sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Não é sobre Cores, é sobre Vidas!


NÃO É SOBRE CORES, É SOBRE VIDAS!

O desabafo entusiasmado da Ministra Damares sobre "a nova Era" que estaria começando no Brasil, na qual "menino veste azul e menina veste rosa", demonstra, primeiramente, como reage o pernicioso apartheid de gênero (ideologia que rege a nossa educação, das famílias às escolas), quando confrontado com a diversidade de existências, pensamentos e sentimentos que ele não consegue abarcar, dentro de seus modelos limitados sobre o que podem homens e mulheres.

Porém o discurso vai além. Tem alvos diretos aos quais ele não dá nomes (nomear também é reconhecer a existência, e isso não é desejável para quem odeia aqueles que preferia que não existissem). A metáfora das cores é o silêncio sobre as vidas trans, ao mesmo tempo em que nega frontalmente a nossa existência!

É de sexismo e de transfobia que se está dizendo, o medo - iníquo, tosco, mas poderoso porque representa o pensamento dominante - de que meninos e meninas estariam "confusos" porque adultos (professores, outro grupo considerado prejudicial pela ideologia no poder) lhes dizem que eles não são meninos e meninas. Uma fantasia adotada pelos que se horrorizam quando se lhes aponta que as crianças, quaisquer crianças, conformam-se aos estereótipos de gênero estabelecidos pelos adultos, e não que elas nasçam com esta ou aquela "identidade biológica" (um conceito bizarro, pseudocientífico, para tentar florear o senso comum de que o sexo biológico determina o gênero e o comportamento das pessoas). Sem uma única palavra sobre as pessoas trans, sobre homens e mulheres trans e travestis, é do ódio contra essa população que se fala, com um sorriso nos lábios. Esse sentimento expressa, no fundo, a preferência de que a transgeneridade não existisse, quiçá fosse exterminada. Faz sentido, no país em que mais se registram assassinatos de pessoas trans no mundo, sendo que mais de 90% das vítimas são as travestis e mulheres trans, o que configura um feminicídio ignorado solenemente, porque a identidade de gênero dessas mulheres não é reconhecida, dado que sequer são vistas como gente.

As vidas trans importam! E elas também incluem crianças e idosos. Precisamos protegê-las!

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