quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

III Conferência Internacional do CEA


Colegas de Tóquio a Ottawa, como escreve o sociólogo e professor Carlos Serra, organizador da III CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DO CEA - Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane, de Moçambique, estão abertas as inscrições de artigos para a referida Conferência, que ocorrerá em Maputo, de 19 a 20 de Novembro de 2014).

O tema central será DINÂMICAS SOCIAIS EM ÁFRICA: RUPTURAS E CONTINUIDADES:
"...África sofreu e sofre influências e pressões, determinantes no passado e no presente, sobre que rumos seguir e escolhas fazer, num clima de permanente tensão não tanto entre o novo e o velho quanto entre o local e o global.
Que dinâmicas estão em curso? Que riscos sociais e ambientais prever? Que desafios ter em conta? Que políticas e estratégias adotar?"
Os resumos (máximo de 300 palavras) devem mencionar  o subtema escolhido e ser enviados até 31 de Maio de 2014, para o seguinte e-mail: conferencia.cea@uem.mz 

Subtemas:
1. Campo e cidade;
2. Saúde, crenças, doença e cura;
3. Democracia, lideranças e conflitos;
4. Os desafios da industrialização e desenvolvimento;
5. Sistemas educacionais;
6. Exclusão, inclusão e cidadania;
7. Oralidades e escritas;
8. Comunicação e redes sociais digitais;
9. Segurança e justiça;
10. Caminhos da arte: folclores, reinvenções e interculturalidade;
11. Ciências sociais e resolução de problemas;
12. Novas formas de religiosidade;
13. Da etnofilosofia à filosofia intercultural;
14. Temas e representações no cinema;
15. Funções sociais do desporto.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Beleza Real

Me, by Negamburguer, in Beleza Real, p. 131.

"Por meio de diversos suportes como o grafite, literatura, internet, 
intervenções urbanas e outras ações, o projeto Beleza Real retrata histórias 
de mulheres reais que sofreram algum tipo de discriminação por suas 
condições ou por pressões a padrões de beleza e como elas superaram 
estas violências".

Tenho orgulho de ter sido uma das financiadoras coletivas deste projeto lindo e importante.
Super parabéns, Evelyn!




domingo, 23 de fevereiro de 2014

Julgar e Cuidar (Saúde Mental e Trabalho do Perito Médico)




















O livro foi publicado pela LTr Editora, de São Paulo ( http://www.ltreditora.com.br ).

Organizadores e Colaboradores:
Wanderley Codo
Paola da Silva Amendoeira
Remígio Todeschini
Jaqueline Gomes de Jesus
Iône Vasques-Menezes
Marcelo Tavares
Maircon Batista Ribeiro
Renata Pereira de Matos

Sou autora de dois capítulos. O Capítulo 5 - Relações Sociais e o Trabalho dos Peritos, com o querido Wanderley Codo:


E o Capítulo 6 -  Condições de Trabalho dos Peritos:


Para adquirir a publicação, consulte o site da LTr, que indiquei no começo da postagem, ou o procure nas maiores livrarias.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

III Curso de Formação Política da FENED


Nesta quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014, palestrarei no  III Curso de Formação Política da Federação Nacional de Estudantes de Direito - FENED, abordando o tema Opressões e Intersecionalidade.

O curso está ocorrendo em Salvador. Para conhecer a programação completa, acesse http://cfpsalvador2014.wordpress.com/programacao

Todo o Poder Emana do Povo

Henfil!


"A noção de que todo o poder emana do povo não mais é entendida como uma conquista abstrata, porque restrita a princípios universalistas, mas como uma justificativa para a busca por novas formas de participação, para além do voto em representantes. É por meio dos novos movimentos sociais que as pessoas viabilizam, cada vez mais, uma democracia direta pautada pelo conceito de integração social.

O conflito é uma característica inerente, que ao invés de fragilizar a resolutividade das estratégias coletivas, reitera o caráter injusto/desigual do status quo, a partir do aumento da visibilidade das reivindicações desse e daquele grupo social ante à sociedade como um todo, condição essencial, de acordo com Silva e Camurça (2010), para que os problemas desses grupos deixem de ser vistos como particulares e passem a ser considerados uma injustiça.

(...) O posicionamento que reconhece a complexidade das ações coletivas no âmbito da sociedade civil organizada defende a potencialidade de eventos localizados, que à primeira vista podem parecer superficiais, de subsidiar transformações psicossociais e políticas:
os movimentos sociais são muito mais que a soma de suas lutas. Eles são um processo contínuo de ações coletivas com algumas características que lhes são próprias. São ações de longa duração, feitas para revisitar ou transformar uma situação econômica, cultural ou política, e envolvem uma grande quantidade de pessoas que passam a atuar juntas durante muito tempo e de forma organizada, ou seja, realizam ações deliberadas e planejadas (Silva, 2010, p. 7).
Desse modo, é fundamental, para aumentar a resolutividade dos movimentos sociais de cunho político-identitário, entre eles os de gênero, orientação sexual e raça/etnia destacados no presente texto, para além de tentar afetar a consciência desta ou daquela pessoa, questionar a consciência política da sociedade, contradizer a realidade social vigente, problematizar os estatutos e o cotidiano jurídico, para que o comprometimento com os outros, mais do que apenas fruto de empatias pessoais, resulte da convergência coletiva para o fim ou o apaziguamento de conflitos.

