domingo, 29 de abril de 2012

Você precisa saber do Cheng Guangcheng

Expressões de apoio a Chen na internet chinesa. Como o governo bloqueou a busca pelo seu nome, simpatizantes recorrem a imagens, mais difíceis de serem detectadas pela censura oficial. Na foto abaixo à direita, mulher mostra mensagem "Força, Chen".
De http://vistachinesa.blogfolha.uol.com.br.
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Fabiano Maisonnave, de Pequim
Dos centenas, talvez milhares de presos políticos chineses, nenhum caso parece tão injusto e covarde quanto o do avogado de direitos humanos Chen Guangcheng, que há uma semana escapou de 19 meses de cárcere privado ilegal e agora está sob a proteção da embaixada americana.
Cego e autodidata, Chen, 40, tem uma história de superação única num país em que os deficientes físicos têm pouquíssimas oportunidades. Até 2004, ele era celebrado pela imprensa estatal como um exemplo a seguir. Até que começou a defender centenas de mulheres coagidas, inclusive por meio de sequestros, a abortar e a passar por operações de esterilização para cumprir com o rígido controle populacional (“política do filho único”).
Em 2005, Chen foi colocado em prisão domiciliar na sua vila natal, na zona rural da Província de Shandong (leste da China). No ano seguinte, foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por “destruição de propriedade” e “obstrução do tráfico”, num processo feito às pressas e sem o devido rito jurídico.
Solto em outubro de 2010, foi novamente colocado em prisão domicilar. Durante esse período, ele e a sua família eram constantemente espancados e humilhados. Na sexta-feira, cinco dias depois da sua fuga, Chen conseguiu divulgar um vídeo (aqui, com subtítulo em inglês) em que relata a rotina infernal de sua família nos últimso meses. Numa estratégia para proteger a sua família, que ficou para trás, ele se dirige ao premiê Wen Jiabao, tido como pró-reforma política, e lhe dá a presunção de inocência, jogando a culpa nas autoridades de seu condado.
Qualquer um que acompanha minimamente o caso sabe que não é assim. O governo central é, obviamente, cúmplice do seu suplício. Além da prolongada situação ilegal do cárcere privado, já havia vários relatos de espancamento dele e de seus familiares.
A própria reação à fuga também demonstra que não se trata de uma injustiça meramente local. Várias pessoas que colaboram para a sua fuga foram presas fora da região. Uma delas, He Peirong, que levou Chen no seu carro até Pequim, foi presa em Nanking, a centenas de quilômetros da casa do ativista, e o seu microblog na weibo (Twitter chinês), apagado.
A seguir, a transcrição em português feita por este correspondente do depoimento de Chen Guangcheng divulgado na sexta. Os grifos são meus.
É de embrulhar o estômago.
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“Querido premiê Wen Jiabao,
finalmente escapei. Todas as histórias na internet sobre o tratamento violento que recebi das autoridades de Linyi [região administrativa onde mora], posso testemunhar pessoalmente que são verdadeiras. A realidade é até mais dura do que as histórias que estão circulando.
Premiê Wen, faço formalmente três pedidos.
Primeiro, gostaria que você interviesse pessoalmente neste assunto enviando uma equipe de investigação para descobrir a verdade. Aqueles que pediram que a polícia e funcionários do condado invadissem a minha casa, me espancassem e me ferissem também me negaram atenção médica. Tudo isso sem nenhuma base legal ou com oficiais usando uniforme. Quem quer que tenha tomado a decisão tem de ser investigado e punido de acordo com a lei. Suas ações são tão crueis que mancharam enormemente a imagem do Partido Comunista.
Eles invadiram a minha casa e mais de uma dúzia de homens atacou a minha mulher. Eles a imobilizaram e a amarram num lençol, socando-a e chutando-a por horas. Eles também me atacaram violentamente. Zhang Jian… muitos dos policiais do condado que conhecemos, como He Yong, Zhang Shengdong… E os homens que repetidamente bateram na minha esposa antes que eu fosse solto da prisão, como Li Xianli, Li Xianqiang, Gao Xinjian etc. Todos eles têm de ser confrontados seriamente. Há também outro homem cujo sobrenome é Xue.
Como parte atingida, eu os acuso dos seguintes crimes: quando ele vieram a minha casa para nos atacar, Zhang Jian, o vice-secretário do partido encarregado da segurança da vila de Shuanghou, disse claramente para mim: “Nós não nos importamos com a lei e nós vamos ignorar a lei. E o que que você pode fazer a respeito?” Eles repetidamente enviaram pessoas a minha casa para nos atacar e nos roubar.
Li Xianli, que encabeça o time 1, que ilegalmente me confinou na minha casa, repetidamente bateu na minha mulher _uma vez inclusive arrancando-a da bicicleta para atacá-la. Ele também bateu na minha mãe. Simplesmente monstruoso. Li Xianqiang, um funcionários judicial da cidade, espancou a minha mulher no ano passado, machucando seriamente seu braço esquerdo.
O homem que guarda a entrada da vila e atacou [o ator americano] Christian Bale, eu entendo que seu nome é Zhang Shenghe, um funcionário municipal. Ele é o “casaco militar”, na descrição de internautas. Em fevereiro, ele também lançou pedras na equipe da CNN. Foi ele, não há dúvidas, eu sei disso.
Também ouvi que alguns internautas foram atacados por guardas femininas. De início, eu não sabia que havia guardas femininas. Então aprendi que aquelas chamadas guardas valentonas eram chefes de assuntos femininos das vilas da região ou seus familiares.
Há Gao Xinjian e muitos outros cujos nomes não sei. Sei que eles são policiais, mesmo que não usem uniformes e neguem ser da polícia. Eu os perguntei sua identidade, e eles zombaram: “Somos enviados pelo partido e trabalhamos para o partido”. Eu não acredito neles. No máximo, trabalham para algum funcionário corrupto do partido.
