terça-feira, 24 de setembro de 2013

Movimentos de Luta pela Libertação

"A história da sociedade brasileira, defendem Aquino e cols. (1999, 2000), só pode ser conhecida quando a oficialidade dos vencedores é contrastada ante ao papel da participação popular na busca de justiça social, democracia e humanismo real, mascarada pela repressão.
A sociedade civil organizada, em semelhante conjuntura, conforme definido por Schiochet (1999), constitui-se enquanto 'instrumento conceitual de politização do social' (p. 7), significando que a sociedade se organiza para a política por meio dos movimentos sociais, de modo que os indivíduos participantes desses movimentos, os contemporaneamente denominados 'ativistas' ou 'militantes' são em si mesmos veículos do interesse da coletividade, e não apenas de seus próprios interesses.
Exemplos de resistência à falsa cordialidade do escravismo brasileiro, defendida por autores como Gilberto Freyre (2003), reverberam em toda literatura científica e nos documentos históricos. Como resgatou Silva (2001), a partir da análise do trabalho realizado por escravos e libertos no Rio Grande do Sul com o manuseio de químicas, observa-se que os escravos formavam redes de solidariedade até mesmo para obtenção de drogas com as quais alguns envenenavam 'toda a ceia da família de seu senhor' (p. 31), e muitos praticavam 'feitiçaria', sofriam alcoolismo, tabagismo ou consumiam-nas para entorpecimento, cometiam suicídios: era comum os senhores de escravos vigiarem o parto das escravas, para que essas não matassem seus filhos recém-nascidos, evitando assim que as crianças fossem escravizadas desde a pequena infância. Tudo isso realizado como prática de resistência ao horrível martírio da escravidão, prática de suicídio como libertação, reiterada desde a Antiguidade, simbolizada inclusive na literatura eurocêntrica por figuras clássicas como Demóstenes e Cleópatra, que como milhões de outros não-libertos na História, livravam-se da morte ignominiosa, da injúria ou da servidão perpétua conduzindo sua morte com as próprias mãos.
É uma constatação dos movimentos de resistência à opressão e em prol da libertação em qualquer lugar do mundo, especialmente nos países submetidos aos regimes colonialistas, como as nações africanas, que esses regimes buscam a legitimação de sua autoridade por meio do trabalho de aproximação entre os sujeitos colonizados e caricaturas de sua identidade histórica (South West África People’s Organisation of Namíbia – SWAPO, 1987).
O movimento pela libertação, assim, configura-se não só como um ato de liberação física, mas principalmente de independência psicossocial ante à força do opressor.
Historicamente, o sucesso ou o fracasso dos movimentos sociais pela libertação depende, segundo Rudé (1991), da sua associação e influência ante aos detentores do poder, em especial 'as forças armadas à disposição do governo'; esse dado é especialmente verificável quando se refere ao Brasil, em que a obediência das forças armadas ao governo instituído sempre foi uma variável mais fortemente dependente de fatores sociais e políticos do que unicamente militares. Pode-se traduzir essa força armada como uma força da arma, ou em poder de intervir materializado.
A ação pela libertação dos oprimidos, destarte, é um processo de empoderamento que, por meios particulares, resulta na libertação. Conforme apontado acerca do pensamento de Gramsci, segundo Finelli (2001), somente enquanto resultado, e não como princípio, é que se pode avaliar a capacidade de ação de uma subjetividade sobre a história, resultado constatado por meio da evolução dos grupos subalternos do nível das iniciativas tão-somente econômicas para o nível das iniciativas culturais e políticas".
Trecho extraído de JESUS, J. G. (2005). Trabalho escravo no Brasil contemporâneo: representações sociais dos libertadores. Dissertação de Mestrado, Instituto de Psicologia. Brasília: Universidade de Brasília, pp. 52-54. Disponível eletronicamente em http://issuu.com/jaquelinejesus/docs/libertadores_de_escravos_no_brasil_contempor_neo.