A formação de pessoas e, portanto, de grupos sociais, que reflitam sobre a sua realidade, criem uma nova moralidade e busquem transformar o Estado é crucial para se poder, a médio e a longo prazos, modificar o Estado que exclui essas pessoas, por meio da demonstração intelectual à sociedade — e da participação política, não necessariamente partidária — que o Estado criticado não une as pessoas e classes.

Essa ação coletiva é um dos estágios, o mais avançado, das relações intergrupais, e se define pelo aumento da consciência do grupo em desvantagem acerca da injustiça de sua condição, percepção essa que leva os oprimidos membros desse grupo a reavaliarem a forma como se reconhecem e são reconhecidos, a buscarem identificar as particularidades que os tornam únicos e a inovar em suas estratégias de competição com o outro grupo (Taylor & Moghaddam, 1994).

O compromisso que os diferentes agentes governamentais podem assumir no combate à discriminação e à violência decorrente da identidade social das pessoas, por meio de ações de cunho afirmativo, não ocorre desassociado da mobilização de grupos sociais, que se organizam como minorias ativas, para influenciar o Estado.

(...) A análise desenvolvida ao longo deste texto é realista, pauta-se no fato de que, quando se remete em mudanças sociais, o termo “a longo prazo” pode se referir a décadas, ou séculos.

Como defendia Del Prette (1990), o nível de análise da Psicologia sobre os movimentos sociais pode contribuir empiricamente na busca por explicações para esse fenômeno e as questões que ele coloca quanto a comportamento coletivo, afiliação, crença, identidade social e tantos outros fenômenos psicossociais" (Jesus, 2012, p. 179-181).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Tudo o que é Profundo Ama a Máscara

Imagem: Editoria de Arte/Folhapress (fonte aqui).


Alles, was tief ist, liebt die Maske [Tudo o que é profundo ama a máscara].
Friedrich Nietzsche, "Para Além Bem e do Mal", §40.


Ainda escreverei seriamente sobre essa que é chamada de "A Minoria Radical", mas tal não é o propósito desta brevíssima reflexão.

Primeiramente, preciso ser assertiva, e dizer/escrever que, em princípio, concordo com algum controle sobre a presença de mascarados nas manifestações, tendo em vista unicamente a segurança das pessoas ali presentes e a preservação do patrimônio.


Por outro lado, sinto, nos debates recentes sobre os protestos, que prevalece uma profunda ignorância, senão temor, acerca da fragmentação das identidades, e por consequência dos objetivos e lemas, na sociedade contemporânea.


Vale lembrar que: 1) não é de hoje a insatisfação das coletividades frente às poderosas, ineficientes e oligárquicas estruturas estatais, que segregam os bens sociais entre as elites e os outros, entre os capitalistas e os proletários; e 2) os interesses são sim difusos, fluidos. Ponto. Assim o são porque não se pautam exclusivamente pelas bandeiras partidárias ou de instituições orgânicas, como ocorria ao longo do Século XX.


Entender essas massas demanda uma sensibilidade que não esteja saudosa tanto do indivíduo romântico, que vive alheio à sociedade, quanto do sujeito como produto exclusivo da macro-estrutura, dos processos históricos-econômicos-sociais.


A indeterminação é uma palavra-chave para se compreender o jogo de querer-poder que aproxima as pessoas nas manifestações, desconhecidos entre si como indivíduos, mas reconhecidos como pares a partir da "afinidade" com princípios gerais ali compartilhados.


O caos e a violência não são trazidos do nada pelos que protestam, eles são revelados por estes como uma rotina da vida urbana. Com tal afirmação não estou endossando agressões e crimes que ocorrem nas manifestações, de maneira alguma, tão-somente identifico sua origem nas violações cotidianas que a maioria da população sofre, e que alguns nos protestos explicitam de maneira direta, bruta, sem elaborações, sem palavras. Explico, não justifico


No momento da manifestação, o anonimato não é importante, ao contrário do apregoam, com natural tom naturalizante, tantos pensadores imediatistas de tudo o que acontece nas multidões. Fundamental é a identificação social com as imagens, os atos, as mensagens e os não-ditos.


Neste mundo/país onde ser é ter e parecer, os mascarados assim se apresentam não apenas para se esconderem, mas também para simularem aquilo que desejam ser: revolucionários, agentes da mudança ou, simplesmente, gente antenada e proativa. Eles falam para os seus muitos intérpretes que são diversos os seus anseios, porém pouco detalhados.


