião de temáticas variadas e de diferentes perspectivas sobre a questão racial, que deve tanto interessar àqueles que já têm uma trajetória em prol da promoção da igualdade racial, como suscitar, entre os que estão mais afastados desses debates, reflexões que os mobilizem, em seus respectivos campos de atuação, para a busca de uma sociedade mais justa".
Marcelo Côrtes Neri
Presidente do Ipea
Clique AQUI para acessar o livro gratuitamente.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

CARTA DE BRASÍLIA DE PESQUISADORAS/ES EM GÊNERO E SEXUALIDADES

XXXIV Congresso Interamericano de Psicologia – CIP 2013
No dia 15 de julho de 2013, como atividade pré XXXIV Congresso Interamericano de Psicologia, realizado em Brasília, Brasil, foi realizado um encontro multilateral de pesquisadoras, pesquisadores e estudantes de psicologia.
Como resultado dos debates realizados, nós, integrantes desse coletivo, posicionamo-nos favoráveis à apresentação desta Carta Aberta à sociedade brasileira, e particularmente à comunidade das/os psicólogas/os, por meio da qual consideramos que:
1. A comunidade acadêmica precisa se sensibilizar quanto à necessidade premente de inclusão do tema gênero e sexualidades nos currículos de graduação, por meio de disciplinas específicas.
Entendemos a discussão sobre gênero como estruturante dos modos de sociabilidade. As expressões de masculinidade e feminilidade, as vivências de gênero não-binárias ou não-biologicistas, assim como as práticas sexuais não-heterossexuais e as heterossexuais que não seguem a lógica matrimonial da procriação, são objetos de intensa opressão, marginalização e patologização, seja por meio de discursos científicos ou do senso comum.
A formação em Psicologia não inclui formalmente o conteúdo gênero e sexualidades nas grades curriculares, de modo que sua eventual abordagem depende da iniciativa do corpo docente no campo de atividades optativas de pesquisa, extensão e/ou estágio, para que estudantes venham a problematizar essas dimensões da subjetividade e da vida humana.
Faz-se urgente o reconhecimento da relevância da discussão sobre gênero e sexualidade na Psicologia, em especial mediante reiteração do compromisso de nossa ciência e profissão com a valorização da diversidade humana e a defesa da dignidade de todas as pessoas como direito fundamental e inalienável.
Nesse sentido deveria ser prontamente repudiada, pela comunidade de pesquisa, ensino e intervenção em psicologia, qualquer tendência à desqualificação moral de pesquisas que investiguem o aborto e sua descriminalização, a sexualidade na infância e adolescência, as homo/bissexualidades, as identidades e sociabilidades transgênero e as novas configurações familiares.
2. A sociedade precisa estar alerta sobre a atual agenda política de repressão dos direitos humanos e direitos sexuais e reprodutivos.
Atualmente, no Brasil, uma ofensiva fundamentalista de cunho religioso, concentrada no Poder Legislativo, tem sinalizado para retrocessos nas políticas públicas e para riscos de perdas significativas, especialmente no tocante aos direitos reprodutivos das mulheres e aos direitos coletivos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e demais pessoas que não se enquadrem no modelo heteronormativo.
Representantes dessa agenda retrógrada têm adotado um discurso de criminalização das reflexões e práticas de pesquisa sobre gênero e sexualidades, por meio de iniciativas como:
a) Inclusão de organizações não-governamentais e pesquisadoras como partes a serem inquiridas por meio da tentativa de instalação, na Câmara dos Deputados, de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI do aborto;
b) Promoção de campanhas difamatórias envolvendo pesquisadoras/es e professoras/es que atuam no enfrentamento à homofobia, irresponsavelmente associando esses profissionais à prática criminal da pedofilia e a infundados riscos psíquicos e sociais para crianças e famílias;
c) Ataque à Psicologia, por meio da formulação e tramitação, no Congresso Nacional, de projeto de decreto legislativo que visava sustar artigos da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 01/1999, que veta a patologização e a cura de pessoas homossexuais. Tais procedimentos reiteram a urgência na coletivização e ampliação dos debates sobre gênero e sexualidades, primando pela qualificação do conhecimento e da prática psicológica, com vistas à promoção da justiça e da equidade social.
*
Concluímos que a temática de gênero e sexualidades não pode ser abordada tão-somente como uma variável, mas, isso sim, como um eixo estruturante e transversal a todos os campos de conhecimento e práticas profissionais psicológicas que se queiram esclarecidas e éticas.
Nossa expectativa, com esta Carta Aberta, é a de chamar atenção da sociedade civil na defesa e promoção dos ideais democráticos e da comunidade científica para o reconhecimento e apoio à investigação e intervenção sobre dimensões do gênero e da sexualidade na Psicologia.
Brasília/DF, Brasil, 19 de julho de 2013.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Viva Mandela, 95 anos!