domingo, 22 de setembro de 2013

Carta Aberta TRANSFEMINISMO FAZENDO GÊNERO

Nós, participantes do pioneiro Simpósio Temático “Feminismo Transgênero e Transfeminismo”, realizado durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 – Desafios Atuais dos Feminismos (FG10), como coletivo auto-organizado e orientado pela agenda transfeminista, discutimos e aprovamos a presente Carta Aberta “Transfeminismo Fazendo Gênero” à comunidade universitária, participantes do evento e, em especial, à organização do Seminário, composta pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas e pelo Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina e pelo Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina.
Reconhecemos a importância da inclusão da teoria e da ação transfeminista na pauta de discussões deste Seminário de impacto internacional, com repercussões estruturais e incontornáveis nos feminismos contemporâneos; nos debates sobre as condições das mulheres e no próprio entendimento de acadêmicas/os, ativistas e demais pensadoras/es sociais acerca do que configura o(s) gênero(s).
Nesse sentido, vimos por meio desta registrar à Coordenação Geral e à Comissão Científica do evento nosso reconhecimento pela abertura para o diálogo sobre o transfeminismo quando o Simpósio Temático foi aprovado – pertinência que foi referendada pela qualidade e quantidade de trabalhos submetidos e aprovados – e pela iniciativa de ter organizado a Mesa Redonda “Transfeminismos no Brasil”, ambos espaços de debate plenamente integrados ao espírito desta edição do FG10, os desafios atuais dos feminismos.
Alertamos, para fins de aprimoramento das futuras edições, que a atualidade do tema e a pouca produção no campo pode ter gerado o desconforto observado na Mesa “Transfeminismos no Brasil”, na qual, apesar da qualidade e importância das pesquisas das palestrantes que se apresentaram, apenas uma delas possuía escopo teórico na questão propriamente dita.
Sugerimos à organização do evento que todas/os as/os debatedoras/es em quaisquer mesas sobre transfeminismo sejam pesquisadoras/es e/ou pessoas com expertise na área.
Ressaltamos que urge uma valorização dos conhecimentos e modos de fazer das pessoas trans, construídos historicamente, por meio de enfrentamentos ao cotidiano de exclusão ao qual a população trans está submetida no Brasil, culminando em um genocídio trans invisibilizado nas estatísticas oficiais ou indevidamente identificado como parte de um processo de homofobia – esta é a nação na qual mais se matam pessoas trans no mundo, conforme dados de pesquisa coletados em 55 países pela Organização Não Governamental Transgender Europe.
Convidando para uma produção solidária de não silenciamento, discordamos de qualquer tentativa de menosprezar as vozes – cada vez mais audíveis – das pessoas trans que denunciam o sexismo, o cissexismo e, em certos casos, a transfobia de quem considera que as pessoas trans devam ser apenas ouvintes ou objetos de estudo, e não sujeitos produtores de saberes.
Em resposta a discursos mal intencionados ou desinformados, destacamos que não buscamos naturalização de identidades por meio do uso do termo “cisgênero”, em contraposição ao de “transgênero”, pretendemos tão-somente localizar as pessoas trans e cis em seus espaços identitários de gênero e forçar o reconhecimento de que há privilégios, constituídos socialmente, para pessoas cisgênero, em detrimento das pessoas transgênero.
Convidamos acadêmicas/os a se mobilizarem favoravelmente pela inclusão efetiva – e não apenas no discurso – da população transgênero nas universidades brasileiras, seja como estudantes, técnicas/os ou professoras/es, sem temores infundados de “invasão” de espaços, mas, isso sim, de diminuição de alguns dos inúmeros obstáculos que impedem ou prejudicam a inserção e a permanência de pessoas trans no Ensino Superior, em quaisquer posições.
Concluindo, exaltamos as/os estudiosas/os e grupos de pesquisa que, apesar da quase ausência de apoio financeiro e infraestrutural aos estudos e pesquisas sobre a realidade das pessoas trans e sua transformação, empreendem trabalhos intelectuais e de intervenção com ousadia e senso de justiça social.
Florianópolis, 20 de setembro de 2013.