Compreendê-los, desse modo, é um desafio que demanda certo tempo de observação e de reflexão, exercício para intelectuais. E ressalto: quando digo "intelectuais" não me refiro a portadores(as) de títulos ou de fama, mas a trabalhadores(as) do pensamento, que analisam o real e o reelaboram com apuro, sem se preocuparem em ceder à exigência de explicações por parte de quem deseja respostas, quaisquer que convençam, agora.


***
P.S.: A imagem que ilustra esta postagem me lembrou o título e algumas questões do livro "Pele Negra, Máscaras Brancas", de Frantz Fanon... O desenho também pode ser um mascaramento das peles dos que protestam.

Movimentos da População Negra: Marcha Zumbi

Primeira Marcha Zumbi (foto: sem identificação da autoria).


"Na sociedade brasileira, pautada por desigualdades raciais que demandam políticas públicas de difícil consolidação na atual conjuntura política (Jaccoud, 2008), a articulação entre as exclusões de gênero e de raça/etnia são permanentes, determinadas pelas estruturas de poder sexistas e racistas (Carneiro, 2003). Essa convergência de preconceitos potencializa as lutas comuns entre movimentos feministas e de raça/etnia.

Como aconteceu com outras representações coletivas da sociedade civil organizada, o movimento negro moderno, caracterizado pela busca por estratégias autônomas de organização e com foco na ação institucional, fortaleceu-se com a abertura política decorrente da decadência da ditadura militar dos anos 60 a 85 do século XX (Figueiredo & Cheibub, 1982).

De acordo com Nascimento e Nascimento (2000), a partir da organização de vários dos grupos existentes, formou-se, na cidade de São Paulo, no dia 18 de junho de 1978, o Movimento Unificado contra a Discriminação Racial, rebatizado no dia 23 de julho do mesmo ano como Movimento Negro Unificado, cujas diretrizes e teses até hoje influenciam orientações ideológico-práticas da sociedade civil negra organizada, dentre elas a desmistificação da democracia racial, o enfrentamento à violência policial, a internacionalização da luta antirracista e a introdução nos currículos escolares da História da África e dos negros no Brasil (Domingues, 2007).

A rediscussão da História era fundamental no entendimento do papel proativo dos negros para a formação do país. Aponta-se, como um elemento agregador de valores para esse grupo de ativistas negros, a figura e o martírio do líder Zumbi dos Palmares, modelo alternativo de libertação e de busca autônoma de igualdade, configurada na ideia de consciência, por parte da população negra, quanto a sua história, formação e metas (Fernandes, 1989).

O histórico de manifestações do movimento negro é pautado, mais recentemente, pela realização da Marcha Nacional 300 Anos Zumbi, popularmente conhecida como Marcha Zumbi, realizada em Brasília no Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro de 1995, evento que tornou visíveis várias reivindicações contemporâneas da população negra pela implantação de políticas públicas com recorte étnico-racial, reunindo cerca de 30 mil participantes (Centro de Estudos da Cultura Negra, 1995).

Em 16 de novembro de 2005 a marcha foi reeditada, como Marcha Zumbi + 10, orientando-se por um discurso comum de resistência intransigente, de necessidade de autonomia e independência dos movimentos negros frente aos diferentes partidos políticos e governos (Vieira, 2005)" (Jesus, 2012, p. 177-179).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Movimentos das Paradas do Orgulho LGBT

Primeira Parada do Orgulho, Nova Iorque. Fonte: QQ Magazine (2004).


"As Paradas do Orgulho LGBT, como protestos festivos que se utilizam da carnavalização para atrair pessoas, são uma expressão da exigência de uma parcela da sociedade por respeito ao princípio constitucional da cidadania, da não-discriminação e da liberdade de expressão (Jesus, 2010).

A visibilidade buscada pelos organizadores é mais do que tão-somente tornar visíveis no espaço social as pessoas marginalizadas; ela também é mais do que o discurso oficial de que os LGBT estão em todos os lugares; essa visibilidade é, literalmente, 'uma estratégia de posicionamento público que remete a uma nitidez dos modos de vida constituintes desse universo' (Toneli & Perucchi, 2006, p. 45).

No momento que esses diversos modos de vida que compõem a sigla LGBT apresentam suas particularidades, em um rito social da diferença, constroem junto com os demais cidadãos novos conceitos sobre sexualidade e identidade, sobre quais são os direitos da população LGBT e que espaços ela pode ocupar, que outrora sequer se imaginava.

Tendo em vista o preconceito ainda vigente contra essa população, que redunda na falta ostensiva de autoridades presentes nas paradas, para além de representações apenas simbólicas, hipotetiza-se que a participação massiva da população nas paradas, para além do aspecto festivo, tem relação com o sucesso dos organizadores em relacionar as variáveis 'valor do bem coletivo' e 'expectativa de que a participação pessoal ajudará a alcançar o bem coletivo', o que ressaltaria o caráter militante da participação coletiva.

