sábado, 11 de abril de 2015

VOU-ME EMBORA PRA PASSÁRGADA

Jaqueline Gomes de Jesus

Vou-me embora pra Passárgada,
Lá faço amigos e amor,
Sou de um homem se eu desejo,
Na cama ou não, onde for.

Vou-me embora pra Passárgada,
Palavras despertarão
Com buzinas e fumaça
Para falar dos heróis
Que um dia nascem protestando,
Noutro são executados.
De crianças brincando, rindo,
Em seguida metralhadas.
Numas linhas redivivos,
Serão vistos na internete,
Curtidos, compartilhados,
Lembrados e, talvez, lidos.

Vou-me embora pra Passárgada,
Mil quilômetros daqui,
Com você e outras centenas,
Amando-te e a mais alguns.
Sou sua e jamais serei
Sua sem ser de mim mesma
Tanto quanto aos meus demais
Sentimentos e esperanças.
Chegarei durante o outono,
Levando livros e calor.
Tudo desabrochará,
Sem ter medo do fracasso,
Sem venerar o sucesso,
Ficando perto de mim:
Passárgada sem califa
E sem Pérsia, na beirada
Do abismo de onde verei
Minha antiga batucada.
Portanto vos digo adeus,
Brasília, eu vou embora
Chorando com coração
Sorrindo por vos deixar
Com minha semeadura,
Com os meus risos e lágrimas,
Com o que podia dar.
Há um mundo além de Brasília;
Passarinhos, borboletas,
Granito, concreto, areia,
E como aqui rios e mares
Verdes-chamas, azuis-brancos.
É melhor pois a escolhi,
Olhos vestidos de lua,
Negra qual noite estrelada,
Dedos sonhando papéis.
Eu quero a felicidade:
Vou-me embora pra Passárgada.

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