terça-feira, 13 de agosto de 2013

Hão de se Escrever Micro-Histórias dos Trabalhadores?

Há inúmeras análises teóricas e vários estudos empíricos sobre o mundo do trabalho; são publicadas pomposos livros sobre as sagas dos grandes empresários e líderes; são escritas histórias romantizadas sobre as organizações de trabalho, quase sempre nas efemérides; porém faltam ser conhecidas as micro-histórias dos trabalhadores.
O que constituiriam essas micro-histórias? O registro post factum dos momentos singulares de suas vidas nos locais de trabalho de uma organização, a identificação de oportunidades e obstáculos particulares que podem ser comuns a tantos outros trabalhadores. Sabemos como seres humanos que trabalho que tudo isso está lá, aqui.
As empresas podem ser diferentes, porém as dinâmicas e a organização de trabalho podem se assemelhar no que tange a representações sociais sobre o trabalho, sobre a história da instituição, sobre o que o trabalhar, sobre o que constituem as relações sociais no trabalho.
Aí alguns leitores mais críticos poderão se perguntar: o que psicólogos sociais ou antropólogos têm a ver com a história de um(a) anônimo(a) dentro de uma organização de trabalho qualquer? Para quê saber de suas andanças serve, para além de ser um mero registro sem valor histórico?
Tal raciocínio decorre da crença de que as pessoas, quando chegam para trabalhar, despem-se de suas identidades pessoais e sociais, assumindo uma persona que se dissolve na cultura organizacional - visão presente não apenas no senso comum, mas comum igualmente no discurso de muitos profissionais, dirigentes e mesmo de pesquisadores que limitam seu entendimento sobre a categoria trabalho a fatores organizacionais estanques no tempo presente, desvinculados dos processos culturais e históricos de sua formação.
As pessoas não deixam sua subjetividade, suas histórias de vida, seus anseios e sentimentos, sua cor de pele, gênero e orientação sexual do lado de fora do prédio. Eis um mantra que vem sendo repetido sem descanso por quem pesquisa e faz gestão da diversidade humana nas organizações.
Não. A Psicologia do Trabalho não se restringe à aplicação de surveys a amostras estatisticamente significativas de respondentes, é isso também, mas não apenas isso. Ela pode ser feito por meio do registro etnográfico, do estudo de caso, da análise do conteúdo e dos discursos, de dezenas de outros métodos. Para além da metodologia, o registro de episódios relevantes na trajetória de seres humanos em uma organização de trabalho poderia nos falar muito não só sobre esses trabalhadores, mas sobre essa organização e sobre as relações de trabalho nela produzidas e reproduzidas.
Ainda hei de contarei a estória de um/a trabalhador/a que seja, não como ficção ou biografia, e sim como estudo psicossocial.
Enquanto isso, milhares de histórias de trabalho se perdem a cada dia, sem qualquer registro, sem qualquer nota de rodapé.

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