Por outro lado, também pode ser considerada a influência das variáveis 'custos e benefícios em participar' e 'expectativa de custos e benefícios em participar e em não participar', levando-se em conta que a popularidade das paradas, que resulta em maior anonimato, pode representar para alguns participantes, um fator de segurança que diminui a percepção de custos sociais relacionados a participar de ações junto a um segmento estigmatizado da população" (Jesus, 2012, p. 177).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Movimentos do Gênero: Margaridas

Participação da Presidenta Dilma Rousseff na Marcha das Margaridas (foto: Reuteurs).


"Outra mobilização de mulheres, a Marcha das Margaridas, organizada por vários movimentos de trabalhadores rurais, com destaque para a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG.

Realizada nos anos 2000, 2003, 2007 e 2011, a marcha objetiva garantir e ampliar as conquistas das mulheres do campo e da floresta (Caminhada Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais, 2011), a partir de uma caminhada representativa na Esplanada dos Ministérios, avenida da Capital Federal em que se concentram os principais órgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais.

Na última edição da marcha, em 2011, foi estimada a participação de setenta mil pessoas, número replicado pelos meios de comunicação, e que contou com a participação, em seu encerramento, da Presidenta da República Dilma Rousseff, caracterizada com um chapéu de palha, o que demonstra, no mínimo, interesse em demonstrar proximidade, pelo menos afetiva, com as pautas das manifestantes.

A presença de uma destacada autoridade sugere forte influência das variáveis 'valor de reação de outros significativos' e 'reação esperada de outros significativos em participar e em não participar' no sucesso dessa mobilização.

O termo 'Margaridas' não remete apenas à flor, também é uma homenagem a alguém que se tornou símbolo da luta das trabalhadoras rurais: Margarida Alves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, assassinada em 12 de agosto de 1983" (Jesus, 2012, p. 174-175).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Movimentos do Gênero: Vadias

Marcha das Vadias, São Paulo (foto: Danilo Ramos). Fonte: Rede Brasil Atual (2011).


"A Marcha das Vadias, também conhecida como Marcha das Vagabundas, tem-se realizado em todo mundo, como evento articulado por meio das redes sociais. Iniciada em 3 de abril de 2011, na cidade de Toronto, no Canadá, como resposta coletiva a um policial que afirmou que mulheres que se vestem como vadias são responsáveis pela própria vitimização em ataques sexuais (Kwan, 2011).

O objetivo da marcha, desde sua criação, é se apropriar do conceito de “vadia” para se opor ao estereótipo da culpabilização das mulheres, quando agredidas, em função da exposição do seu corpo ou da sua sexualidade, defendendo o direito das mulheres a serem respeitadas, ipsis litteris:
No matter what I wear / Não importa o que eu vista
No matter what I look like / Não importa como eu pareça
No matter what my gender expression is / Não importa qual seja minha expressão de gênero
No matter how much, how little or what kind of sex I have / Não importa quanto ou que tipo de sexo eu faça
No matter what I've done before / Não importa o que fiz antes
No matter where I come from / Não importa de onde eu venha
No matter how my body has been 'devalued' by others / Não importa como meu corpo tem sido desvalorizado por outros
No matter what I've been called / Não importa do que eu tenha sido chamada
MY BODY IS NOT AN INSULT / MEU CORPO NÃO É UM INSULTO
(SlutWalk Toronto, 2011. Livre Tradução).
Assim, a concepção tradicionalmente negativa de vadia é desconstruída, para mostrar que não passa de uma estratégia de controle moral sobre os corpos, as vidas e os destinos das mulheres.

Essa questão também é apresentada pelas edições brasileiras da Marcha das Vadias, tendo em vista desafios semelhantes enfrentados pelas mulheres brasileiras.

Mais do que um protesto em favor do direito das mulheres sobre os próprios corpos, a Marcha das Vadias é uma articulação nas ruas das discussões feministas pela igualdade entre os gêneros.

A primeira edição realizada no Brasil, em São Paulo, no dia 4 de junho de 2011, contou com 300 participantes, segundo estimativa da Polícia Militar, de cerca de seis mil que confirmaram presença por meio de uma rede social (Sassaki, 2011). Em Brasília foram contabilizados mais de 800 participantes, de um total não conhecido de pessoas predispostas a participar (Mazenotti, 2011).

É significativo atentar para a importância atribuída ao dado numérico de que, dentre milhares de convocados, uma percentagem menor efetivamente participou do ato. Essa relação informados/participantes pode ser comparada com outros eventos, com repercussão equivalente, o que interessa é entender porque tal relação é ressaltada por quem relata sobre a mobilização" (Jesus, 2012, p. 173-174).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Movimentos Sociais e Religião

Marcha para Jesus, São Paulo (foto: Tatiane Moreira/AE). Fonte: O Estado de São Paulo (2011).


