Vou transcrever um trecho do livro de poesia que publiquei em 2002. Espero que gostem, ele não existe digitalmente:
"VERSÍCULO ONZE
Devo escrever um poema.
No momento, no limite entre a vigília e o sono
Me perco, por isso os olhos generosos
Regam minha camisa branca com um choro lerdo,
Sonolento. Mexo unicamente os dedos,
Para escrever estes versos que sonham o que já se foi:
Ilusões perdidas, ilusões-fundamento-da-vida, mitologias.
VERSÍCULO DOZE
Vagas memórias lendárias,
Profundo sono da consciência.
Virá o dia em que acordarei.
Agora, no livro novo de minha vida,
O passado é personagem principal:
Uma lenda,
Um velho causo que esqueci,
Contado por minha avó.
Recordações de um amor verdadeiro
Furtadas pelo tempo malicioso.
*
Forçosamente consigo relembrar
Um falso romance.
Descubro que
O portal do coração
Tem um cadeado pesadíssimo!
Poemas de amor feitos de raios de luz
E da lua cheia se dissolvendo em nuvens de seda
Não explicam todas as coisas do amor,
Mesmo quando o som que os anima
É o de uma brisa mágica
Em um lugar há anos desejado.
Alguém certamente espera por alguém
Nesse local místico, tão próximo
Que é possível sentir a pessoa respirar
Próximo ao nosso pescoço,
Causando um tremor secreto.
*
Aquela mesma lua, dissolvida e dissolvente
De mim, baila no céu com vestido preto
Radiante de estrelas,
Cobrindo-nos com sua roupa de gala,
Convidando-nos para a festa da noite;
E nos aguarda. Basta você perceber.
*
"O que há para se perceber"? Pergunta-me
Você. Nem eu sei a resposta.
*
Decida-se, e a cadeia,
Que era destino,
Cairá...
...Com as memórias do tempo...
...Perdido...
...No labirinto de você.
*
Nesse labirinto, presságios o conduzirão,
Intuições, búzios, tarô
Transformados em ciência.
Confusa mandala de um não-sei-
mundo-para-lá-deste
Convidar-te-á para "dar uma volta"
Nos caminhos aquém dos seus.
*
O futuro é um caminho em minha mente.
A memória é uma lágrima do pensamento.
O amor é um buraco negro
No qual o mundo velho é desintegrado
Para reintegrar-se em um mundo novo.
*
Por favor, alivia minhas dúvidas
E apazígua meus temores,
Nem que seja com inverdades
Nas quais você piamente acredita,
Tanto que morre de amores por elas.
*
A escuridão da ignorância é cada vez mais pro-
funda
Em mim.
Liga a luz de seus olhos e ilumina a estrada
Pela qual trafegaremos.
Caso você me deixe só,
As batidas de meu coração sobressaltado
E o sussurro do vento,
Ouvirei".
JESUS, J.G. (2002). O Livro Sem Título. In: Terceiro Livro (pp. 51-54). Brasília: Thesaurus.
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