Assisti, com amigos (por intermédio de Júlio Moreira, do Grupo Arco-Íris), a peça GISBERTA, estrelada por Luís Lobianco e escrita por Rafael Souza-Ribeiro, em cartaz no CCBB Rio.
Eu tinha um temor prévio, e o confessei a Lobianco, por imaginar que aquela sobre a qual se falava, Gisberta Salce Júnior (mulher trans brasileira assassinada em Portugal, em 2006), seria interpretada por um homem cis (cis é toda pessoa que não é trans).
O que testemunhei foi um espetáculo de extraordinária sensibilidade. Texto, interpretação e ambientação impecáveis. A música presente, ao longo de toda a história, está imbricada na própria vida daquela sobre a qual se fala.
Comentei com Lobianco sobre como sua belíssima atuação (profundamente respeitosa), foi sensível, primorosa: sob uma longa túnica bege que me remetia - curiosamente - aos antigos romanos nas cerimônias fúnebres, e aos medicantes, ele falou de Gisberta a partir das vozes daqueles que a cercavam e dos silêncios de sua existência luminosa, apagada - após longa tortura - no fundo de um poço triangular...
É uma peça para tocar o público e estimulá-lo a ver as vidas das pessoas trans como vidas humanas, ao invés de as invisibilizar, como se costuma fazer; para mostrar, aos que assistem, o cotidiano de uma mulher trans, que sistematicamente tem sua mulheridade questionada.
O martírio de Gisberta se repete centenas de vezes todo ano, em sua nação de origem: o Brasil é o país no qual mais se matam pessoas trans no mundo. Aqui, 90% das mulheres trans e travestis só encontram trabalho na prostituição. Que outro grupo social está tão concentrado em apenas uma ocupação? Apesar disso, pouco se fala de transfobia (preconceito e discriminação contra pessoas trans) por estas terras.
Estou muito grata pelo que pude ver, ouvir e sentir, e espero que muitas outras pessoas possam ser tocadas pela mensagem deste espetáculo precioso, que defende a vida e a felicidade, contra o ódio e a ignorância.
#gisberta
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