"Apesar de seu papel na constituição de identidades sociais ao longo da História do Brasil, apenas a partir dos anos 70 é que os movimentos sociais se tornaram objetos importantes de estudo para as Ciências Sociais, necessariamente convergindo para a Psicologia, ao nível de análise dos indivíduos, indissociável das estruturas sociais (Del Prette, 1991).

Para além de atos de transgressões da ordem, os movimentos sociais também podem expressar reafirmações do status quo, o que se apresenta de forma patente nas iniciativas de grupos religiosos, como as procissões, frequentes em qualquer localidade, realizadas quando as pessoas desejam rezar juntos, em caminhada, por alguma causa; e as romarias, peregrinações rumo a um santuário, decorrentes de datas comemorativas, a exemplo do Círio de Nazaré, na cidade de Belém do Pará, da cerimônia relacionada a Nossa Senhora Aparecida, no santuário erigido em seu nome na cidade paulista de Aparecida do Norte, ou mesmo da festa de Nosso Senhor do Bonfim, sincretizado na figura do orixá Oxalá, que se comemora na cidade de Salvador, envolvendo adeptos do catolicismo e do candomblé.

Os eventos religiosos mais destacados atualmente são as Marchas para Jesus, eventos de cunho protestante com características de massa, com atos realizados em todo o país.

Para além do discurso religioso, também é identificado, em algumas edições locais da Marcha Para Jesus, um nexo entre religião e política no Estado laico, quando, eventualmente, são pautadas, sob vieses conservadores, questões como a união homoafetiva:
'A marcha não deixa de ser um ato político', resumiu o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ligado a Igreja Universal do Reino de Deus. O discurso mais radical foi do pastor Silas Malafaia. Com palavreado vulgar, usando termos como 'otário' e 'lixo moral', Malafaia atacou duramente a decisão do STF de legalizar a união estável entre pessoas do mesmo sexo. 'O STF rasgou a Constituição que, no artigo 226, parágrafo 3º, diz claramente que união estável é entre um homem do gênero masculino e uma mulher do gênero feminino. União homossexual uma vírgula', disse o pastor (Galhardo, 2011).
Essa mistura de discursos religiosos e políticos encontra uma tradição que remonta a ações como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada por lideranças católicas em 19 de março de 1964, na Praça da Sé, em São Paulo, reunindo cerca de 500.000 participantes.

Segundo Oriá (2007), a manifestação, que visava protestar contra propostas inovadoras do governo do presidente João Goulart, conhecidas como reformas de base, que incluíam a reforma agrária, foi vista por alguns setores militares como uma forma de apoio para o Golpe Militar executado em 31 de março de 1964, mas construído a partir de complexas relações sócio-políticas que se desenrolavam ao longo de décadas" (Jesus, 2012, p. 171-172).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Afetividade

Imagem extraída daqui.


"Linhas contemporâneas de estudo da psicologia das massas têm questionado abordagens exclusivamente racionais do fenômeno do protesto e apontado para a importância das emoções e sentimentos nas relações interpessoais e intergrupais, considerando que um mesmo evento pode ter respostas afetivas diversas para diferentes sujeitos (Goodwin, Jasper & Polletta, 2001; Jesus, 2011a).

Apropriando-se da teoria da identidade social, essa perspectiva aponta para o fato de que a identificação com um grupo não é apenas cognitiva, mas também envolve aspectos afetivo-atitudinais com relação a esse grupo, seja se percebendo como membro dele ou como um “outro”, cuja identidade social é definida pela relação com o grupo.

Em uma situação de racismo contra pessoas negras, pessoas que se identificam como negras ou como opositoras da discriminação racial têm uma reação afetivo-atitudinal diferente de quem é favorável à discriminação racial ou simplesmente não percebe o racismo. Dentro do grupo identificado com as pessoas discriminadas podem haver diferentes gradações: do repúdio ao desespero, como dentro do grupo que não se identifica podem haver diferentes reações: da apatia ao apoio" (Jesus, 2012, p. 170).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

Identidade Social

Imagem extraída daqui.

"As pessoas se percebem e são percebidas como integrantes de um grupo social, identificação essa relacionada às crenças dos indivíduos, seus sentimentos e comprometimento com o grupo (Tajfel & Turner, 1979). A participação é explicada pela formação de uma identidade coletiva, que estimula as pessoas a protestar em nome dos grupos sociais com os quais se identificam (Melucci, 1989b; Simon et al., 1998)" (Jesus, 2012, p. 169).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Eficácia de Grupo

Fonte da imagem aqui.

"As pessoas acreditam na capacidade do grupo em realizar seus projetos, esse é o princípio fundamental da eficácia do grupo. De acordo com essa linha de pensamento, as pessoas se mobilizam socialmente porque têm a expectativa de que problemas relacionados a características grupais podem ser resolvidos com maior eficácia por meio da ação coletiva (Bandura, 1994) de um movimento social considerado eficiente" (Jesus, 2012, p. 169).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

A Morte de Stuart Hall

Stuart Hall, imagem extraída daqui.


