segunda-feira, 30 de julho de 2012

MANIFESTO POR UMA EUFORIA DE GÊNERO

De Fátima Lima
Antropóloga. Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social/ IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro/UERJ. Professora Adjunta de Saúde e Comunidade do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro/UFRJ pólo Macaé. Pesquisadora dos estudos trans. Pesquisadora da linha de pós-graduação Micropolítica do trabalho e cuidado em saúde na Clínica Médica da UFRJ.
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Texto apresentado no congresso Queering Paradigms 4. Julho, Rio de Janeiro, 2012.
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Setting 1 – O que propõe? eu? - um texto-manifesto.
Este texto não se pretende acadêmico no sentido strictu sensu. Mais do que conceituar sobre a invenção da transexualidade enquanto uma patologia definida como um “transtorno de identidade de gênero” se propõe a ser um manifesto. Faz parte de sua proposta bradar pela euforia dos gêneros, fazer uma pirotecnia, no sentido Foucaultiano, fabricar algo que sirva para um “cerco, uma guerra, uma destruição”, algo “ que possa fazer cair os muros” ( FOUCAULT, 2006, p.69).
Não recorre diretamente a autores teóricos e conceitos, mas a interlocutores que ao longo de suas produções tem se voltado à compreensão dos aspectos não hegemônicos da vida social, dos saberes subalternos, das sexualidades ditas “periféricas”, dos corpos ininteligíveis, dos processos de assujeitamentos: Michel Foucault, Judith Butler, Donna Haraway, Beatriz Preciado, Joan Scott, Marie-Hélène Bourcier, Jack Halberstam entre tantxs outrxs.
Não se dirige a ninguém especificamente.
Não despreza o sofrimento tão presente e tão dito pelos sujeitos trans. O sofrimento – essa outra “mal” “dita” invenção perfaz – infelizmente - a experiência do vivente. O manifesto coloca em debate a apropriação do sofrimento enquanto uma condição “natural” no processo de medicalização das transexualidades.
Não constitui um manifesto contra a psiquiatria, a medicina ou a psicologia. Seu estatuto de ciência e status quo enquanto domínios de conhecimentos e práticas estão garantidos, por enquanto, até segunda ordem.
Aqui não é a validade ou não do diagnóstico psiquiátrico que está em jogo, mas a naturalização deste enquanto uma “verdade” que abarca e anula as pluralidades trans. É a invocação constante e, antes de tudo, do diagnóstico cuja característica principal é “estabelecer critérios pelos quais uma pessoa que se identifica com o sexo oposto possa ser reconhecida” ressaltando que “ao desenvolver esses critérios, desenvolve uma versão muito rígida das normas de gênero” (BUTLER, 2009, p.119) o que se encontra em protesto manifesto.
A proposta consiste trazer a tona uma breve genealogia de um determinado regime de produção de verdade, de construção de um dispositivo - o dispositivo da transexualidade. Como uma “verdade” é produzida? Quais as engrenagens que a movimenta? Como ganha força e se produz em um determinado regime? Quais os conceitos e práticas que a sustenta? São questões que norteiam qualquer tentativa de fazer uma genealogia da transexualidade.
O objetivo é colocar, mais do que em debate, a noção de disforia de gênero. É preciso inquirir este conceito. Desmontá-lo, esmiuçá-lo, contrapô-lo a contrapelo e a contragosto.
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Leia o manifesto completo clicando aqui.
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