Do que eu aprendi, além de vários outros funcionários, cada time que me vigiava tem mais de 20 pessoas. Eles têm três times com um total de 70 a 80 pessoas. Quando mais internautas tentaram me visitar recentemente, eles tinham várias centenas de pessoas ao mesmo tempo e completamente selaram a vila.
Na minha casa, eles mantêm uma equipe do lado de dentro e outra fora vigiando os quatro cantos. Um pouco mais longe, eles bloqueiam todas as ruas que levam a minha casa, desde a entrada da vila. Eles têm até mesmo sete ou oito pessoas vigiando as pontes nas vilas vizinhas. Esses funcionários corruptos atraem pessoas de vilas vizinhas para isso e têm carros patrulhando áreas a um raio de 5 km da minha vila ou até mais longe.
Além de todas essas camadas de segurança em volta da minha casa _acho que são sete ou oito camadas_, eles também numeraram todas as estradas que levam a minha vila, com até 28 guardas em cada uma delas diariamente. Toda a situação é muito exagerada. Entendo que o número de funcionários e policiais que participam da minha vigilância chega a cem pessoas. Eles repetidamente nos machucam ilegalmente, e eu peço uma investigação profunda.
Em segundo lugar, embora esteja livre, as minhas preocupações estão apenas se aprofundando. A minha mulher, a minha mãe e crianças ainda estão em suas mãos perversas. Eles vêm perseguindo a minha família por um longo tempo, e a minha fuga apenas o farão vingativos. Essa situação apenas ficará pior.
Eles uma vez quebraram a o osso orbital esquerdo da minha mulher [região do olho]. Ela sofre de protusão do disco lombar devido a todos os espancamentos, e há ainda caroços em suas costelas devido a agressões físicas. A ela lhe foi negada cruelmente tratamento médico.
Minha mãe idosa, em seu aniversário, foi empurrada e sua cabeça bateu no piso. Ela chorou e os acusou de atacar uma mulher idosa. Eles se burlaram: “É verdade, somos jovens e é por isso que você não pode nos bater”. Que falta de vergonha, que injusto e que cruel.
A minha criança vai para a escola primária escoltada por três guardas. Eles checam a sua mochila todos os dias e examinam seus livros escolares. Eles a impedem de deixar a área da escola ou da casa.
De 29 de julho e 14 de dezembro do ano passado, eles cortaram a eletricidade da minha casa. Desde fevereiro, eles impediram a minha mãe de sair para comprar comida, fazendo a nossa vida extremamente difícil.
Estou muito preocupado. Eu imploro aos internautas a prestarem mais atenção à minha família para garantir a sua segurança. Eu também imploro ao governo chinês para que garanta a segurança da minha família baseado nos princípios do Estado de direito e da proteção dos interesses da população. Se algo acontecer a minha família, vou perseguir esse propósito sem parar.
Em terceiro lugar, muitas pessoas se preocupam por que a minha situação vem se arrastando por tanto tempo sem uma solução. Posso dizer isto: é por causa das autoridades locais. Os tomadores de decisão e os que as cumprem não têm intenção de resolver isso. Os tomadores de decisão têm medo que seus crimes sejam expostos. Para os que cumprem as decisões, há muita corrupção envolvida.
Eu me lembro que, quando eles me humilharam em agosto, ao estilo da Revolução Cultural, eles me disseram: “Você disse no seu vídeo [divulgado no ano passado] que 30 milhões de yuan [R$ 8,9 milhões] foram gastos [na prisão domiciliar]”, que isso era um número de 2008. Agora, a quantidade é mais do que o dobro e isso não inclui suborno para oficiais de altos cargos em Pequim. Alguns dos guardas reclamam que eles ganham muito pouco, já que a maioria do dinheiro vai para outros.
Há nisso uma grande oportunidade para todos fazerem dinheiro. Como entendo, a municipalidade dá dinheiro para que os líderes das equipes contratem guardas, e cada um deles deveria ganhar 100 yuan [R$ 30] por dia. Aqueles líderes de equipe dizem a seus potenciais contratados que só vão ganhar 90 dos 100 yuan. Como a maioria dos camponeses ganha de 50 a 60 yuan trabalhando no campo, e o trabalho de guarda é considerado seguro e confortável, com refeições incluídas, obviamente que as pessoas querem o trabalho. Em apenas uma equipe, com mais de 20 guardas, o líder consegue 200 yuan extras por dia. Que tão corrupto é isso?
O líder da equipe que vigia a minha mulher vende vegetais que ele planta para as equipes. Essas coisas são bem conhecidas, mas nenhuma pessoa comum pode fazer algo a respeito.
Com relação ao orçamento da “manutenção da estabilidade”, eles nos disseram que o condado daria à municipalidade vários milhões de yuan, mas que os funcionários ainda reclamam de pouco dinheiro. Você pode ver a grave corrupção envolvida no processo e como eles abusam do poder e do dinheiro.
Premiê Wen, gostaria de vê-lo investigar e punir esse oficiais corruptos que desperdiçam o nosso dinheiro de impostos para machucar pessoas inocentes assim como a imagem do partido. Quando cometem crimes desprezíveis, eles sempre dizem que estão fazendo o que o partido pede.
Premiê Wen, todas essas ações ilegais têm deixado muitas pessoas perplexas _trata-se apenas de funcionários locais violando a lei de forma flagrante ou eles têm o apoio do governo central? Espero que você dê ao público uma resposta clara no futuro próximo. Se tivermos uma investigação profunda sobre o meu caso e anunciarmos o resultado, acho que as pessoas apreciariam. Se você continuar a me ignorar, o que o público pensará?”
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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Apresentação Hoje no Simpósio sobre Desigualdades

