segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Corpo-Positividade e Livre-Sexualidade para Pessoas Trans

CORPO-POSITIVIDADE E LIVRE-SEXUALIDADE PARA PESSOAS TRANS
Jaqueline Gomes de Jesus

Esta é uma mensagem íntima para pessoas trans, portanto ela não tem muito o que dizer a vocês, pessoas cis, senão por intermédio das pessoas trans com as quais vocês eventualmente se relacionem afetivo-sexualmente.

A corpo-positividade e a livre-sexualidade são questões relevantes para o pensamento-ação transfeminista, mas tenho lido poucas reflexões a respeito que se estendam por mais de um ou dois parágrafos, e que tragam casos concretos.
Tenho pensado sobre a necessidade de abordamos mais os aspectos positivos de nossos corpos, sexualidades e relacionamentos afetivos em suas particularidades.
A revolução das consciências está em reconhecermos - e portanto modificarmos o pensamento social - que nossos corpos trans são belos e únicos (convenhamos que somos "aves raras"), que não precisamos idealizar e ter detalhes de corpos cis porque os nossos já são maravilhosos por si sós!
O problema é que o cissexismo e a transfobia são eficientes e introjetados em nossa consciência coletiva, e se reproduz na desvalorização de nossos corpos e nossos afetos e sexualidades. 
Começa que, apesar de sermos trans, exploramos muito pouco nossos corpos!
Como mulher trans heterossexual, posso falar mais precisamente sobre a feminilidade trans que me cabe, evitando extrapolá-la, indevidamente, para o contexto próprio das mulheres trans e travestis lésbicas e bissexuais.
Mesmo quando "estamos" disfóricas, como é cada vez mais comum falarmos, há maneiras de nos empoderarmos, adaptando as formas como o(a) outro(a) nos toca e se comunica conosco.
Esse é um ponto crucial: como parte da sociedade em que vivemos, não somos estimuladas a explorar nossos corpos e a nos comunicar adequadamente com nossos parceiros afetivo-sexuais, o que prejudica a plenitude dos relacionamentos.
Além disso, algo que nos é impingido em particular, qualquer menção a nossa sexualidade é estereotipada como "pornografia". Nossos belos corpos, quando não são ridicularizados, são apontados como "objetos" pornográficos. Isso é desumanizador.
Precisamos produzir materiais educativos, simples, como zines, nos quais, com textos bem fundamentados (e não apenas opiniões bem intencionadas) e imagens instigantes, falemos sobre os nossos corpos, como o fato que, sendo mulheres com pênis (portanto tendo um pênis de mulher) ou homens com vagina (portanto tendo uma vagina de homem), e nem todas odiamos nossa genitália, e lidamos com o que chamamos entre nós de "disforia" de formas diferentes umas das outras; a nossa beleza (somos lindas e perfeitas da forma como somos, com nossos belos corpos de homens e mulheres trans); e a nossa sexualidade:
Que nomes dar "àquilo"?
Como explicar o que gostamos e o que detestamos (preferencialmente antes de qualquer relação sexual)?
Por que não precisamos ficar nos explicando o tempo todo?
Quando orientar e quando exigir que nossos parceiros procurem informação por si mesmos?
Onde queremos ser tocadas e onde não?
Você sabe aquendar (esconder aquilo)? Nem todas nós tiveram uma amiga querida para nos orientar nesse nível de intimidade.
Quantas dezenas de posições sexuais seu corpo trans lhe possibilita?
O que lhe dá prazer?
Conhecer a nossa anatomia ajuda muito, mais do que a maioria das pessoas imagina. Quem não conhece seu corpo, não pode valorizá-lo. Cada qual explorando seu corpo aprenderá muito sobre si. Sem deixar de cultivar sua imaginação, de inventar situações.
Mulher trans (hétero, lésbica, bi) e travesti (hétero, lésbica, bi), você sabe que pode penetrar sem usar "aquilo"? Ou que pode ser penetrada pela frente, de forma intensa e altamente erógena tanto para você quanto para seu/sua parceiro/a?
Então, gente, que tal começar a rascunhar suas ideias, saberes e experiências que valorizem os corpos trans e a nossa sexualidade? Não repitam a prática, tão comum hoje no mundo virtual, de ficar esperando ou pedindo que outros (especialistas ou semi-celebridades) façam. Seja proativa(o)! Leia mais para poder escrever, com qualidade, por si mesma(o)! E mais profundamente, não só postagens com frases fáceis e hashtags da hora.
Produzir material atraente e bem escrito sobre nossa corpo-positividade e nossa livre-sexualidade irá enriquecer, senão salvar, muitas vidas trans Brasil afora. Há tanto a desbravar!

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