sábado, 11 de abril de 2020

Anjos na América


Nestes tempos de crise global, devido à associação entre pandemia da Covid 19/Coronavírus, neoliberalismo e governos guiados pelo fundamentalismo político-religioso, ANGELS IN AMERICA, de 1991, com sua linguagem extremamente figurativa, não explicitamente irônica e diálogos difíceis para a maioria do público, continua sendo uma peça atual, não especificamente porque se remete à epidemia do HIV/AIDS, mas porque fala sobre a triste realidade dos seres humanos, frágeis criaturas guiadas pelo preconceito e seus estereótipos, atormentadas pela teimosia em negarem a si mesmos e aos outros, especialmente nos momentos de desespero.

Estou assistindo sua re-exibição como série televisiva na HBO. No episódio que acabou de passar, o rico e moribundo advogado Roy, interpretado por Al Pacino, conversava com o fantasma da comunista Ethel Rosenberg (personagem da vida real, injustamente executada pelo governo junto ao seu marido, por espionagem) sobre o fracasso do sistema de saúde norte-americano. Ao mesmo tempo, o advogado, homossexual conservador, apóia o presidente Ronald Reagan, que ignorou a epidemia do HIV/AIDS, para atender a sua base eleitoral cristã, conservadora e LGBTfóbica que rotulou a síndrome como "vingança da natureza contra os gays".

Enquanto isso, o presidente atual do Brasil, Jair Bolsonaro, estimula a população a se expor ao vírus, promovendo uma fé cega e amolada no machismo viril que se considera imune a "qualquer mal que afeta somente os fracos e pecaminosos", em detrimento de orientações cientificamente fundamentadas. Tudo pelo seu interesse politiqueiro, sua obsessão em nutrir seu ego e personalidade transtornados e suas relações com investidores que apostam na morte, especialmente dos pobres, pretos e indígenas, em prol de seus lucros.

Só Amor, Sabedoria, Coragem e Arte poderão nos salvar de nós mesmos. De nós mesmos. Infelizmente essas palavras geralmente são utilizadas para camuflar seus próprios opostos: ódio, ignorância, medo e lixo, e popularmente acatadas.

Há dois lados nessa questão. A pandemia, enquanto infodemia, também é uma epidemia de significados, e esse é um terreno fértil para alguma transformação. Por isso, neste mundo, resistência é também (re)existência.

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