Hoje, às 14h30, farei minha apresentação oral no Simpósio Nacional sobre Democracia e Desigualdades, que está ocorrendo desde segunda-feira na Universidade de Brasília, como já informei em postagem anterior, na qual detalhei o meu trabalho, sobre movimentos sociais sob o enfoque de gênero, orientação e raça/etnia (clique aqui para lê-la).
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domingo, 22 de abril de 2012

sábado, 21 de abril de 2012

Brasília, 52

Doodle de hoje do Google, em homenagem ao aniversário de Brasília.
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Aniversário de fundação da nova Capital Federal do Brasil. Orgulho da coragem dos que sonharam e puseram a mão na massa para fazer uma cidade surgir do chão em poucos anos. Vergonha da degradação cultural e logística da nossa cidade.
Ainda há muito o que fazer para que Brasília chegue perto da utopia sonhada.
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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Holograma Próximo da Perfeição

Na foto, o rapper Snoop Dogg interage com o holograma de Tupac Amaru Shakur.
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Impressionantes os avanços tecnológicos. A última realização, que me fascinou, foi um holograma do rapper Tupac Amaru Shakur, morto em 1996, apresentado este ano no festival de música e artes Coachella, nos Estados Unidos.
Assista este vídeo (aqui) e testemunhe o alto nível já alcançado para essa técnica, que possibilita não apenas representar movimentos da pessoa, mas até mesmo criar frases ou palavras que ela nunca disse (o festival começou em 1999, portanto Tupac não o conheceu, porém o holograma fala: "Hello, Coachella!". Imagine as possibilidades.
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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Orientações sobre Identidade de Gênero - e-book

