quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

O CORAÇÃO DE QUELLY



Esta é a QUELLY DA SILVA, 35 anos.
Nesta segunda-feira, 21 de janeiro, ela teve o seu CORAÇÃO ARRANCADO.
QUELLY era uma TRAVESTI, ou MULHER TRANS. Morava há três anos em Valinhos (SP), com o companheiro, e trabalhava no bar da família dele, em Campinas.
O assassino, Caio Santos de Oliveira, encontrou-a sozinha no estabelecimento, na noite do crime. Segundo vizinhos do comércio, ele "estava rondando o bairro falando que precisava matar alguém para não morrer". Ele abriu o tórax de QUELLY e guardou o seu  CORAÇÃO enrolado em um tecido, debaixo de um armário. Sobre o corpo, deixou a imagem de uma santa, e ao ser encontrado e interrogado pela polícia, disse que a matou porque ela seria "o demônio".
O caso foi registrado na 2ª Delegacia Seccional de Campinas como latrocínio (roubo seguido de morte).
A maioria dos meios de comunicação não informou o nome de QUELLY. Desrespeitando a forma como ela se apresentava, expôs o seu nome civil; não informou sua profissão ou idade; apenas a identificou pela sua identidade de gênero.
Eu tive dificuldades para encontrar os dados mais básicos sobre ela. O que evidencia a pouca ou nenhuma importância dada à memória de QUELLY.
Esse foi mais um caso letal de TRANSFOBIA. Explícito, no caso do assassino. E a maneira como tem sido abordado, tanto pela mídia quanto pelas autoridades, exemplifica bem como funcionam as instituições neste que é o país que mais registra assassinatos de TRAVESTIS e MULHERES TRANS: o FEMINICÍDIO TRANS é naturalizado em nossa sociedade, em grau tão elevado que, ao afirmá-lo aqui, haverá quem o negue, considere que exagero ou que não veja feminicídio no EXTERMÍNIO BRUTAL DESSAS MULHERES.
Essas pessoas ainda acham que há mulheres "de verdade", em comparação com aquelas que seriam "menos mulheres", até tidas como "farsas". Se você pensou assim, se você se importuna ou acha engraçado que pessoas trans tenham vidas plenas, que sejam amadas, acha que nossos sentimentos são menos reais e importantes, entenda que a sua #TransfobiaMata, pense que #VidasTransImportam, e JOGUE A SUA TRANSFOBIA FORA.
Meus sinceros sentimentos aos familiares e amigos de QUELLY DA SILVA.
#visibilidadetrans #BastadeTransfobia

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

A Masculinidade Tradicional Prejudica Homens e Garotos

Foto: Mario Tama/Getty Images

Novas orientações da Associação Americana de Psicologia (APA) apontam que A MASCULINIDADE TRADICIONAL PREJUDICA HOMENS E GAROTOS.

Essa produção científico-profissional é inédita, porque os homens - particularmente os brancos, cisgêneros e heterossexuais - sempre foram tratados como a norma de humanidade, e não como sujeitos culturalmente construídos, que apresentam alguns valores em comum, decorrentes da sua formação pessoal de acordo com uma ideologia, e não de uma falaciosa natureza masculina, quais sejam: anti-feminilidade, realização,  evitação da aparência de fraqueza, adesão a aventura, risco e violência.

Essa masculinidade tradicional é perniciosa mesmo para os indivíduos que gozam dos privilégios da sociedade machista, tanto para a saúde física quanto para a mental de homens e meninos.

Identificam-se maiores taxas de suicídio, problemas cardiovasculares e solidão entre homens mais velhos. Isso se relaciona à sua dificuldade, estimulada desde a infância, em expressarem seus sentimentos e formar relacionamentos profundos.

Homens que endossam os papéis estereotipados de gênero tendem a expressar medo de ter intimidade e desconforto por gostarem fisicamente de outros homens; e quando casados com mulheres, vivenciam relações conjugais associadas à depressão em suas esposas, conflitos intra-familiares e dificuldades com o cuidado parental.

As inseguranças vividas por garotos, submetidos a normas masculimas sexistas e patriarcais para se identificarem como homens, relacionam-se ao maior uso de poder e controle nos relacionamentos quando adultos, expressando-se em violência e abuso sexual "justificadas" contra parceiras íntimas; tendência a transar com muitas pessoas, sem proteção, cuidado consigo ou com a(o) outra(o); percepção de mulheres trans e travestis como "fingidoras", "falsas" que "só se vestem" e de homens trans como não sendo homens "de verdade", o que leva à agressão verbal, física e às altas taxas de crimes de ódio fatais contra as mulheres trans e travestis.

Você pode acessar as orientações (em inglês) por este link: https://www.apa.org/about/policy/boys-men-practice-guidelines.pdf

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Não é sobre Cores, é sobre Vidas!


NÃO É SOBRE CORES, É SOBRE VIDAS!

O desabafo entusiasmado da Ministra Damares sobre "a nova Era" que estaria começando no Brasil, na qual "menino veste azul e menina veste rosa", demonstra, primeiramente, como reage o pernicioso apartheid de gênero (ideologia que rege a nossa educação, das famílias às escolas), quando confrontado com a diversidade de existências, pensamentos e sentimentos que ele não consegue abarcar, dentro de seus modelos limitados sobre o que podem homens e mulheres.

Porém o discurso vai além. Tem alvos diretos aos quais ele não dá nomes (nomear também é reconhecer a existência, e isso não é desejável para quem odeia aqueles que preferia que não existissem). A metáfora das cores é o silêncio sobre as vidas trans, ao mesmo tempo em que nega frontalmente a nossa existência!

É de sexismo e de transfobia que se está dizendo, o medo - iníquo, tosco, mas poderoso porque representa o pensamento dominante - de que meninos e meninas estariam "confusos" porque adultos (professores, outro grupo considerado prejudicial pela ideologia no poder) lhes dizem que eles não são meninos e meninas. Uma fantasia adotada pelos que se horrorizam quando se lhes aponta que as crianças, quaisquer crianças, conformam-se aos estereótipos de gênero estabelecidos pelos adultos, e não que elas nasçam com esta ou aquela "identidade biológica" (um conceito bizarro, pseudocientífico, para tentar florear o senso comum de que o sexo biológico determina o gênero e o comportamento das pessoas). Sem uma única palavra sobre as pessoas trans, sobre homens e mulheres trans e travestis, é do ódio contra essa população que se fala, com um sorriso nos lábios. Esse sentimento expressa, no fundo, a preferência de que a transgeneridade não existisse, quiçá fosse exterminada. Faz sentido, no país em que mais se registram assassinatos de pessoas trans no mundo, sendo que mais de 90% das vítimas são as travestis e mulheres trans, o que configura um feminicídio ignorado solenemente, porque a identidade de gênero dessas mulheres não é reconhecida, dado que sequer são vistas como gente.

As vidas trans importam! E elas também incluem crianças e idosos. Precisamos protegê-las!