Lugar para percepções, ideias e análises a partir de uma visão pessoal, científica e profissional: uma janela, da minha perspectiva, para o mundo. ~o~ Place for perceptions, ideas and analysis from a personal, scientific and professional view: a window, from my perspective, to the world.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
SERNEGRA de A a Z
Carxs participantes do SERNEGRA 2013,
Após cerca de 08 meses de intenso trabalho, nós daqui já estamos podendo respirar com certa tranquilidade. Para vocês daí, sobretudo para quem não é de Brasília, aproxima-se a hora de programar viagem e participação no SERNEGRA mais detalhadamente.
Para ajudar, elaboramos o guia "SERNEGRA de A a Z" que enviamos em anexo. O guia é um pouco extenso, mas o índice pode ajudar a encontrar respostas para as dúvidas que nós acreditamos que devem ser as mais comuns. Deem então uma olhada no índice e vejam se em algum daqueles pontos vocês precisam de esclarecimentos.
Jamais poderíamos prever todas as dúvidas, para todas as que não aparecem ou que não foram suficientemente esclarecidas no guia, continuamos à disposição neste e-mail: sernegra@ifb.edu.br
Atenciosamente,
Equipe SERNEGRA 2013:
Ana Carolina Albuquerque, Glauco Feijó, Lidiane Ramos & Pollyana Martins.
Visite o blog do SERNEGRA: http://sernegra2013.blogspot.com.br
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
Policiamento e Repressão
Imagem à esquerda: "Protestos na Zona Norte de SP", Mapa: Google Maps e Foto: Reprodução/TV Globo. Fonte: site G1: http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/10/cardozo-diz-que-reunira-secretarios-contra-atos-de-vandalos-em-sp-e-rj.html
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É preciso se questionar porque a demanda circunstancial do cidadão motorista, amplamente encampada pelos veículos de comunicação, por maior policiamento nas grandes vias, a fim de controlar ou impedir manifestações que interrompam o tráfego, não é acompanhada por um posicionamento crítico sobre as razões dos protestos.
À população de periferia, moradora padrão do entorno das rodovias e estradas alvo do recente debate, pobre e majoritariamente negra neste país racista, o policiamento ocorre apenas nos extremos: insuficiente e ineficiente para atender suas demandas por segurança, ou excessivamente coercitiva para controlar suas ações reivindicatórias. Isso não é privilégio do Brasil, mas dado comum em outros países que também marginalizam um determinado grupo etnicorracial, em especial pessoas negras.
A erupção da ira dos excluídos e invisibilizados desta democracia-por-se-fazer não será apaziguada pela repressão.
Enquanto isso, as mesmas mídias que dão voz a uma faixa aterrorizada da Classe Média teimam em fechar os olhos à sistemática de privilégios que envolve a questão da mobilidade e da ocupação dos espaços públicos, convergindo suas reportagens para o problema dos engarrafamentos, deslocando o foco da pergunta que realmente importa.
É importante esclarecer que:
1) os meios de comunicação não criam estereótipos e preconceitos, mas eles, ao os reproduzirem, colaboram para o fortalecimento dos discursos e representações sociais de exclusão e discriminação; e
2) a força policial, nessa conjuntura, age como expressão concreta do poder do Estado e da mentalidade das elites que aí estão. Reavaliações profundas de todos os atores envolvidos, sobre a complexidade dos conflitos ora em pauta, seriam mais ricas para a construção de uma sociedade efetivamente participativa e inclusiva do que, por exemplo, pronunciamentos abstratos sobre a natureza da violência racista e classista, que é estrutural, e depende de intervenções culturais e comportamentais das autoridades para ser transformada.
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Abolicionismo Hoje
Foto de Fabiane Freire França, cobrindo uma fala minha durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero 10: Desafios Atuais dos Feminismos, postada em http://gepacuem.blogspot.com.br/2013/09/relato-de-experiencia-sobre-o-fazendo.html?spref=fb
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Precisamos iniciar um debate sério sobre abolicionismo e diversidade nesta sociedade hipocritamente democrática em que vivemos - estamos em um nível tão superficial de tal discussão que não posso utilizar a palavra "aprofundar".
