Primeira Marcha Zumbi (foto: sem identificação da autoria).
"Na sociedade brasileira, pautada por desigualdades raciais que demandam políticas públicas de difícil consolidação na atual conjuntura política (Jaccoud, 2008), a articulação entre as exclusões de gênero e de raça/etnia são permanentes, determinadas pelas estruturas de poder sexistas e racistas (Carneiro, 2003). Essa convergência de preconceitos potencializa as lutas comuns entre movimentos feministas e de raça/etnia.
Como aconteceu com outras representações coletivas da sociedade civil organizada, o movimento negro moderno, caracterizado pela busca por estratégias autônomas de organização e com foco na ação institucional, fortaleceu-se com a abertura política decorrente da decadência da ditadura militar dos anos 60 a 85 do século XX (Figueiredo & Cheibub, 1982).
De acordo com Nascimento e Nascimento (2000), a partir da organização de vários dos grupos existentes, formou-se, na cidade de São Paulo, no dia 18 de junho de 1978, o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, rebatizado no dia 23 de julho do mesmo ano como Movimento Negro Unificado, cujas diretrizes e teses até hoje influenciam orientações ideológico-práticas da sociedade civil negra organizada, dentre elas a desmistificação da democracia racial, o enfrentamento à violência policial, a internacionalização da luta antirracista e a introdução nos currículos escolares da História da África e dos negros no Brasil (Domingues, 2007).
A rediscussão da História era fundamental no entendimento do papel proativo dos negros para a formação do país. Aponta-se, como um elemento agregador de valores para esse grupo de ativistas negros, a figura e o martírio do líder Zumbi dos Palmares, modelo alternativo de libertação e de busca autônoma de igualdade, configurada na ideia de consciência, por parte da população negra, quanto a sua história, formação e metas (Fernandes, 1989).
O histórico de manifestações do movimento negro é pautado, mais recentemente, pela realização da Marcha Nacional 300 Anos Zumbi, popularmente conhecida como Marcha Zumbi, realizada em Brasília no Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro de 1995, evento que tornou visíveis várias reivindicações contemporâneas da população negra pela implantação de políticas públicas com recorte étnico-racial, reunindo cerca de 30 mil participantes (Centro de Estudos da Cultura Negra, 1995).
Em 16 de novembro de 2005 a marcha foi reeditada, como Marcha Zumbi + 10, orientando-se por um discurso comum de resistência intransigente, de necessidade de autonomia e independência dos movimentos negros frente aos diferentes partidos políticos e governos (Vieira, 2005)" (Jesus, 2012, p. 177-179).
Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.
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