A Statement of Trans-Inclusive Feminism and Womanism

We, the undersigned trans* and cis scholars, writers, artists, and educators, want to publicly and openly affirm our commitment to a trans*-inclusive feminism and womanism.
There has been a noticeable increase in transphobic feminist activity this summer: the forthcoming book by Sheila Jeffreys from Routledge; the hostile and threatening anonymous letter sent to Dallas Denny after she and Dr. Jamison Green wrote to Routledge regarding their concerns about that book; and the recent widely circulated statement entitled “Forbidden Discourse: The Silencing of Feminist Critique of ‘Gender,’” signed by a number of prominent, and we regret to say, misguided, feminists have been particularly noticeable. And all this is taking place in the climate of virulent mainstream transphobia that has emerged following the coverage of Chelsea Manning’s trial and subsequent statement regarding her gender identity, and the recent murders of young trans women of color, including Islan Nettles and Domonique Newburn, the latest targets in a long history of violence against trans women of color. Given these events, it is important that we speak out in support of feminism and womanism that support trans* people.
We are committed to recognizing and respecting the complex construction of sexual/gender identity; to recognizing trans* women as women and including them in all women’s spaces; to recognizing trans* men as men and rejecting accounts of manhood that exclude them; to recognizing the existence of genderqueer, non-binary identifying people and accepting their humanity; to rigorous, thoughtful, nuanced research and analysis of gender, sex, and sexuality that accept trans* people as authorities on their own experiences and understands that the legitimacy of their lives is not up for debate; and to fighting the twin ideologies of transphobia and patriarchy in all their guises.
Transphobic feminism ignores the identification of many trans* and genderqueer people as feminists or womanists and many cis feminists/womanists with their trans* sisters, brothers, friends, and lovers; it is feminism that has too often rejected them, and not the reverse. It ignores the historical pressures placed by the medical profession on trans* people to conform to rigid gender stereotypes in order to be “gifted” the medical aid to which they as human beings are entitled. By positing “woman” as a coherent, stable identity whose boundaries they are authorized to police, transphobic feminists reject the insights of intersectional analysis, subordinating all other identities to womanhood and all other oppressions to patriarchy. They are refusing to acknowledge their own power and privilege.
We recognize that transphobic feminists have used violence and threats of violence against trans* people and their partners and we condemn such behavior. We recognize that transphobic rhetoric has deeply harmful effects on trans* people’s real lives; witness CeCe MacDonald’s imprisonment in a facility for men. We further recognize the particular harm transphobia causes to trans* people of color when it combines with racism, and the violence it encourages.
When feminists exclude trans* women from women’s shelters, trans* women are left vulnerable to the worst kinds of violent, abusive misogyny, whether in men’s shelters, on the streets, or in abusive homes. When feminists demand that trans* women be excluded from women’s bathrooms and that genderqueer people choose a binary-marked bathroom, they make participation in the public sphere near-impossible, collaborate with a rigidity of gender identities that feminism has historically fought against, and erect yet another barrier to employment. When feminists teach transphobia, they drive trans* students away from education and the opportunities it provides.
We also reject the notion that trans* activists’ critiques of transphobic bigotry “silence” anybody. Criticism is not the same as silencing. We recognize that the recent emphasis on the so-called violent rhetoric and threats that transphobic feminists claim are coming from trans* women online ignores the 40+ – year history of violent and eliminationist rhetoric directed by prominent feminists against trans* women, trans* men, and genderqueer people. It ignores the deliberate strategy of certain well-known anti-trans* feminists of engaging in gleeful and persistent harassment, baiting, and provocation of trans* people, particularly trans* women, in the hope of inciting angry responses, which are then utilized to paint a false portrayal of trans* women as oppressors and cis feminist women as victims. It ignores the public outing of trans* women that certain transphobic feminists have engaged in regardless of the damage it does to women’s lives and the danger in which it puts them. And it relies upon the pernicious rhetoric of collective guilt, using any example of such violent rhetoric, no matter the source — and, just as much, the justified anger of any one trans* woman — to condemn all trans* women, and to justify their continued exclusion and the continued denial of their civil rights.
Whether we are cis, trans*, binary-identified, or genderqueer, we will not let feminist or womanist discourse regress or stagnate; we will push forward in our understandings of gender, sex, and sexuality across disciplines. While we respect the great achievements and hard battles fought by activists in the 1960s and 1970s, we know that those activists are not infallible and that progress cannot stop with them if we hope to remain intellectually honest, moral, and politically effective. Most importantly, we recognize that theories are not more important than real people’s real lives; we reject any theory of gender, sex, or sexuality that calls on us to sacrifice the needs of any subjugated or marginalized group. People are more important than theory.
We are committed to making our classrooms, our writing, and our research inclusive of trans* people’s lives.
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Read the entire text and know the signers in: http://feministsfightingtransphobia.wordpress.com/2013/09/16/a-statement-of-trans-inclusive-feminism