"Abolicionismo"? - alguns indagarão, qual é o sentido disso em nossa realidade? Todo, compreendo, a partir do momento em que, reiteradamente, testemunhamos a cidadania de determinados grupos sociais sendo aviltada pelos mecanismos do poder, quaisquer que sejam:
- Quando o perfil do suspeito para o policial é, inerentemente, o de uma pessoa negra, em especial jovem (http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2013/10/11/para-proteger-jovens-negros-debate-sugere-mudar-policia);
- Quando manifestações públicas são tratadas, automaticamente, como atos subversivos dignos de repressão (http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-15/universitarios-fazem-ato-contra-repressao-de-manifestacoes-em-sao-paulo);
- Quando se planeja utilizar os recursos de um dos Poderes da República para se segregar pessoas em função de sua orientação sexual (http://jornalggn.com.br/noticia/cdh-aprova-projeto-que-desobriga-igrejas-de-aceitarem-homossexuais);
- Quando jovens homens e mulheres transexuais são impedidos de competir em condições de igualdade no acesso ao Ensino Superior, por meio da seleção do ENEM (http://g1.globo.com/educacao/enem/2013/noticia/2013/10/candidatas-transexuais-do-enem-dizem-ter-sofrido-constrangimento.html);
- Quando pessoas em situação de rua são assassinadas sistematicamente e isso é considerado normal para pessoas em semelhante condição social (http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/05/goiania-tem-30-assassinatos-de-moradores-de-rua-na-escuridao-da-madrugada.html).
Não faltam exemplos de que vivemos em uma conjuntura de opressão aos direitos humanos, mas principalmente, de violação sistemática à identidade social das pessoas, aos grupos historicamente discriminados, aos quais ainda, na prática, são atribuídos os signos e elementos dos escravos: sem direito a identidade, a nome, a ir e vir, a se expressarem, à vida.
domingo, 27 de outubro de 2013
O Apocalipse de Adão
Detalhe de A Criação de Adão, de Michelangelo, no teto da Capela Sistina, Vaticano.
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Livre tradução e grifos de Jaqueline Gomes de Jesus para trechos do Apocalipse de Adão, a partir da versão em inglês de 1990, de George W. MacRae, para a Biblioteca Nag Hammadi (coletânea de textos do começo da Era Cristã, ou Era Comum, também conhecida como Escrituras Gnósticas), organizada por James M. Robinson (San Francisco: HarperCollins):
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A revelação de Adão a seu filho Seth, no setingentésimo aniversário:
"Ouça minhas palavras, meu filho Seth. Quando Deus me criou da terra, junto com Eva, sua mãe, eu partilhava com ela uma glória que ela tinha visto na eternidade da qual viemos. Ela me ensinou uma palavra do conhecimento do Deus eterno. E nós nos assemelhávamos aos grandiosos anjos eternos, pois nós éramos maiores que o deus que nos criara e os poderes dele, a quem não conhecíamos.
Então Deus, soberano das Eras e poderes, irado nos dividiu. Então nos tornamos duas eternidades. E a glória em nossos corações nos deixou, eu e sua mãe Eva, junto com o primeiro conhecimento que exalava de dentro de nós. E ela [a glória] fugiu de nós.
...Mas ele [o conhecimento] entrou na semente de grandes eras.
Então o Deus que nos criou criou um filho dele mesmo e Eva, sua mãe (...). Então o vigor de nosso eterno conhecimento foi destruído em nós, e a fraqueza nos perseguiu. Desde então os dias de nossa vida se tornaram poucos. Pois eu sabia que eu tinha sucumbido à autoridade da morte".
sábado, 26 de outubro de 2013
Os Gêmeos Enganam a Morte
Imagem extraída de: http://www.genuinaumbanda.com.br/temas_variados/cosmeedamiao.htm. Quem souber o nome do(a) autor(a), favor informar para que eu possa indicar.
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Pra quem acha que J. K. Rowling foi originalíssima ao criar a história das Relíquias da Morte para seu Harry Potter, reconto uma lenda africana sobre os Ibejis, os gêmeos Taiwo (O que sentiu o primeiro gosto da vida) e Kainde (O que demorou a sair), contada por Ademir Barbosa Júnior no livro O Essencial do Candomblé (São Paulo: Universo dos Livros, 2011, p. 61-62):
OS GÊMEOS ENGANAM A MORTE
Os gêmeos, filhos de Xangô e Oxum, adoravam brincar e se divertir. Tinham predileção por tocar seus tambores mágicos, presentes de Iemanjá, a mãe adotiva.
