quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Movimentos Sociais e Religião

Marcha para Jesus, São Paulo (foto: Tatiane Moreira/AE). Fonte: O Estado de São Paulo (2011).


"Apesar de seu papel na constituição de identidades sociais ao longo da História do Brasil, apenas a partir dos anos 70 é que os movimentos sociais se tornaram objetos importantes de estudo para as Ciências Sociais, necessariamente convergindo para a Psicologia, ao nível de análise dos indivíduos, indissociável das estruturas sociais (Del Prette, 1991).

Para além de atos de transgressões da ordem, os movimentos sociais também podem expressar reafirmações do status quo, o que se apresenta de forma patente nas iniciativas de grupos religiosos, como as procissões, frequentes em qualquer localidade, realizadas quando as pessoas desejam rezar juntos, em caminhada, por alguma causa; e as romarias, peregrinações rumo a um santuário, decorrentes de datas comemorativas, a exemplo do Círio de Nazaré, na cidade de Belém do Pará, da cerimônia relacionada a Nossa Senhora Aparecida, no santuário erigido em seu nome na cidade paulista de Aparecida do Norte, ou mesmo da festa de Nosso Senhor do Bonfim, sincretizado na figura do orixá Oxalá, que se comemora na cidade de Salvador, envolvendo adeptos do catolicismo e do candomblé.

Os eventos religiosos mais destacados atualmente são as Marchas para Jesus, eventos de cunho protestante com características de massa, com atos realizados em todo o país.

Para além do discurso religioso, também é identificado, em algumas edições locais da Marcha Para Jesus, um nexo entre religião e política no Estado laico, quando, eventualmente, são pautadas, sob vieses conservadores, questões como a união homoafetiva:
'A marcha não deixa de ser um ato político', resumiu o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado a Igreja Universal do Reino de Deus. O discurso mais radical foi do pastor Silas Malafaia. Com palavreado vulgar, usando termos como 'otário' e 'lixo moral', Malafaia atacou duramente a decisão do STF de legalizar a união estável entre pessoas do mesmo sexo. 'O STF rasgou a Constituição que, no artigo 226, parágrafo 3º, diz claramente que união estável é entre um homem do gênero masculino e uma mulher do gênero feminino. União homossexual uma vírgula', disse o pastor (Galhardo, 2011).
Essa mistura de discursos religiosos e políticos encontra uma tradição que remonta a ações como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada por lideranças católicas em 19 de março de 1964, na Praça da Sé, em São Paulo, reunindo cerca de 500.000 participantes.

Segundo Oriá (2007), a manifestação, que visava protestar contra propostas inovadoras do governo do presidente João Goulart, conhecidas como reformas de base, que incluíam a reforma agrária, foi vista por alguns setores militares como uma forma de apoio para o Golpe Militar executado em 31 de março de 1964, mas construído a partir de complexas relações sócio-políticas que se desenrolavam ao longo de décadas" (Jesus, 2012, p. 171-172).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

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