sábado, 14 de setembro de 2013

TransFeminismos no Brasil

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Pôster por Samie Carvalho (https://www.facebook.com/SashaTheLioness?fref=ts).
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 - Desafios Atuais dos Feminismos
Mesa-Redonda TransFeminismos no Brasil
Quando: 19/09, quinta-feira, das 9h às 12h.
Onde: Auditório Prof. Dr. Paulo Fernando de Araujo Lago (Auditório do CFH), Térreo, Bl. B, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) - Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Coordenação: Fátima Weiss de Jesus (Universidade Federal do Amazonas)
Palestrantes:
Anna Paula Vencato (Universidade Paulista)
Jaqueline Gomes de Jesus (Universidade de Brasília)
Paula Sandrine Machado (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
O transfeminismo é uma linha de pensamento em construção, que visa ao delineamento de ações voltadas à emancipação social e política de pessoas transgênero (particularmente travestis e transexuais). A mesa propõe um debate sobre noções de gênero engendradas não apenas no transfeminismo, mas entre diferentes protagonismos de complexos trânsitos de gênero (como o crossdressing e a intersexualidade) que trazem elementos fundamentais para colocar em perspectiva o feminismo na contemporaneidade.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

ÚLTIMOS DIAS para Inscrições de Trabalhos - SERNEGRA

Sexta-feira, 13 de setembro, é o último dia para inscrições de trabalhos nas Seções Temáticas da SERNEGRA - Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça no IFB.
Acesse https://docs.google.com/a/etfbsb.edu.br/forms/d/1icwsNGIDgN7V6WbQXbB6sNg3HHqYTOZmpSp5z50s45U/viewform?edit_requested=true