Por esse tempo, Icu, a Morte, havia colocado armadilhas por todo o caminho, armadilhas que ninguém conseguia desarmar. E as pessoas morriam, morriam.
Os Ibejis decidiram derrotar a Morte, e andaram por um caminho no qual ela havia posto uma armadilha. Um foi pela trilha, e o outro ficou escondido na mata. Aquele que seguia pela trilha tocava o tambor mágico. A Morte adorou e o avisou da armadilha, poupando-lhe a vida. E a Morte dançava.
Quando se cansou, um gêmeo trocou de lugar com o outro e prosseguiu com a música. E a Morte dançava.
Ao longo do tempo e do caminho, o tambor não parava. A Morte foi se cansando, mas não conseguia interromper a dança. Pediu para que a música parasse. Os Ibejis, então, disseram que parariam a música, desde que a Morte retirasse as armadilhas. Ela concordou.
Assim, os Ibejis venceram Icu, a Morte.
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Oni Ibejada!
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 7: Tetos de vitrais: gênero e raça na contabilidade
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentadora: Sandra Maria Cerqueira da Silva Mattos
RESUMO: O fenômeno/conceito do ‘teto de vidro’ representa as várias barreiras simbólicas que, de tão sutil, é transparente, mas suficientemente forte para impossibilitar a ascensão de mulheres aos postos mais altos da hierarquia organizacional. Assim, o termo ‘tetos de vitrais’, no título da proposta, considera a discussão e faz alusão à miscigenação brasileira, objeto deste estudo. O papel social da mulher sofreu considerável mutação e tornou-se mais amplo. Dados do Ministério do Trabalho e Emprego demonstram um aumento na participação de mulheres no mercado formal de trabalho brasileiro, embora uma mulher com diploma superior perceba remuneração equivalente a 60% do salário do sexo masculino. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta que a renda per capita mensal de uma família chefiada por um homem branco é de R$ 997; se chefiada por uma mulher afrodescendente é de apenas R$ 491. (IPEA, 2011) Dambrin e Lambert (2012) demonstram, como resultante da estrutura de dominação de gênero, a raridade da participação feminina nos altos escalões da contabilidade. Com panorama semelhante, as mulheres brasileiras estão sub-representadas na contabilidade. Para bell hooks (1995, p. 5), “o conceito ocidental sexista/racista de quem e o que é um intelectual elimina a possibilidade da associação de afrodescendentes como representativas de uma vocação intelectual”. O objetivo do estudo é descrever qual o papel da mulher afrodescendente na profissão contábil. A pesquisa se propõe ainda a apresentar indicadores que possibilitem desmistificar a representação fantasiosa da democracia racial brasileira. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de abordagem pós-estruturalista autoetnográfica, com dados coletados através de uma entrevista semi-estruturada em profundidade, realizada com uma professora universitária negra, de classe média e de importante posição política.
Maiores informações sobre a Seção Temática em http://jaquejesus.blogspot.com.br/2013/10/feminismo-negro-na-encruzilhada.html e sobre o SERNEGRA em http://sernegra2013.blogspot.com.br.
Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 6: "Escrita de si, escrita da outra": Cristiane Sobral e Lívia Natália
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentadora: Ana Caroline Carmo Silva
RESUMO: Dentre as inúmeras representações de mulheres contidas na sociedade, surge das águas de azeviche a escrita das poetas Cristiane Sobral e Lívia Natália. Pretende-se no presente artigo analisar dois dos seus poemas, a saber: “Não vou mais lavar os pratos” e “Água Negra” a fim de investigar como se constitui o modus operandi dessas mulheres com o texto poético. A poeta brasiliense reivindica a liberdade ao utilizar o eu-lírico para construir “poemas-navalhas” capazes de alcançar o mais fundo da alma do ser, ao passo que a poeta baiana Lívia Natália com a metáfora da água convoca o leitor a um mergulho ensimesmado, capaz de despertar um leitor atento às suas questões íntimas, existências, de militância, etc. Enfim, a poética destas, cada uma com suas peculiaridades (re)afirmam a identidade da mulher negra, problematiza estereótipos forjados em torno das representações da mulher negra, deslocando assim as imagens engendradas na historiografia literária brasileira. Para nortear essa análise será usado como aporte teórico Bourdieu (1999), Fanon (2008), Hall (2005), Moscovici (2012) e Silva (2011), entre outros.