Viva Tata (papai) Madiba (como Mandela é carinhosamente tratado pelo povo sul-africano), 95 anos!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Crianças Trans: Memórias e Desafios Teóricos

CRIANÇAS TRANS: MEMÓRIAS E DESAFIOS TEÓRICOS
Jaqueline Gomes de Jesus
Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília - UnB
RESUMO
A literatura indica que um número significativo de adultos transgênero (homens e mulheres transexuais, travestis e crossdressers) se lembra de vivências de gênero divergentes das socialmente estabelecidas para os seus sexos biológicos, desde a infância (Kennedy & Hellen, 2010; Kennedy, 2010). Essas lembranças geralmente são acompanhadas de relatos de preconceito, discriminação e negação quanto à própria identidade de gênero. O presente trabalho objetiva compreender as implicações psicossociais, em jovens e adultos, da forma como crianças compreendem e reagem a situações de reconhecimento e de conflito com o gênero com o qual se identificam, a partir da análise de breves narrativas de 10 (dez) pessoas trans acerca de memórias de suas infâncias, sob o aspecto da vivência de gênero.
Palavras-chave: Narrativa; Memória; Identidade; Transgeneridade; Infância.
Artigo completo disponível para leitura em http://www.uneb.br/enlacandosexualidades/files/2013/06/Crian%C3%A7as-trans-mem%C3%B3rias-e-desafios-te%C3%B3ricos.pdf

segunda-feira, 1 de julho de 2013

ALEGRIA MOMENTÂNEA: Paradas do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais

Foi publicado pela Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, editada pelas Instituições Federais de Ensino Superior no Estado de Minas Gerais que mantêm cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia (UFJF, UFMG, UFSJ, UFU), o artigo "ALEGRIA MOMENTÂNEA: Paradas do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais", de minha autoria, no qual analiso as percepções de participantes de Paradas do Orgulho de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - LGBT em Brasília e Goiânia - mais do que apenas atos políticos e festivos, elas são vistas como momentos para expressão de afetos, em especial a alegria.
O artigo se encontra disponível no link http://www.fafich.ufmg.br/gerais/index.php/gerais/article/view/287/267
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Beat Lamento

Para a semana começar muito bem: "Tu chega e se vai, tu chega e se vai, tu chega e se vai"!
BEAT LAMENTO
Compositor: Márcio Mello. Na voz de Daniela Mercury.
(Clique aqui para assistir o belíssimo clipe da música).
~
Meu coração
Baticum por você
Do jeito que é
Soberbo ao te ver
No visgo do olhar
Me reservo a você
Do jeito que quer
Que seja meu ser
~
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De sofrimento
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De tanto lamento
~
Tu chega e se vai
Eu quero morrer
Na dor dos meus ais
Eu quero te ter
Eu choro por trás
Eu faço chover
Quero muito mais
Que sonhar com você
~
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De sofrimento
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De tanto lamento
~
Lamento
Meu coração
Desritmado
Desritmado
~
Tu chega e se vai
Tu chega e se vai
~
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De sofrimento
Meu coração
Desritmado no tempo
Num beat baixinho
De tanto lamento.
~*~