terça-feira, 11 de julho de 2017

O EUTIVISMO

Tenho questionado, em diferentes fóruns e capacitações Brasil afora, algo que chamo de "eutivismo".
 

O que é isso? Qual é o problema?
 

Sinto que houve uma transição comportamental intensa, desde a transição dos novos movimentos sociais - coletivos de base identitária - para os "novíssimos": uma hiper-individualização, senão personalização, da natureza e prática militante.
 

Faltam ações coletivas que sejam articuladas, no campo dos embates ideológicos e de poder, em termos de políticas públicas.
Sobram louváveis e importantes exposições de posicionamentos pessoais sobre temas relevantes, nas redes sociais e em eventos mil. Que porém ficam só nesse nível - o de escrevinhadores e figuras populares automaticamente intituladas como "ativistas".
 

Eu compreendo. É uma consequência - também - da Sociedade do Espetáculo em que vivemos. Porém me preocupa esse eutivismo, estruturalmente, por estar deslocando o eixo dos movimentos sociais para o dos "porta-vozes sociais", espécie de salvadores da pátria ou bodes expiatórios da preguiça intelectual e alienação política de terceiros, que detrás de seus celulares, nestes depositam sua carga de pensamentos, críticas, iniciativas, organização em torno de um coletivo propositivo.
 

Outro ponto preocupante, para esta chata que vos escreve, é o "opinativismo" associado a essa figura pública, cujas curtas postagens são mais lidas do que textos mais extensos, que aprofundam a discussão em pauta e a contextualizam historicamente.
 

A sanha por falar o que se pensa e marcar posição virtualmente, a todo custo, sem aprofundamento teórico e referenciação a quem já pensou ou está refletindo sobre o que tema X ou Y, tem gerado articulistas que mimeografam seus diários para centenas ou milhares de leitores, o que não é ruim por si só (traz para o campo concreto discussões relevantes), mas que tem sido trabalhado sem amadurecimento - por vezes se configura como um ti-ti-ti pretensioso que só arranha a superfície do seu objeto de análise.
 

Sim, eu sei que estou parecendo rabugenta para alguns, mas considero necessário. E afirmo: os eutivistas do mundo virtual - e do físico - não estão se dando o tempo e a concentração necessários de leitura, para formularem pensamentos e proposições que cheguem a fundo nos porquês e indiquem caminhos possíveis.

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