sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Análise das Condições Psicossociais de Trabalho em uma Instituição Pública

Abaixo transcrevo um resumo de minha autoria, baseado em experiência de trabalho em uma equipe multiprofissional, publicado nos Anais do II Congresso Brasileiro de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho - II CBPCT e III Simpósio Brasileiro de Psicodinâmica do Trabalho - III SBPT, realizado em Brasília durante os dias 6 a 8 de julho de 2011, no qual fiz algumas comunicações orais. Disponível originalmente aqui.
ANÁLISE DAS CONDIÇÕES PSICOSSOCIAIS DE TRABALHO EM UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA
Jaqueline Gomes de Jesus
Introdução
A fim de conhecer as condições ergonômicas do trabalho e as características psicofisiológicas dos trabalhadores de um departamento em determinado órgão da Administração Pública Federal, convocou-se Grupo de Trabalho – GT composto por arquitetas, fisioterapeuta e psicóloga. Esta comunicação oral foca o trabalho desenvolvido no âmbito da Psicologia.
Método
Determinado um mês para apresentação de resultados, fez-se, inicialmente, sensibilização por meio de envio de ofícios dos objetivos do GT e visitas aos diferentes setores do departamento, para apresentação pessoal e esclarecimentos. Foram aplicados 54 questionários (84% dos trabalhadores) com itens relativos ao Custo Humano do Trabalho – CHT (Ferreira, 2006). Para análise estatística dos dados foi utilizado o software SPSS 17.0, avaliando-se a freqüência das variáveis em termos de média (m), mediana e desvio-padrão (dp). Foi avaliado o nível de estresse (Lipp, 2000) em 8 servidores (4 homens e 4 mulheres), 12,5% da população. A esses respondentes foram feitas entrevistas individuais abertas, com tempo médio de 30 (trinta) minutos cada, acerca do sistema organizacional, entendido como conjunto dos objetivos, conceitos básicos de referência e a forma como a organização é gerida em suas políticas e diretrizes.
Resultados
Foram identificados custo afetivo não elevado (m=2,84, dp=0.69); custo cognitivo considerável (m=3,92, dp=0,58); e custo físico com menor (m=2,72, dp=0,66). 62% dos sujeitos não tinham indicações significativas de estresse. Os demais apresentavam sintomas de alerta (25%) e de resistência (13%). 40% eram sintomas de âmbito psicológico, 40% físicos e 20% relacionados a outros sintomas. As mulheres apresentarem maiores níveis de estresse do que os homens. Com relação ao sistema organizacional, observou-se diversidade de situações de cada setor dentro do departamento, percepções vagas sobre o funcionamento do trabalho, auto-avaliação positiva quanto ao alcance de metas porém falta de acessibilidade e transparência das informações.
Discussão
Não se observou imposição ostensiva de determinadas reações afetivas ou estados de humor no local de trabalho, tampouco de fortes dispêndios de ordem fisiológica ou biomecânica, de forma generalizada, sob a forma de requisição de posturas, gestos, deslocamentos e emprego de força física. Todavia, foi identificada alta demanda no âmbito cognitivo, da necessidade de resolver problemas e tomar decisões. Não foram encontrados casos de estresse intenso, os de estresse moderado e mesmo leve merecem atenção, em especial os de cunho psicológico e físico. Os processos de trabalho não são compreendidos na integralidade, o que tanto pode indicar agilidade no processamento das informações quanto concentração de informações.
Conclusão
Considera-se necessário: otimizar processos de trabalho no seu aspecto mental, de raciocínio, na busca de estratégias para a simplificação da resolução de problemas e de tomada de decisões; aprofundar estudos quanto ao tipo de estresse e suas fontes, analisando as questões de gênero, a fim de avaliar se há tratamento diferenciado entre homens e mulheres, em detrimento destas; estimular a troca de informações, tanto em sentido horizontal como vertical; motivar o uso do potencial criativo; buscar inovações; e incentivar, de forma organizada, a diversidade de pontos-de-vista para a resolução de problemas. Conclui-se como estratégico disponibilizar mais tempo para análise das condições psicossociais do trabalho.
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