Maiores informações sobre a Seção Temática em http://jaquejesus.blogspot.com.br/2013/10/feminismo-negro-na-encruzilhada.html e sobre o SERNEGRA em http://sernegra2013.blogspot.com.br.
Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 5: Deslocamentos e estratégias de resistência em Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, e Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentadora: Maria Aparecida Cruz de Oliveira
RESUMO: Este trabalho se ocupará da verificação do modo como o espaço de resistência feminista é marcado nos romances contemporâneos Ponciá Vicêncio (2003), da escritora brasileira Conceição Evaristo, e Hibisco roxo (2012), da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Pretende-se compreender a figuração de personagens (negras) femininas que abalam os quadros estáticos de referências sociais dadas ao seu gênero e classe social e avaliar o questionamento dos papéis de gênero construídos nas narrativas.
Maiores informações sobre a Seção Temática em http://jaquejesus.blogspot.com.br/2013/10/feminismo-negro-na-encruzilhada.html e sobre o SERNEGRA em http://sernegra2013.blogspot.com.br.
Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 4: Devaneios de uma aprendiz de antropologia
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentadora: Francy Eide Nunes Leal
RESUMO: Fiquei por longos dias pensando em como começar a escrever esse artigo, muitas vezes o medo encontrava lugar, como escrever sobre um tema que apesar de próximo eu o desconhecia teoricamente? Como ousar dialogar com feministas que publicaram no final da década de1980: Scott (1995), Haraway (1991), Butler (2003)? Quando me aproximei da discussão sobre gênero e sexualidade, a bagagem que carregava sobre o tema era mínima; cabia em poucas palavras, conhecia os escritos de Lévi-Strauss (1982), Margaret Mead (1976), Pierre Clastres (1978) ou seja, a antropologia Clássica de cada dia. Até então era satisfatório, dava conta de ler a “realidade” do meu campo. No decorrer da disciplina Gênero e Sexualidade, percebi como esse universo era mais amplo e complexo para uma aprendiz de antropologia tão obstinada a pesquisar religiosidade a partir do ritual; tantos conceitos: gênero, sexo, sexualidade que se encontram numa arena política e discursiva marcada por segmentações. Novamente vinha à cabeça, como escrever sobre um tema o qual não possuo domínio e não tenho autoridade discursiva?
Encontrei em meio a tantos textos uma carta escrita por uma amiga chicana, palavras marcantes bordadas de poesia. Foram essas palavras que me encorajaram a dar os primeiros passos na escrita: “Escrever é perigoso porque temos medo do que a escrita revela: Os medos, as raivas, a força de uma mulher sob uma opressão tripla ou quádrupla. Porém neste ato reside nossa sobrevivência, porque uma mulher que escreve tem poder. E uma mulher com poder é temida.” (Andazalduá, 2000, p.234).
Escrever é perigoso? Essa frase me causou inquietação, fiquei digerindo - a por longas horas, escrever realmente é perigoso, mas o perigo maior é o silêncio. Eu como um pequeno pedaço do Vale do Jequitinhonha me atrevi mergulhar na antropologia, ousei como tantas mulheres de “cor” dessa região transformar barro em arte, palavras em canções. Nesse trabalho, aproprio-me do poder das palavras para escrever sobre mulheres quilombolas no Norte de Minas Gerais, mulheres de “cor” como eu e tantas outras brasileiras; brancas, parda, negras, indígenas, ribeirinhas, agricultoras, operárias, domésticas , casadas, solteiras, lésbica, viúvas, escolarizadas ou não.
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Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 3: Ser mulher, negra e classe trabalhadora no Brasil: uma análise acerca da intersecção de gênero, raça e classe na sociedade capitalista
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentadora: Jussara de Cássia Soares Lopes
RESUMO: A proposta deste trabalho é debater sobre como gênero, raça e classe se interseccionam, funcionando como mecanismos de acirramento das opressões no âmbito da sociedade capitalista. A reflexão se faz necessária e, no caso brasileiro – foco de análise deste estudo – é imprescindível levar em consideração a formação sócio-histórica do país, bem como seus rebatimentos na contemporaneidade, que resulta em uma realidade particularizada em vários aspectos. Assim, nossa reflexão é uma tentativa de problematizar o que significa ser mulher, negra e classe trabalhadora no Brasil, apontando para a importância de se pautar as opressões extraeconômicas na luta por uma sociedade emancipada.