Solidariedade a Dulce Pandolfi e outros pesquisadores do CPDOC-FGV

Ao centro, de verde, a professora Dulce Pandolfi. Foto: Wilton Júnior/Estadão.
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Carta de Solidariedade a Dulce Pandolfi e outros pesquisadores do CPDOC-FGV
Disponível para assinatura em http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N43949:
"UMA DEMISSÃO ARBITRÁRIA E INADMISSÍVEL NUMA INSTITUIÇÃO DE PESQUISA E ENSINO
No dia 6 de setembro de 2013, uma sexta feira à tarde, a direção do CPDOC demitiu sumariamente Dulce Pandolfi, uma das pesquisadoras conhecidas do CPDOC-FGV, autora de livros e trabalhos de referência sobre a história política contemporânea de Pernambuco, sobre o federalismo no Brasil, sobre o Partido Comunista Brasileiro, sobre a história contemporânea das favelas cariocas, sobre movimentos sociais. Além de historiadora do CPDOC, foi recentemente diretora do IBASE (que conciliava com suas 20 hrs. no CPDOC), e participou de júris de premiação de teses da ANPOCS. Em suma é uma militante da academia das ciências sociais brasileiras e uma militante cívica da história contemporânea brasileira. Este ano mesmo foi convidada pela Comissão da Verdade do Rio de Janeiro para ser uma das duas depoentes testemunhas da violência exercida pela ditadura militar em sessão pública inaugural. Seu depoimento é uma peça histórica de tal importância que é difícil o CPDOC, com seu famoso acervo documental das elites brasileiras (e um acervo menor referente a grupos populares e seus representantes, graças ao trabalho de alguns pesquisadores da instituição em que Dulce Pandolfi se inclui) ter um documento de tal expressão da densidade da condição humana em situações extremas. (Os historiadores do futuro estudiosos do depoimento de Dulce Pandolfi ficarão pasmos de saberem de sua demissão pretérita do CPDOC).
A demissão foi justificada por uma avaliação feita por comissão acadêmica de quatro membros. Os funcionários foram convocados a produzirem e apresentarem sua documentação. Sabedora da prática institucional recente da direção de demitir seus funcionários que atingem os 65 anos, Dulce Pandolfi não via razão para enviar seu dossiê, visto que atingiria tal idade em poucos meses. Apesar de estar em viagem foi compelida a apresentar seus documentos. As avaliações que nas instituições acadêmicas usualmente são feitas para dar lastro a progressões ou seleções para postos superiores, aqui serviu para demissões sumárias. As avaliações acadêmicas são bem vindas como fator de vitalização e aperfeiçoamento das instituições. No entanto a contabilidade avaliativa acadêmica já vem sendo posta em questão de forma arrasadora pela contra-expertise de acadêmicos tais como Marilyn Strathern (no caso da Inglaterra), e pode se tornar, à revelia dos avaliadores, uma arma perigosa na mão de direções tecnocráticas destemperadas por mandatos imperiais sem controle dos pares. A pretensa base acadêmica a ser legitimada pela contratação de banca avaliadora de alta qualificação se esvai diante do uso da avaliação feita por uma direção que carece de auto-avaliação e da legitimidade acadêmica que é a rotatividade de mandatos de direção e coordenação. Prática esta que contraria inclusive a história precedente desta instituição de pesquisa histórica, o CPDOC, que sempre teve, no seu passado, mandatos fixos de consenso geral. Se esta instituição quer se mirar nas práticas acadêmicas de excelência, sem dúvida falta-lhe agora a legitimidade da pratica universitária democrática elementar, cuja eficácia é dada pelos contrapesos da variedade sucessiva dos dirigentes bem como da prática de capacitação compartilhada de direção pelos pares ao longo do tempo. Além disso, a presença de instâncias de participação do conjunto dos pesquisadores e professores em atividades de deliberação presenciais, em que a direção presta contas ou se inspira da opinião dos colegas, é sem dúvida uma prática acadêmica que qualquer avaliação da instituição deve levar em conta. Para que inclusive a longa permanência do dirigente, indicado por cima e não pelos pares, não seja eivada de suspeitas de sua perseguição subjetiva a colegas avessos a suas idiossincrasias.
E assim se chega ao paradoxo desta instituição famosa de pesquisa, documentação e ensino de história contemporânea ser palco, aos seus 40 anos de idade, da demissão de uma de suas pesquisadoras renomadas, que fez parte da construção do seu prestígio ao longo do tempo (e que nela está há 40 anos); e feita sumariamente à revelia das demais instâncias de coordenação e às escondidas dos colegas. Ao paradoxo de uma instituição que deposita a documentação da história contemporânea do Brasil, que organiza e conhece as vicissitudes das práticas democráticas e das práticas ditatoriais deste período, e que com base nela produz pesquisa e ensino de qualidade; seja a mesma instituição que se apresenta agora como uma instituição de direção verticalizada e, sob este aspecto, ignorando a construção universitária ou acadêmica destes últimos 40 anos que se distanciou do antigo poder absoluto do catedrático. Além de demitir uma pesquisadora experiente, a direção do CPDOC dispensou da mesma forma também o jovem pesquisador Cláudio Pinheiro, fazendo com isto atemorizar as novas gerações com as quais a instituição procuraria se renovar, o que não parece uma forma recomendada de reprodução acadêmica.
A demissão de Dulce Pandolfi não pode ser silenciada. Como foram silenciadas as demissões de outras pesquisadoras ao completarem 65 anos no auge de sua produção e relevância acadêmica – prática que faz parte de uma concepção eliminatória da idade estreita e de eficácia empresarial duvidosa (limite anterior ao que acontece nas universidades federais e estaduais, fixadas aos 70 anos; mais estreita que centros acadêmicos de países centrais que se fixam no entorno dos 65 anos mas que estimulam alguns com mais dois anos, etc. e a contracorrente de inciativas como as de bolsas sênior do CNPq, de estímulo à retenção produtiva dos mais experientes). A dispensa recente de Lúcia Lippi, Helena Bousquet Bomeny, Angela de Castro Gomes, Marly Motta, entre outros que resolveram sair por conta própria devido a essa pretensa regra representa uma grande perda institucional, por enquanto menos notada pela comunidade acadêmica geral pela frieza e silenciamento com que foi produzida.
A demissão de Dulce Pandolfi, antecedendo caprichosamente o limite de idade arbitrado há pouco tempo pela instituição é uma demissão idiossincrática de uma direção verticalizada e sem interlocução deliberativa com os pares – algo que está longe de uma prática acadêmica minimamente avaliada e consagrada. E que chama a atenção para a dispensa de outros pesquisadores experientes. É um capricho que priva o professor (neste caso uma paraninfa recente de turmas do CPDOC) de finalizar seu curso, suas atividades de orientação programadas, prejudicando a alunos e pós-doutorandos. E é um acinte a toda a geração de colegas e admiradores de Dulce Pandolfi -- exemplo de historiadora, professora e cidadã cuja militância e testemunho na luta pelos direitos humanos é um orgulho da história brasileira".
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quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Simpósio Transfeminismo no Seminário Fazendo Gênero 10, dias 19 e 20/09/2013

Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 - Desafios Atuais dos Feminismos
Simpósio Temático 044 - Feminismo Transgênero ou Transfeminismo
Coordenadoras: Jaqueline Gomes de Jesus e Luma Nogueira de Andrade
Local: Sala 323, Bl. B, 1º Andar, Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis/SC
Ordem de apresentação dos trabalhos:
19/09 - Quinta-feira
Debatedor: Felipe Flites Moreira
Feminismo e identidade de gênero: elementos para a construção da teoria transfeminista
Feminism and gender identity: elements for the construction of the transfeminist theory
Jaqueline Gomes de Jesus
Da constituição de um campo: transfeminismos como corrente feminista
Of the constitution of a new field: transfeminism as a branch of feminism
Hailey Alves Pedro da Silva
Direitos trans à luz de princípios constitucionais. Lutas, conquistas, avanços e retrocessos de direitos de transgêneros
Trans rights in of constitutional principles. Struggles, achievements, progress and setbacks transgenders rights
Giowana Cambrone Araujo
Direito à Identidade: Viva seu nome. A retificação do registro civil como meio de conquista da cidadania para travestis e transexuais
Right to Identity: Live your name. The rectification of civil registration as a means of gaining citizenship for transvestites and transsexuals
Luisa Helena Stern Lentz
Max Weber, Tipo Ideal e o Universo T (Transexuais e Travestis)
Max Weber, and the Universe Ideal Type T (Transgender and Transsexual)
Marcio Sales Saraiva
Borrando fronteiras? Intersecções de gênero e sexualidade em campos teórico-políticos sob disputa
Blurring boundaries? Intersections of gender and sexuality in theoretical and political fields under dispute
Natalia Silveira de Carvalho
Os homens transexuais brasileiros e o discurso pela (des)patologização da transexualidade
Brazilian transexual men and the discourses in favor of the (de) pathologization of transexuality
André Lucas Guerreiro Oliveira
É a natureza quem decide? Reflexões trans* sobre gênero, corpo, e o (ab)uso de substâncias
Is it up to nature to decide? Trans* reflections on gender, body, and substance (ab)use
Viviane V.
A prisão sobre o corpo travesti: gênero, significados sociais e o lusco-fusco do cárcere
The prison on the transvestite’s body: gender, social meanings and twilight of prison
Guilherme Gomes Ferreira, Marcelli Cipriani Rodrigues, Beatriz Gershenson Aguinsky
Del activismo queer a las travestilidades, algunos apuntes sobre su (in)tensa relación
From queer activism to transvestilities, some notes on its (in)tense relationship
Julieta Vartabedian
20/09 - Sexta-feira
Debatedor: Marcio Sales Saraiva
Navalha na Carne: o não reconhecimento da transexualidade e suas consequências
Razor in the Flesh: the non-recognition of transsexuality and its consequences
Hugo Felipe Quintela
Não-vidência e transexualidade: questões transversais
The sightless and transexuality: transversal questions
Felipe Flites Moreira
Sujeitos em transcurso: análise do discurso de transexuais
Subjects in transcourse: transexual discourse analysis
Mônica Ferreira Cassana
Psychanalyse, transfeminismo, e a (inter)disciplina dos estudos da mulher
Psychoanalysis, Transfeminism, and the (inter)discipline of women's studies
Catherine MacGillivray
Transexualidades: corpos em crise
Transsexualities: bodies in crisis
Liliana Graciete Fonseca Rodrigues, Conceição Nogueira
Transgressoras das categorias de gênero: uma análise do discurso de Trans em Pelotas
Transgressoras das categorias de gênero: uma análise do discurso de Trans em Pelotas
Daniel Luís Moura Vergara
Atenção à saúde da pessoa transexual: horizontes do processo transexualizador no Estado do Rio de Janeiro
Health care of the transexual people: horizons of the transsexualization process in the State of Rio de Janeiro
Mably Jane Trindade Tenenblat
“É a dor da beleza”: as travestis e suas corajosas estilísticas da existência
"It is the pain of beauty": transvestites and their bold stylistics of existence
Marlyson Junio Alvarenga Pereira
Atravessando barreiras - Grupo de reorientação profissional com profissionais do sexo
Traversing barriers - Group of professional reorientation with sex professionals
Rafaela Langaro Figueiró, Eliane Aparecida Abreu Silveira, Ana Carolina dos Santos Rateke
“Ser diferente e chegar à maturidade (...)”: experiências de envelhecimento e travestilidade
“Being different and reaching maturity (...)": experiences of aging and travestility
Fábio Henrique Lopes