Encontra-se disponível, no site do Núcleo de estudos e pesquisas em gênero e sexualidade da Universidade Federal de Goiás - Ser-Tão, o e-book Orientações Sobre Identidade de Gênero: Conceitos e Termos, publicação gratuita e de livre acesso.
Clique aqui para acessar o material.
Conheça os depoimentos de leitores sobre o livro:
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"Entrei no link e também achei interessante o seu livro assim como todo o conteúdo do site. Espero aprender cada vez mais"!
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"Gostaria de agradecer sua solidariedade de socializar esta jóia!, seu livro digital é muito legal, conceitos e termos diversos em gênero e sexualidade. Sou médica da estratatégia saúde da família e são tantas" prioridades" que muitas vezes torna-se até invisivel trabalhar sobre esta diversidade, eu fiz especialização em saúde mental, ia trabalhar minha monografia ,sobre um paciente de mais de quarenta anos de idade num interior do sertão, que me veio para uma consulta e nunca tinha recebido nem um tipo de cuidado pelo sus e era um hermafrodita, imagine quanto sofrimento psiquico e uma vida anulada, tive outro caso de um jovem corajoso, transexual, que sonha em fazer a cirurgia e nunca teve nem acesso a saber por que porta entrar pelo Sus,enfim voce sabe muito mais que eu que esa questão deve ser incluida tato na sociedade como um todo com em nós profissionais que fazemos o Sus, aqui na paraiba tá elevando-se o numero de crime homofóbicos. gostaria de te sugerir um curta muito legal produzido aqui na Pb sobre dois travestis no cariri Paraibano é " Amanda e...... eita esquecin o momento vou te enviar depois ok, o titulo , o diretor e o acesso.
Finalizo agradecendo e parabenizando-lhe por seu trabalho".
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Gostei muito do seu livro. Sou estudante de Serviço Social e cursei duas disciplinas de gênero e sexualidade e achei o tema muito interessante. Vou indicar o seu livro para meu professor de Gênero, Sérgio Aboud/ UFF.
Parabéns pelo livro".
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sábado, 14 de abril de 2012

Estranho Fruto / Strange Fruit

Esta canção é para os que estão fartos de tanto ódio, tanta discriminação, tanta exclusão que não cessa, que só gera pessoas que se divertem com o medo do outro, que se orgulham da desvalorização do outro.
Vocês que alimentam toda forma de discriminação e segregação, que são contra a inclusão dos grupos sociais historicamente discriminados, contra seus direitos: o fruto das suas ameaças, do seu trabalho sujo e agressões é sangrento, e fede a carne queimada... Basta de tão horrenda colheita.
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Strange Fruit / Estranho Fruto
De Abel Meeropol, professor judeu, sobre o linchamento de dois homens negros no Sul dos Estados Unidos, Thomas Shipp e Abram Smith, em 7 de agosto de 1930, acima retratado.
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Southern trees bear strange fruit, / As árvores do Sul estão carregadas com um estranho fruto,
Blood on the leaves and blood at the root, / Sangue nas folhas e sangue na raiz,
Black body swinging in the Southern breeze, / Um corpo negro balançando na brisa sulista
Strange fruit hanging from the poplar trees. / Um estranho fruto pendurado nos álamos.
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Pastoral scene of the gallant South, / Uma cena pastoral no galante Sul,
The bulging eyes and the twisted mouth, / Os olhos esbugalhados e a boca torcida,
Scent of magnolia sweet and fresh, / Perfume de magnólia doce e fresco,
Then the sudden smell of burning flesh! / Então o repentino cheiro de carne queimada!
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Here is fruit for the crows to pluck, / Aqui está o fruto para os corvos arrancarem,
For the rain to gather, for the wind to suck, / Para a chuva recolher, para o vento sugar,
For the sun to rot, for the trees to drop, / Para o sol apodrecer, para as árvores fazer cair,
Here is a strange and bitter crop. / Eis aqui uma estranha e amarga colheita.
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Ouça na interpretação clássica de Billie Holiday aqui.
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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Nossa História está sendo Destruída nos Tribunais

“Os documentos produzidos pelo Judiciário não pertencem a esse Poder, mas a toda a sociedade”.
Fonte aqui.
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URGENTE: Adiamento Palestra de Hoje

Prezados alunos do Gestão Com Pessoas,
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POR MOTIVO DE FORÇA MAIOR, NÃO SERÁ REALIZADA A PALESTRA DE HOJE COM A DECANA, no Anf. 3 da UnB.
Oportunamente divulgaremos nova data.
Grata pela compreensão!
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quinta-feira, 12 de abril de 2012

"Meu maior sonho é ser traficante"...

Muito triste.
Abaixo copio a imagem divulgada por um colega, era uma prova de redação, em uma região do país que não vou citar. Não faz diferença. Tema: "O meu maior sonho".
Para além de criticar a jovem, creio que é preciso entender o que está ocorrendo na sociedade brasileira, orientada por desejos consumistas, pela objetificação dos seres humanos, corrupção generalizada do governo e deslaicização do Estado.
Considero importante divulgar essa imagem para refletirmos sobre os sonhos (ou falta de sonhos) que têm permeado os rumos de nossa sociedade e (des)orientado os jovens. Como psicóloga social, entendo que os valores das pessoas refletem os valores do seu grupo/comunidade/sociedade. Essa garota não é a única que pensa assim, devemos nos perguntar o que as escolas, as famílias, os amigos, as personalidades públicas, as autoridades e nós, cidadãos, temos feito para mudar esses valores.
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terça-feira, 10 de abril de 2012