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Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 2: Feminismo negro americano: o conceito jurídico de discriminação múltipla a partir da interseccionalidade
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentador: Rodrigo da Silva
RESUMO: O trabalho examina a contribuição dos estudos do feminismo negro americano para a interpretação do conceito jurídico de discriminação múltipla, assim como a sua relevância para o enfrentamento jurídico da discriminação no cenário brasileiro e latino-americano. No quadro do direito da antidiscriminação, mormente no que toca às técnicas legislativas dos critérios proibidos de discriminação, busca a compreensão da discriminação interseccional, a partir das origens e dos respectivos debates conceituais. Ao verificar a escassez de abordagem contextualizada das situações discriminatórias, trata da importância da inserção do tema, como revelador de originais e irredutíveis formas de discriminação, sob uma perspectiva qualitativa e não quantitativa, como forma de uma aplicação mais efetiva do princípio da igualdade no Direito.
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Seção Temática Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - SERNEGRA - Comunicação 1: Feminismo negro
Coordenadora: Jaqueline Gomes de Jesus
Apresentador: Douglas Alves Viana
RESUMO: O presente trabalho faz uma análise das formas como a sociedade patriarcal e racista perpassaram a vida de Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento, tendo como fonte principal os livros: ”Eu sou atlântica: sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento” (RATTS, 2006) e “Lélia Gonzalez” (RATTS; RIOS, 2010), além de artigos das autoras, e em como estas não só resistiram ao embranquecimento imposto pelos meios sociais que formam a “torre de marfim” que era universidade brasileira, como também "reexistiram", passando por momentos de, revisitando por vezes a infância e adolescência revendo os meios como a estética da brancura foi ao longo de suas vidas colocada como elemento de destruição de seus corpos e memórias enquanto mulheres negras. Sendo constituídas durante esse processo enquanto intelectuais negras, marcadas pelo feminismo negro, que faz a interseção entre raça e gênero se tornando ambas importantes pesquisadores e lideres responsáveis por impulsionar a luta anti-racista no Brasil. Buscamos identificar a partir daí, as formas como se deram esse enfrentamento e as reflexões que essas mulheres negras deixam sobre as sinuosidades que compõem o racismo brasileiro, os meios sutis que muitas vezes ele se utiliza para embranquecer o negro que sai de seu lugar social, "lugar de negro" e adentra na universidade brasileira pensa por e para as elites.
Maiores informações sobre a Seção Temática em http://jaquejesus.blogspot.com.br/2013/10/feminismo-negro-na-encruzilhada.html e sobre o SERNEGRA em http://sernegra2013.blogspot.com.br.
domingo, 20 de outubro de 2013
Animais Biográficos
O ser humano é um projeto: você só se deixa de ser sombra quando se torna autor(a) de si mesmo(a).
Sua biografia é a sua história inscrita na carne; sua identidade pessoal na multidão de identidades sociais.
Somos animais políticos, podemos nos humanizar quando nos tornamos biográficos.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Abjeção e Desejo no Discurso Midiático sobre Feminilidades Trans
Resumo: Com o aperfeiçoamento da democracia, aumenta a visibilidade da população transgênero (pessoas transexuais e travestis), a qual demonstra a complexidade dos conceitos de gênero e de corpo. Homens e mulheres transexuais são afetados por estereótipos e práticas deletérias com relação a seus direitos humanos, sociais e econômicos, a seus relacionamentos afetivos e aos seus corpos, em um processo de desumanização reproduzido pelos meios de comunicação. O presente trabalho aprofunda a discussão sobre a estética trazida pelas feminilidades trans, investigando, por meio de um grupo focal online, as percepções acerca das representações feitas sobre esses corpos de mulheres em uma imagem retirada de um vídeo de propaganda. Foram identificados, a partir de uma análise semiótica, discursos preconceituosos, pautados pela ridicularização, e a construção de contradiscursos inclusivos, orientados pela humanização.
Abjeção e Desejo no Discurso Midiático sobre Feminilidades Trans by Jaqueline Gomes de Jesus
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Dia dos Professores
Estou muito feliz com o presente de uma aluna engajada no aprendizado, pelo Dia dos Professores.
