HOMENAGEM AOS SERVIDORES PÚBLICOS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA NO EXERCÍCIO DE SUA FUNÇÃO
Jaqueline Jesus
Funça! Folgado! Trabalha pouco, ganha muito! Viaja e se diverte com o dinheiro fácil que ganha dos nossos impostos! Marajá! Burocrata! Malandro! Corrupto! Preguiçoso! Não tem interesse no que faz! Passa o dia na internet e tomando cafezinho! Atende mal e não pode ser demitido? Assim não dá! Bando de vagabundos!
“Maria Candelária é alta funcionária (...), à uma vai ao dentista, às duas vai ao café, às três vai à modista, às quatro assina o ponto e dá no pé, que grande vigarista ela é!” *1
Essa é a imagem falsa, ardilosa e mentirosa que alguns desinformados têm do servidor público. Perfil reforçado, em geral, pela propaganda negativa que se faz todos os dias contra esse grupo de trabalhadores.
Afinal, quem é o servidor público? O que faz? O servidor público tem que trabalhar dia-a-dia com seriedade e quase com heroísmo, para desmistificar esses estereótipos. Tem que enfrentar vários desmandos para permitir que a população tenha acesso digno aos recursos do Estado.
Há tantos que trabalham nos bastidores, anônimos, desconhecidos. A maioria, aqueles que fazem a engrenagem se mexer ou ajudam outros servidores que irão entrar em contato direto com a população!
O servidor também paga imposto! O servidor serve. Serve à população, serve à comunidade, serve seu trabalho para o bem público, às vezes até em detrimento de si mesmo, das suas necessidades. Não deveria ser assim, mas acontece.
A maior parte dos servidores públicos veste a camisa de verdade! Muitas vezes são as chefias – freqüentemente não servidores públicos – que não sabem organizar o serviço, distribuir as tarefas.
Os problemas acontecem em todas as classes profissionais. Há caloteiros tanto no serviço público quanto em qualquer empresa. Mas o servidor público está mais exposto, mais visível. É a cara do Estado. Por isso, nas suas mais diversas atribuições e formas de atuação, também é vítima de violência no exercício de suas funções...
Professores, peritos do INSS, fiscais do trabalho, policiais... Tantas profissões que é impossível citar todas! E qualquer um pode ser vítima da violência no exercício de suas funções...
Pense: como prestar um bom serviço à sociedade quando, toda vez que você vai para o trabalho, tem medo do que possa acontecer? Tem medo de ser agredido, em palavras ou fisicamente, por um aluno, um colega de trabalho, qualquer cidadão que seja?
E olha que também tem a violência das relações de trabalho, do chefe que pratica assédio moral ou sexual, dos “colegas” de trabalho que podem te perseguir por qualquer razão que seja...
“...Ao cruzar a rua você está arriscando,
Pode estar na lua, pode estar amando.
Passa um caminhão, cruza uma perua.
O cara tá na dele, você tá na sua.. *2
Tudo bem, nada é garantido, mas será que a gente não pode conseguir um pouco mais de segurança pra fazer o que a gente faz e quer fazer? Acho que deve ter um jeito pra isso... Acho que o servidor público é alguém importantíssimo para o país, não é apenas um carimbador de papel. É um cidadão que merece respeito!
Acho que é possível nós termos um lugar para trabalhar onde nos sintamos seguros, acho que podemos construir melhores relações de trabalho, acho que não nos falta vontade de virar a mesa de toda essa violência, de todo esse preconceito, de toda essa ignorância.
Somos milhares. Somos homens e mulheres. Somos de todos os Estados e do Distrito Federal. Temos todas as cores, todas as idades, todos os sotaques, todas as orientações sexuais, todas as identidades de gênero e, acredite, muitas nacionalidades, porém todas com coração brasileiro!
Também somos Brasil, e é para esse país com um povo trabalhador e esperançoso que lutamos todos os dias, durante anos e décadas, para trazer melhores condições de vida, facilitar o seu dia-a-dia, possibilitar as pequenas alegrias de ser bem atendido ou as grandes satisfações de conquistar tantas vitórias quantas forem possíveis.
Então, quem ainda vê o servidor público como “funça”, folgado, marajá, burocrata, malandro, corrupto, preguiçoso, barnabé ou vagabundo está muito por fora, e mal começou a entender que são servidores públicos responsáveis, honestos e atenciosos que fazem esse país andar.
*1 “Maria Candelária” (Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, lançada no carnaval de 1952)
*2 “Sem Medo” (Toquinho e Vinícius de Moraes)
Esta homenagem foi interpretada pelo artista Miquéias Paz, por ocasião do III Encontro Nacional de Atenção à Saúde do Servidor, em 2010, na Capital Federal.
A imagem que ilustra o post é do site www.fenastc.org.br/site/index.php?home=noticias.
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