Crimes de Ódio contra Moradores de Rua

Fonte da foto aqui.
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Asa Sul, Brasília, 20 de abril de 1997, madrugada de domingo: cinco jovens ateiam fogo em Galdino Jesus dos Santos, líder indígena da etnia Pataxó Hã Hã Hãe, porque pensavam que era um mendigo.
Barra da Tijuca, Rio, 23 de junho de 2007, madrugada de sábado: quatro rapazes roubam e espancam a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, porque achavam que era uma prostituta.
São João da Boa Vista, interior de São Paulo, 15 de julho de 2011, noite de sexta-feira: sete homens agridem pai e filho, decepando parte da orelha esquerda do pai, porque os confundiram com um casal gay. Seria exaustivo listar centenas de outros crimes como esses, apenas nas últimas décadas, que se repetem.
O nível mais acentuado de manifestação coletiva de desvalorização do outro é o ódio. Crimes de ódio são motivados por preconceito contra características que identifiquem alguém como parte de um grupo discriminado, e se expressam da forma mais brutal e covarde: a agressão em grupo, incluindo linchamentos.
O ódio se manifesta em circunstâncias como as das recentes execuções de moradores de rua em Santa Maria e no Areal (aqui em Brasília, porque entendo que Brasília é toda a área urbana do Distrito Federal), decorrentes da banalização da violência, e não por vivermos em uma época e sociedade especiais, em que a vida tem pouco valor. Basta lembrarmos que, apenas no século XX, vivemos nazismo, holocausto, apartheid, segregação racial, genocídio dos armênios e muitos outros episódios trágicos, para reconhecermos que a História da Humanidade é repleta de ódio e pouco valor dado à vida dos outros.
A diferença da nossa época para as anteriores é que vivenciamos um contexto democrático, de proteção aos cidadãos. Entretanto, não bastam legislações humanistas se a sociedade banaliza os direitos das pessoas. Crimes de ódio não surgem porque a sociedade os banaliza, eles ocorrem porque alguns indivíduos identificam, nessa sociedade que banaliza determinados cidadãos, as condições ideais para exercerem impunemente seu ódio.
Se há algo de que se pode acusar a sociedade brasiliense, em particular, é que o mal já era banalizado antes dos crimes contra moradores de rua. Apesar de ser comum, será normal que seres humanos, incluindo crianças e adolescentes, vivam expostos às intempéries, sob condições deploráveis? Pessoas em situação de rua também têm personalidade, desejos, necessidades, gênero, cor, orientação sexual, idade. Valorizá-los significa auxiliá-los a sair daquelas condições, dignamente, para que possam viver plenamente as suas próprias histórias.
Os moradores de rua são a face mais precarizada de sociedades que não promovem a melhoria da qualidade de vida de cidadãos pobres ou sujeitos a diversos riscos sociais.
Esta sociedade também banaliza antigos preconceitos contra vários segmentos da população, expressos primeiramente nas escolas, e que apenas ganharam destaque ao receberem o nome de bullying, e tratados como se fossem parte de um fenômeno novo, apesar de sempre terem ocorrido, mesmo não sendo visíveis como atualmente.
A omissão dos indivíduos e a inação do Estado ajudam a preservar ódios incontidos dos que se aproveitam da quietude matutina ou da escuridão noturna para ridicularizar ou agredir pessoas abandonadas, algumas vezes estigmatizadas como vagabundas ou criminosas.
Muitos cidadãos se sensibilizam com o sofrimento dos outros, neste caso o dos moradores de rua, mas para realmente mudarmos tal situação, não são suficientes constatações como a de que a probabilidade de casos de violência aumenta em áreas urbanas densas ou de que o mal é banalizado.
Punir os criminosos é o mínimo. Entretanto, outras agressões e assassinatos infelizmente continuarão ocorrendo enquanto não houver inclusão socioeconômica das pessoas desabrigadas, para que se tornem cidadãos com trabalho e moradia, e vivam, além de apenas tentarem sobreviver.
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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Negação do Corpo Feminino