Obrigada pelo carinho da lembrança! O reconhecimento não tem preço.
domingo, 13 de outubro de 2013
Sobre o Fundamentalismo
"Um monge perguntou a Ummon: O que é o Buda? - Ummon respondeu: Bosta seca".
Livre tradução de tradução em inglês (Senzaki & Reps, 1934) do caso número 21 do Portão Sem Portão (Mumonkan), obra clássica do Zen Budismo escrita pelo mestre chinês Mumon Ekai em 1228.
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Qualquer fundamentalismo - religioso, ideológico, político, metodológico - esvazia o sentido do outro como plenamente humano, e fornece à pessoa fundamentalista justificativas para práticas de ridicularização, subordinação, exclusão ou extermínio de quem pensa ou é diferente dela.
O fundamentalismo também impede que se pense ou se interprete o mundo de forma diferente da usual, é por definição repressivo, em nome de um ideário de civilização (sim, o fundamentalista crê que é mais cidadão que outros).
Em verdade vos digo: o fundamentalismo religioso que empesteia a política brasileira é de base totalitária, na medida em que sua busca pelo poder se orienta por verdades que se expressam por meio do uso de mentiras e da eleição de inimigos objetivos dentre aqueles que discordam de sua propaganda ideológica (sejam eles ateus, candomblecistas, feministas, profissionais do sexo, defensores/as da discriminalização do aborto, lésbicas, gays, bissexuais, assexuais, travestis, transexuais, transgêneros, intersexuais, esta ou aquela rede de comunicação, indígenas, libertários, anarquistas, punks, entre outros).
Não eram apenas os escravagistas e os nazistas que praticavam infrahumanização, pois ela persiste, por outros meios, na Era do Conhecimento, em nossa sociedade pós-industrial, caracterizada pela crise de representação do sagrado e das figuras de autoridade. Irônico, para não dizer trágico.
Racismo na Infância: as marcas da exclusão
Matéria na edição 126, deste mês, da revista Fórum - outro mundo em debate aborda o problema do racismo na infância, os processos de formação da mentalidade racista - a partir de uma cultura pautada pela exclusão e subalternização de pessoas negras - e os seus efeitos perniciosos nas crianças negras discriminadas. Fui uma das pessoas entrevistadas pela jornalista Maíra Streit.
Indico a leitura, inclusive como bom material para um trabalho socioeducativo para reflexão e discussão no sentido do enfrentamento à discriminação racial, especialmente nas escolas. Está disponível no link http://revistaforum.com.br/blog/2013/10/racismo-na-infancia-as-marcas-da-exclusao-2
sábado, 12 de outubro de 2013
A Construção da Cidadania
"Apesar de historicamente estabelecido, o conceito de 'cidadão' ainda está em construção, pois em grande medida a sua definição não é condizente para um número considerável de pessoas.
Ele surgiu, primeiramente, entre os gregos, para os quais o cidadão era o homem frequentador da pólis, o que excluía os escravos e as mulheres: ser cidadão era um privilégio de poucos indivíduos livres do gênero masculino.
Mesmo a Revolução Francesa, tida como alicerce da cidadania, promotora da ideia de que todos os seres humanos nascem iguais (Odalia, 2003), não conseguiu transpor para o mundo real as teorizações inseridas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão quanto à liberdade, à igualdade e à fraternidade. Isso foi constatado por aqueles que, efetivamente, pretenderam levar ao pé da letra a concepção de igualdade entre os homens: os negros que fizeram a Revolução Haitiana (1791-1804), também conhecida como Revolta de São Domingos (James, 2000).
Conforme relata Hobsbawm (1996), a Revolução Francesa foi organizada em torno de consensos da classe burguesa, não havia líderes, mas ideologias que sustentavam a necessidade da ação contra o Antigo Regime.
Os revolucionários da então colônia de São Domingos acolheram as propostas da metrópole francesa e lideraram uma rebelião bem-sucedida contra os escravocratas. Independente, o Haiti foi alvo de perseguições internacionais por ser um país onde os escravos tomaram o poder. Os governos nacionais, especialmente os americanos, temiam que se propagasse entre os seres humanos escravizados a percepção de que eles tinham o direito natural à cidadania e, portanto, o direito à desobediência civil.