Stuart Hall faleceu hoje, em Londres.

Se atualmente tanta gente fala de multiculturalismo, e com mais raridade das identidades culturais na pós-modernidade, destacando-se as identidades negras na Diáspora, é por causa desse grande pensador, pioneiro dos chamados Estudos Culturais, que para quem não sabe, era um homem de origem indo-africana e britânica, nascido na Jamaica.


Meus humildes e sinceros sentimentos, desde esta periferia do capitalismo global, herdeira das dores e dos horrores do colonialismo.

Clique aqui para conhecer melhor a biografia de Stuart Hall.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sentimento de Injustiça

Fonte da imagem aqui.


"De acordo com o princípio do sentimento de injustiça, as pessoas sentem que estão contribuindo mais para a sociedade do que têm de retorno, em um contexto de superação do desamparo aprendido, quando as pessoas deixam de acreditar, ou acreditam menos, que não têm controle sobre a situação. A predisposição para o protesto estaria mais relacionada à justiça procedimental (as pessoas sentem que o processo de tomada de decisões é justo, que estão sendo tratadas com respeito), considerada por Tyler e Smith (1998) como forte preditora de mobilização social." (Jesus, 2012, p. 169).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Referências sobre Pessoas Trans e Intersexualidade

Candy Darling, atriz. Mulher trans, faleceu em 1974.
Conheça um pouco sobre ela: http://en.wikipedia.org/wiki/Candy_Darling (em inglês).


Abaixo indico uma breve lista de referências disponíveis na internet, para quem quiser se aprofundar em discussões sobre pessoas trans e intersexualidade:


Almeida, Guilherme. (2012). 'Homens trans': novos matizes na aquarela das masculinidades?. Rev. Estud. Fem., 20(2), 513-523. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v20n2/v20n2a12.pdf


Aran, Márcia; Murta, Daniela & Lionço, Tatiana. (2009). Transexualidade e saúde pública no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, 14(4), 1141-1149. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232009000400020&lng=en&nrm=iso


Bento, Berenice. (2011). Na escola se aprende que a diferença faz a diferença. Estudos Feministas, 19(2), 549-559. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v19n2/v19n2a16.pdf


Bento, Berenice. (2013). Travestis e transexuais: construção de identidade [vídeo]. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=2Kf7vzRiw0I


Cabral, Mauro & Benzur, Gabriel. (2005). Cuando digo intersex. Un diálogo introductorio a la intersexualidad. Cadernos Pagu, 24, 283-304. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n24/n24a13.pdf


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Jesus, Jaqueline G. (2010). Transexualidade: breve introdução. Correio Braziliense, caderno Opinião, p. 13, 13 de setembro. Disponível em http://soropositivo.org/transexualidade-breve-introducao-artigo.html


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Lionço, Tatiana. (2009). Atenção integral à saúde e diversidade sexual no Processo Transexualizador do SUS: avanços, impasses, desafios. Physis, 19(1), 43-63. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312009000100004&lng=en&nrm=iso


Machado, Paula S. (2008). Intersexualidade e o “Consenso de Chicago”: as vicissitudes da nomenclatura e suas implicações regulatórias. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 23(68), 109-124. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v23n68/v23n68a08.pdf


Peres, William S. (2008). Travestis: corpo, cuidado de si e cidadania. Disponível em http://www.fazendogenero.ufsc.br/8/sts/ST61/Wiliam_Siqueira_Peres_61.pdf


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Teixeira, Flávia B. (2008). L'Italia dei Divieti: entre o sonho de ser européia e o babado da prostituição. Cad. Pagu, 31, 275-308. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n31/n31a13.pdf


Vencato, Anna P. (2003). Confusões e estereótipos: o ocultamento de diferenças na ênfase de semelhanças entre transgêneros. Cad. AEL, 10(18/19), 187-215. Disponível em http://segall.ifch.unicamp.br/publicacoes_ael/index.php/cadernos_ael/article/viewFile/76/78


Filmes:


Encontrando Bianca. Educativo. 2010. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=SJsGN69NGug


A Erotização de Mulheres Transexuais por Homens Heterossexuais. Educativo (em inglês, opção de legenda em português). 2011. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4pspzd1eDoY


Entre Lugares: a invisibilidade do homem trans (Curta Pernambuco 01.12). Reportagem. 2011. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=kJrTqw2HOwg


Reportagem Especial sobre Transexualidade. Reportagem. 2011. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=IJPSgMURhts&feature=fvst


Spot sobre Visibilidade Trans. Educativo. 2011. Disponível em http://vimeo.com/25863857


Transtorno de Gênero – Via Legal. Reportagem (o título não é adequado, porém o conteúdo é inclusivo). 2012. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=F2azQK2u_XM


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Aspectos Psicossociais da Mobilização

Passeata dos 100 Mil, 1968.