Life in plastic, performance de Sussa Rodrigues.
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Abaixo segue transcrição do artigo A Negação do Corpo Feminino, de minha autoria, publicado no dossiê Narrativas em Redes Sociais, edição 02/2012 do Observatório Mídia & Política, do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, entidade ligada ao Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (leia a publicação no Observatório aqui).
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A NEGAÇÃO DO CORPO FEMININO
Jaqueline Gomes de Jesus*
O mundo virtual gera espaços para a pluralidade de vozes e imagens de e sobre mulheres, todas as mulheres.
Os meios midiáticos, como processos comunicacionais baseados em práticas e discursos sociais, produzem subjetividades a partir da difusão de signos de toda espécie, gerando comportamentos, fortalecendo ou enfraquecendo ideologias. No campo das discussões sobre gênero, enquadram-se nas tecnologias do gênero mencionadas por Lauretis (1994), que produzem, promovem e implantam representações sobre masculinidades e feminilidades. O corpo feminino é mercantilizado, especialmente em propagandas, mas não somente nelas, por meio da divulgação de determinadas imagens, em contextos nos quais é tratado como produto, ou como um bônus, para o possível consumidor, na aquisição de um produto relacionado àquelas imagens.
Não qualquer corpo, mas alguns corpos. Quais? Quem assiste ou lê qualquer mídia audiovisual ou impressa e está minimamente atento(a) sabe que, geralmente, há corpos privilegiados: brancos ou pálidos, magros ou esquálidos, até mesmo voluptuosos. Nenhum meio-termo. São corpos marcados como “melhores” (em 2010, a norte-americana Fitness Magazine conferiu à filha do roqueiro Ozzy Osbourne o título de “Melhor Corpo de 2010”, ela tinha perdido 20 quilos para participar de um reality show), ou até mesmo, popularmente, como corpos de “mulheres de verdade”, na tradição das Amélias.
São corpos inatingíveis à maioria das mulheres, cujos perfis anatômicos, étnicos ou mesmo preferências estéticas não coincidem com eles. Modelos excludentes cuja afir-mação pelos meios de comunicação carrega preconceitos acerca da diversidade do que é ser feminina, fundados em julgamentos morais para escarnecer, admoestar ou negar outros corpos.
Entre as manchetes de revistas que prometem emagrecimento imediato por meio de dietas mirabolantes ou de tratamentos cirúrgicos, propagandeados como se qualquer cirurgia fosse um procedimento sem riscos, pululam exemplos edificantes de personalidades com mais de 40 anos de idade, porém com corpinho de 20, ou que, em pouco tempo, emagreceram muito. Prepondera o frágil argumento de que esses corpos são saudáveis, entretanto, tais mensagens podem ser benéficas para as jovens e adultas que compõem o público-alvo das publicações?
Mais do que apenas um culto ao corpo, essa é uma tentativa de negar a possibilidade do corpo feminino se expressar em diferentes moldes.
Feias, sujas e malvadas
Os comerciais de cerveja são conhecidos pela associação de elementos machistas que, além de inferiorizarem o papel das mulheres na sociedade, representam-nas de forma depreciativa, como pessoas passivas, cujos corpos podem ser facilmente explorados, porque são tratados apenas como objetos eróticos.
São representações do feminino a serviço do desejo masculino, nas quais a figura feminina, alienada do próprio desejo e do controle sobre o seu corpo, permanece, no dizer de Funck (2002), “aprisionada em papéis dicotômicos de amante submissa ou de perigosa de devoradora de homens” (p.1).
Ao invés de se tornar campo de experimentação da individualidade da mulher, o corpo feminino é retratado como propriedade de um outro, geralmente um outro com olhar sexista sobre esse corpo.
Uma demonstração explícita, senão esdrúxula, da ditadura do corpo pode ser lida em uma matéria do portal Ego, pertencente ao Globo.com, publicada em 28 de julho de 2011, sob o título “Tá tomando fermento? Ex-BBB Paulinha aparece rechonchuda em boate”, na qual a referida ex-participante de reality show é criticada por estar “rechonchuda” e porque “ainda está muito longe da boa forma” (grifos meus).
Corpos atestados como maus. Isso remete a um tempo quando já foi normal falar que os cabelos crespos das pessoas negras eram “ruins”. Foi? Em artigo publicado no jornal O Globo, em 07 de maio de 2008, o jornalista e escritor Zuenir Ventura comentou entrevista dada pelo então jogador de futebol, Ronaldo Fenômeno, ao Fantástico, quando surgiu o “‘escândalo’ envolvendo travestis e extorsão(i)" e a questão veio à tona.
Nesse artigo, denominado A Falha do Ronaldo, Ventura critica o cabelo do jogador: “Acho que fez bem em ir à televisão, embora devesse ter raspado a cabeça. Aquele cabelo bombril parecendo tingido me fez entender o que ele disse uma vez, causando polêmica – que tinha ‘cabelo ruim’” (p. 7). Apesar de não envolver repúdio à estética de uma mulher, isso mostra como o controle sobre os corpos de populações discriminadas é ostensivo neste país, inclusive nos meios de comunicação.
