quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Movimentos do Gênero: Vadias

Marcha das Vadias, São Paulo (foto: Danilo Ramos). Fonte: Rede Brasil Atual (2011).


"A Marcha das Vadias, também conhecida como Marcha das Vagabundas, tem-se realizado em todo mundo, como evento articulado por meio das redes sociais. Iniciada em 3 de abril de 2011, na cidade de Toronto, no Canadá, como resposta coletiva a um policial que afirmou que mulheres que se vestem como vadias são responsáveis pela própria vitimização em ataques sexuais (Kwan, 2011).

O objetivo da marcha, desde sua criação, é se apropriar do conceito de “vadia” para se opor ao estereótipo da culpabilização das mulheres, quando agredidas, em função da exposição do seu corpo ou da sua sexualidade, defendendo o direito das mulheres a serem respeitadas, ipsis litteris:
No matter what I wear / Não importa o que eu vista
No matter what I look like / Não importa como eu pareça
No matter what my gender expression is / Não importa qual seja minha expressão de gênero
No matter how much, how little or what kind of sex I have / Não importa quanto ou que tipo de sexo eu faça
No matter what I've done before / Não importa o que fiz antes
No matter where I come from / Não importa de onde eu venha
No matter how my body has been 'devalued' by others / Não importa como meu corpo tem sido desvalorizado por outros
No matter what I've been called / Não importa do que eu tenha sido chamada
MY BODY IS NOT AN INSULT / MEU CORPO NÃO É UM INSULTO
(SlutWalk Toronto, 2011. Livre Tradução).
Assim, a concepção tradicionalmente negativa de vadia é desconstruída, para mostrar que não passa de uma estratégia de controle moral sobre os corpos, as vidas e os destinos das mulheres.

Essa questão também é apresentada pelas edições brasileiras da Marcha das Vadias, tendo em vista desafios semelhantes enfrentados pelas mulheres brasileiras.

Mais do que um protesto em favor do direito das mulheres sobre os próprios corpos, a Marcha das Vadias é uma articulação nas ruas das discussões feministas pela igualdade entre os gêneros.

A primeira edição realizada no Brasil, em São Paulo, no dia 4 de junho de 2011, contou com 300 participantes, segundo estimativa da Polícia Militar, de cerca de seis mil que confirmaram presença por meio de uma rede social (Sassaki, 2011). Em Brasília foram contabilizados mais de 800 participantes, de um total não conhecido de pessoas predispostas a participar (Mazenotti, 2011).

É significativo atentar para a importância atribuída ao dado numérico de que, dentre milhares de convocados, uma percentagem menor efetivamente participou do ato. Essa relação informados/participantes pode ser comparada com outros eventos, com repercussão equivalente, o que interessa é entender porque tal relação é ressaltada por quem relata sobre a mobilização" (Jesus, 2012, p. 173-174).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

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