"As sociedades contemporâneas são caracterizadas pela pluralidade de sujeitos participativos e pela descentralização do espaço político (Prado, 2001). Em tal conjuntura, a ciência psicológica social, por meio de seus pesquisadores e profissionais que aplicam conhecimentos científicos às demandas cotidianas, tem cada vez mais buscado entender os movimentos sociais.

A relação dos movimentos sociais com a constituição psicossocial dos seus participantes, como integrantes de uma coletividade, é expressa no reconhecimento público das identidades coletivas que ali se visibilizam, e se reflete no própria percepção dos participantes quanto à mobilização e a si mesmos, de modo que os movimentos sociais apresentam a capacidade de:
produzir novas formas de pertencimento grupal (implicação emocional dos envolvidos), e a ampliação das redes de relações intra e inter grupos. Não obstante, as transformações operadas nessa dimensão vão influenciar aspectos mais estruturais do cotidiano desses grupos e no imaginário deste segmento social (Machado & Prado, 2009, p. 1).
Considerando-se que um movimento social tem repercussões psicossociais, o seu sucesso não depende de tamanho, organização, qualidade da liderança ou sofisticação, mas da sua capacidade de expressar sentimentos, ressentimentos, preocupações, temores, ânsias e esperanças da coletividade que ele agrega, e do quanto pode ser visto como veículo para solução de problemas generalizados (Milgram & Toch, 1969).

Em uma perspectiva psicossocial, considera-se que as pessoas se organizam em grupos e protestam em nome de uma causa comum, muitas vezes sacrificando seu conforto pessoal, por várias razões, que podem estar fundamentadas em diferentes fatores, entre eles: sentimento de injustiça, eficácia de grupo, identidade social e afetividade" (Jesus, 2012, p. 168-169).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Movimentos Sociais e Polêmicas


"As mobilizações da sociedade civil organizada, como as marchas, paradas, ocupações, podem ser definidas como ritos, ao romperem temporariamente com a rotina e realizarem performances de identidades e papéis sociais não-hegemônicos (Jesus, 2010).

Os ritos sociais são uma forma de comunicação simbólica, contém mensagens metafóricas que 'informam sobre os sistemas cosmológicos daqueles que os realizam (...). Servem como indícios sobre os pensamentos e sentimentos dos atores' (Galinkin, 2001, p. 28).

A performance ritual dá distintividade a seus realizadores, tornando público quem são eles. As identidades são explicitadas de forma ritualizada, e a repetição do ritual tem, ainda, um papel pedagógico, transmitindo as ideias, crenças e representações do grupo que o realiza para os iniciantes e para os grupos externos.

Como exemplo, tanto o carnaval quanto a marcha política, para Peirano (2003), constituem-se como rituais, na acepção de que, no ritual carnavalesco, prevalece 'a sugestão de que o momento extraordinário pode se transformar em rotina' (p. 44), enquanto na marcha política, a natureza ritualística está em seu caráter sacrificial, remontando, como evento único e especial, às procissões, mas partindo dessa estrutura para dispor de seu caráter questionador.

Reitera-se a importância desse caráter de ritualização das mobilizações porque ele permite aos seus participantes vivenciar qualitativamente o que acontece, em uma perspectiva não-linear, como aponta Gouveia (2011), de 'momento certo ou oportuno. (...) tempo em sua forma de possibilidade' (p. 97).

Essa potencialidade permite aos movimentos sociais propor, até mesmo, a discussão de temas polêmicos ou mesmo envolvendo atos ilegais, como o uso de drogas ilícitas, cuja liberalização é proposta pela Marcha da Maconha, realizada em todo o mundo, com base em um calendário de ações locais. O coletivo organizador das ações da marcha no Brasil aponta como seus objetivos:
Criar espaços onde indivíduos e instituições interessadas em debater a questão possam se articular e dialogar; Estimular reformas nas Leis e Políticas Públicas sobre a maconha e seus diversos usos; Ajudar a criar contextos sociais, políticos e culturais onde todos os cidadãos brasileiros possam se manifestar de forma livre e democrática a respeito das políticas e leis sobre drogas; Exigir formas de elaboração e aplicação dessas políticas e leis que sejam mais transparente, justas, eficazes e pragmáticas, respeitando a cidadania e os Direitos Humanos (Coletivo Marcha da Maconha, 2012).
Reitera o coletivo que 'não têm a intenção de fazer apologia à maconha ou ao seu uso, nem incentivar qualquer tipo de atividade criminosa' (Coletivo Marcha da Maconha, 2012). Nesse aspecto, o Supremo Tribunal Federal – STF garantiu no ano de 2011, em decisão unânime, a realização da referida marcha no Brasil, ao entender que o debate quanto à descriminalização não é equivalente ao ato de incitação ou apologia ao ilícito.