Em 16 de setembro de 2011, o site Virgula, pertencente ao UOL, listou personalidades que tiveram um dia de cabelo ruim, alcunhado “Bad hair day”, entre as quais consta a atriz Whoopie Goldberg, com tranças afro simples, utilizadas por muitas mulheres negras. Sob a foto da artista, o texto legenda trazia um juízo estético-moral: “assuma o black power, gata! Essas trancinhas são realmente feias”. A submissão das estéticas negras a outras estéticas é parte de um debate antigo e estigmatizador, que tem trazido sofrimento a gerações de mulheres e homens negros brasileiros, cujo corpo é negado desde o período colonial.
Na contemporaneidade, em que a identidade negra é rediscutida e valorizada, tal histórico gera uma zona de tensão. No entendimento de Gomes (2002), a identificação do cabelo das pessoas negras como “ruim” é uma expressão das desigualdades raciais que tendem a dominar a população afro-brasileira.
É praxe das mídias menos atentas à pluralidade do feminino reforçar estereótipos sobre o que é ou não ser mulher. As referências visíveis de mulher tendem a remeter apenas às brancas, abastadas e magras, ignorando que há as negras, indígenas, gordas, lésbicas, pobres, transexuais. Nessa última dimensão, na qual se demonstra que nem a biologia nem a anatomia determinam o que é uma mulher, o peso de uma suposta “verdade” prepondera e discrimina.
No dia 18 de janeiro de 2011, outra participante de reality show foi eliminada. Não seria nada demais na rotina desse tipo de programa, a não ser porque a rejeição do público poderia estar calcada em um preconceito: o jornalista Neto Lucon argumenta, em especial para o site e revista A Capa, que ela incomodava: “ela é uma mulher transexual, fato noticiado pelos meios de comunicação, mas ela não se preocupava em informar aos demais concorrentes no claustro televisionado, o que foi ‘malvisto’ por alguns telespectadores”. (http://acapa.virgula.uol.com.br/cultura/opiniao-ariadna-incomoda-porque-existe/3/90/12550).
Por quê o público achava que ela deveria anunciar sua condição de gênero, um aspecto puramente íntimo? Porque desqualificava sua identidade como mulher, prática extremamente danosa à identidade de qualquer uma, biológica ou não.
Ainda perdura em nossa sociedade uma percepção sexista, oriunda de uma visão limitante sobre o ser humano, porém reproduzida acriticamente em boa parte das mídias, de que algumas pessoas são legítimas, outras não. Essa pré-concepção não é inócua, tem estimulado a negação de vários corpos e, consequentemente, uma negação de humanidade.
Remodelando nas redes sociais
Como espaços alternativos de sociabilidade, as redes digitais têm possibilitado a propagação, com menos intermediários e para uma audiência relativamente grande, de contradiscursos acerca de regras estabelecidas de comportamento e de modelos fixos de identidade.
Alguns sites, em especial os de cunho feminista, como a Universidade Livre Feminista, o Blogueiras Feministas e o do Geledés Instituto da Mulher Negra, este com enfoque aprofundado nos aspectos étnico-raciais, têm disseminado uma série de artigos e opiniões questionando a legitimidade do discurso monotemático sobre feminilidades, os quais outrora se restringiam ao mundo acadêmico: cultura, mídia, política, relacionamentos, saúde, trabalho e violência são temas ressaltados, que posicionam as mulheres como protagonistas digitais e as estimulam a se tornarem atores sociais no mundo físico.
No âmbito das mídias que utilizam esse recurso, vale citar o Mulher 7x7, da revista Época, no qual sete colaboradoras suavizam o tom adotado pelos sites supracitados, adotando um discurso intermediário de independência, para tratar de ideários de saúde, moda e beleza, no cotidiano de mulheres.
Nessa publicação, excetuando-se receituários sobre comportamento corporativo idealizado ou relatos afetivo-sexuais, encontrados em quaisquer outras mídias voltadas ao público feminino, podem ser destacadas matérias contendo sérias discussões contemporâneas, como “É hora de queimar sutiãs para valer?”, de 22 de abril de 2010, sobre o livro “Enlightened Sexism”, da pesquisadora de gênero Susan Douglas, o qual denuncia a camuflagem do sexismo moderno, que não se assume como tal e reitera, nos meios de comunicação, imagens de mulheres poderosas e bem-sucedidas, porém ignora o fato de que ainda não há igualdade entre homens e mulheres, ao mesmo tempo em que exige que as mulheres sempre se superem.
No universo virtual, para além de websites, destacam-se os blogs, nos quais os indivíduos- podem publicizar seus pensamentos a público maior do que em outros contextos, por meio de postagens, sem compromissos laborais ou linhas políticas fixas.
