segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Movimentos da Sociedade

Cena extraída do videoclipe Fight the Power, do grupo Public Enemy. Assista aqui.

"Mudanças na sociedade demoram, e só acontecem quando há mobilização. Nos últimos anos testemunhamos a ascensão ao poder de algumas pessoas oriundas de grupos sociais outrora excluídos, e não necessariamente de um número significativo de representantes de tais grupos. Um negro e uma mulher foram eleitos, respectivamente, presidentes dos Estados Unidos da América e do Brasil.

No Brasil, as mulheres conquistaram o direito de votar, com restrições, por meio do Código Eleitoral Provisório, de 24 de fevereiro de 1932, e sem restrições somente em 1946. Nos Estados Unidos, somente em 1965, com a promulgação da Lei dos Direitos Civis, foi garantido o direito de voto aos negros.

Essa distância de décadas entre o direito ao voto e a eleição para o cargo máximo da nação não é tão grande como pode parecer, em termos de sociedades regidas por Estados que definiram suas regras ou procedimentos em torno da exclusão de parcelas de sua população.

O Estado moderno busca organizar e controlar a nação por meio de vários mecanismos, como o do monopólio da violência legítima, destacado por Weber (2003), que não se restringe à força policial, está também imbricado na coerção inerente às Leis, que obrigam os cidadãos a cumprirem deveres e lhes outorgam direitos.

Apesar de se relacionar e depender da sociedade, o Estado é diferente da sociedade que o sustenta. Ela muda, é feita de paixões e desejos; o Estado é pouco flexível e não necessariamente representa todas as individualidades, pois, retomando-se Marx (1968), a luta de classes que pauta a História da humanidade incorre em que são os interesses de classes sociais dominantes que determinam os propósitos e ações do Estado, o qual impõe às classes dominadas essa organização, perpetuando diferenciações e exploração.

Entretanto, Moscovici (2011) defende que, apesar do domínio de um grupo sobre o outro, o grupo dominado, mesmo marginalizado, pode influenciar o grupo dominante, por meio de uma ação coletiva e organizada que envolva a difusão de novas ideias e concepções de mundos a partir do conhecimento de sua realidade diferenciada daquela da maioria.

Permitindo-se uma extrapolação das fronteiras entre a Psicologia Social e a Ciência Política, é possível pensar que a teoria de Moscovici, denominada das Minorias Ativas, concorda com a noção de intelectual orgânico de Gramsci (1989), para quem a única forma de modificar as estruturas é conhecê-las, e dentro delas fazer mudanças.

Não há apenas intelectuais profissionais, todos podem ser intelectuais, desde que componham um agrupamento autônomo que assume a função social de porta-voz de um grupo, elaborando, com seus próprios métodos, 'sua própria consciência, sua própria cultura' (Gramsci, 1978, p. 1547)" (Jesus, 2012, p. 165).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

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