No entendimento do ministro Celso de Mello, decano da corte, 'o debate sobre abolição penal de determinadas condutas puníveis pode ser realizado de forma racional, com respeito entre interlocutores, ainda que a ideia, para a maioria, possa ser eventualmente considerada estranha, extravagante, inaceitável ou perigosa' (Notícias STF, 2011)" (Jesus, 2012, p. 167-168).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Movimentos da Sociedade

Cena extraída do videoclipe Fight the Power, do grupo Public Enemy. Assista aqui.

"Mudanças na sociedade demoram, e só acontecem quando há mobilização. Nos últimos anos testemunhamos a ascensão ao poder de algumas pessoas oriundas de grupos sociais outrora excluídos, e não necessariamente de um número significativo de representantes de tais grupos. Um negro e uma mulher foram eleitos, respectivamente, presidentes dos Estados Unidos da América e do Brasil.

No Brasil, as mulheres conquistaram o direito de votar, com restrições, por meio do Código Eleitoral Provisório, de 24 de fevereiro de 1932, e sem restrições somente em 1946. Nos Estados Unidos, somente em 1965, com a promulgação da Lei dos Direitos Civis, foi garantido o direito de voto aos negros.

Essa distância de décadas entre o direito ao voto e a eleição para o cargo máximo da nação não é tão grande como pode parecer, em termos de sociedades regidas por Estados que definiram suas regras ou procedimentos em torno da exclusão de parcelas de sua população.

O Estado moderno busca organizar e controlar a nação por meio de vários mecanismos, como o do monopólio da violência legítima, destacado por Weber (2003), que não se restringe à força policial, está também imbricado na coerção inerente às Leis, que obrigam os cidadãos a cumprirem deveres e lhes outorgam direitos.

Apesar de se relacionar e depender da sociedade, o Estado é diferente da sociedade que o sustenta. Ela muda, é feita de paixões e desejos; o Estado é pouco flexível e não necessariamente representa todas as individualidades, pois, retomando-se Marx (1968), a luta de classes que pauta a História da humanidade incorre em que são os interesses de classes sociais dominantes que determinam os propósitos e ações do Estado, o qual impõe às classes dominadas essa organização, perpetuando diferenciações e exploração.

Entretanto, Moscovici (2011) defende que, apesar do domínio de um grupo sobre o outro, o grupo dominado, mesmo marginalizado, pode influenciar o grupo dominante, por meio de uma ação coletiva e organizada que envolva a difusão de novas ideias e concepções de mundos a partir do conhecimento de sua realidade diferenciada daquela da maioria.

Permitindo-se uma extrapolação das fronteiras entre a Psicologia Social e a Ciência Política, é possível pensar que a teoria de Moscovici, denominada das Minorias Ativas, concorda com a noção de intelectual orgânico de Gramsci (1989), para quem a única forma de modificar as estruturas é conhecê-las, e dentro delas fazer mudanças.

Não há apenas intelectuais profissionais, todos podem ser intelectuais, desde que componham um agrupamento autônomo que assume a função social de porta-voz de um grupo, elaborando, com seus próprios métodos, 'sua própria consciência, sua própria cultura' (Gramsci, 1978, p. 1547)" (Jesus, 2012, p. 165).

Jesus, J. G. (2012). Psicologia social e movimentos sociais: uma revisão contextualizada. Psicologia e Saber Social, 1(2), 163-186. Disponível em http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/psi-sabersocial/article/view/4897/3620

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Hoje tem Festa no Mar!

Casa de Iemanjá, no Rio Vermelho.
Aquarela de Maria Verônica Martins, gentilmente divulgada pela Casa de Oxumarê, que se localiza na Federação, em Salvador.

Hoje é Dia de Iemanjá, Rainha do Mar!
Odoiá! Odofiabá!

DOIS DE FEVEREIRO
Dorival Caymmi

Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A salvar Iemanjá

Dia dois de fevereiro
Dia de festa no mar
Eu quero ser o primeiro
A salvar Iemanjá

Escrevi um bilhete a ela
Pedindo pra ela me ajudar
Ela então me respondeu
Que eu tivesse paciência de esperar

O presente que eu mandei pra ela
De cravos e rosas vingou

Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou!

Chegou, chegou, chegou
Afinal que o dia dela chegou!


Arte de Carybé.
"Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá"!
(Iemanjá, Rainha do Mar. Compositores: Pedro Amorim e Sophia De Mello Breyner).

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Pessoa trans: Compromisso Ético-Político da Psicologia


O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP-01) convida as psicólogas e os psicólogos da região para a Roda de conversa: Orientando a profissão - Tema: "Pessoa trans: Compromisso ético-político da Psicologia".

O encontro acontece na próxima quarta-feira (05 de fevereiro), às 19h, na sede da autarquia.

O CRP-01 fica no SRTVN QD 701, Ed. Brasília Rádio Center - Ala A - 4º AndarParticipe!

Mais informações pelo email comunicacao@crp-01.org.br e pelo telefone (61) 3030-1010 ramal 423.