O microblog Twitter, estimulando a postagem de mensagens curtas com até 140 caracteres (tweets), abriu um campo extraordinário para difusão de opiniões, e tem sido utilizado por parte considerável dos meios de comunicação, e por diversos comentaristas, para difusão rápida e imediata de notícias, contatando diretamente os leitores virtuais.
A filóloga cubana Yoani Sánchez, utilizando-se do Twitter e de seu blog Generación Y para retratar o cotidiano e a política de seu país, destaca-se internacionalmente como fonte, tendo sido indicada pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2008 (HIJUELOS, 2009, p. 31).
A blogueira não se omite na discussão sobre o papel das mulheres em sua sociedade, criticando desde o tradicionalismo da Federación de Mujeres Cubanas (FMC) até o mercado de compra e venda de cabelos, capital de muitas mulheres no país, segundo Sánchez, que os vendem quando estão em situação financeira difícil.
Texto de Letícia Assis, com colaboração de Yasmyn Ferraz, no Blog das Garotas, comenta o orgulho que elas têm de serem “gordinhas” e defende que ser assim não mais seja visto como um defeito. O teor carinhoso nos discursos acerca da obesidade, patente na adoção do diminutivo, tem-se tornado comum nas redes sociais, a exemplo da comunidade Gordinhos e Gordinhas do site de relacionamentos Facebook.
Na mesma rede social, a comunidade Mulher Negra Consome propõe uma discussão sobre o direito das mulheres negras de serem melhor retratadas no campo da estética comercial e midiática, reclamando por marcas e produtos voltados a elas, hoje escassos, e criticando a falta de modelos negras em editoriais de moda e na publicidade. A comunidade também disponibiliza espaço para denúncias e protestos contra o sexismo e o racismo.
Ainda, o grupo aberto Feministas e Feminismo em ativismo digital é característico da remodelagem de conceitos sobre relações de gênero propiciada pelas mídias e redes sociais. Atualmente com 496 membros, promove ativismo online em prol do fim da violência contra as mulheres.
Seria exaustivo enumerar as milhares de narrativas, senão milhões, que se tem propagado nas redes sociais. A temporalidade imediata do mundo virtual e sua capacidade de gerar espaços para que mais autores possam tornar seus textos públicos são recursos estratégicos para a consolidação de uma democracia efetiva, na qual possa ser conhecida a pluralidade de vozes e imagens de e sobre mulheres, todas as mulheres.
Referências
FUNCK, Susana Borneo. Descolonizando a sexualidade feminina: as marionetes e as vampiras de Angela Carter. In: Gazzola, Ana Lúcia; Duarte, Constância Lima; Almeida, Sandra Goulart. (org.). Gênero e Representação em Literaturas de Língua Inglesa, v. 4. Editora UFMG: Belo Horizonte, 2002. pp. 45-51.
GOMES, Nilma Lino. Corpo e cabelo como ícones de construção da beleza e da identidade negra nos salões étnicos de Belo Horizonte. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2002.
HIJUELOS, Oscar. Yoani Sánchez. Time, 30/04/2009. p. 31.
LAURETIS, Teresa de. A tecnologia do gênero. In: H.B. HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Tendências e Impasses: o Feminino como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994. pp. 206-242.
VENTURA, Zuenir. A falha do Ronaldo. O Globo, 07/05/2008. p. 7.
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*Jaqueline Gomes de Jesus é psicóloga, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília (UnB) e professora do Centro Universitário Planalto do Distrito Federal (UniPlan).
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(i) As discussões no caso da extorsão não priorizaram o fato de o jogador ter traído a noiva, mas de supostamente manter relações com travestis. O debate retrata o nível acentuado de estigmatização a que são submetidas as travestis, em que o relacionamento com elas é tido como abjeto.
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quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Movimento na Rua

Uma cena de uma Marcha das Vadias (fonte aqui).
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Está disponível, no site do Simpósio Nacional sobre Democracia e Desigualdades, o paper completo da apresentação que farei durante o evento, dia 25 de abril, quarta-feira, às 14h30, na mesa Sociedade Civil e Participação, denominada O MOVIMENTO NA RUA: POLÍTICA E IDENTIDADE NAS DIMENSÕES DE GÊNERO, ORIENTAÇÃO SEXUAL E RAÇA/ETNIA.
A proposta é discutir as mobilizações dos movimentos sociais como ações coletivas, no espaço público das ruas, que mantêm uma relação dinâmica e conflituosa entre os grupos e a sociedade, nas questões de gênero, orientação sexual e raça/etnia.
Interessados(as) já podem ler o paper, clicando aqui.
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terça-feira, 3 de abril de 2012

Etapas de um Processo Criativo

O vazio:
A terra e a vida brotando:
A vida ocupando o vazio:
A vida plena:
Tempo total entre o começo e o término da obra: 2 semanas. O mosaico é uma arte da paciência.
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