O cidadão não surge no âmbito da família, ou da rede social mais próxima. A figura do cidadão pertence a um agrupamento mais amplo, o Estado. Este é detentor do monopólio da força (Weber, 2003), responsável pelas leis, regulador do interesse geral sobre os interesses particulares. Os direitos dos cidadãos, como construções baseadas na estrutura de um Estado, não são benesses privadas, mas conquistas da coletividade, portanto universalistas:
Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila (Pinsky, 2003: 9)".
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Trecho de Jesus, J. G. (2012). Ser cidadão ou escravo: repercussões psicossociais da cidadania. Crítica e Sociedade: Revista de Cultura Política, v. 2, n. 1, 42-63. Disponível em http://www.seer.ufu.br/index.php/criticasociedade/article/view/14920/9772
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
Fazendo Gênero
Foto de Hailey Alves, divulgada no Facebook.
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Depois do Desfazendo Gênero, participei do tradicional Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 - Desafios Atuais dos Feminismos, realizado pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas, pelo Centro de Comunicação e Expressão, bem como por outros Centros da Universidade Federal de Santa Catarina, em parceria com o Centro de Ciências Humanas e da Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina, em Florianópolis, de 16 a 20 de setembro.
Foi um momento de aprofundamento reflexivo sobre o feminismo e as questões de gênero, contextualizadas aos encontros e desencontros de pessoas, grupos e linhas de pensamentos lá que se encontraram.
Desfazendo Gênero
Foto da autora.
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Lembrando da minha participação no Seminário Internacional Desfazendo Gênero: subjetividade, cidadania e transfeminismo, realizado pelo Núcleo Interdisciplinar de Estudos pela Diversidade Sexual, Gênero e Direitos Humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal, de 14 a 16 de agosto. Deixou muitas boas lembranças, aprendizados e saudades.
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira - Seção Temática SERNEGRA
SERNEGRA - II Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça (Instituto Federal de Brasília, de 17 a 20 de novembro)
Programação da Seção Temática - ST 01: Feminismo Negro na Encruzilhada Afrobrasileira: intersecionalidade, diálogos e horizontes (sala do Campus Brasília a ser definida)
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20 de novembro
9h - Apresentação da ST 01 - Coordenadora Jaqueline Gomes de Jesus (UnB)
9h10 - Comunicação 1: Feminismo negro - Douglas Alves Viana (UFG)
9h30 - Comunicação 2: Feminismo negro americano: o conceito jurídico de discriminação múltipla a partir da interseccionalidade - Rodrigo da Silva (UNIRITTER)
9h50 - Comunicação 3: Ser mulher, negra e classe trabalhadora no Brasil: uma análise acerca da intersecção de gênero, raça e classe na sociedade capitalista - Jussara de Cássia Soares Lopes (UFOP)
10h10 - Comunicação 4: Devaneios de uma aprendiz de antropologia - Francy Eide Nunes Leal (UFG)
10h30 - Intervalo
11h - Comunicação 5: Deslocamentos e estratégias de resistência em Ponciá Vicêncio, de Conceição Evaristo, e Hibisco roxo, de Chimamanda Ngozi Adichie - Maria Aparecida Cruz de Oliveira (UnB)
11h20 - Comunicação 6: "Escrita de si, escrita da outra": Cristiane Sobral e Lívia Natália - Ana Caroline Carmo Silva (UNEB)
11h40 - Comunicação 7: Tetos de vitrais: gênero e raça na contabilidade - Sandra Maria Cerqueira da Silva Mattos (USP)
12h - Debate
12h30 - Encerramento
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Programação SERNEGRA 2013
Programação da II Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça - SERNEGRA, de 17 a 20 de novembro de 2013:
Programação SERNEGRA by Jaqueline Gomes de Jesus
Visite o blog do SERNEGRA: http://sernegra2013.blogspot.com.brsábado, 5 de outubro de 2013
São Benedito, O Negro
Fonte: http://www.michaeloart.com/black-magi-and-others-european-art
São Benedito, hoje é o seu dia. Ensina-nos a Folhinha: filho de escravos africanos, nasceu na Sicília em 1526. Jovem entrou para uma comunidade de eremitas franciscanos, passou para a Ordem dos Frades Menores e, no convento de Santa Maria em Palermo foi cozinheiro, mestre de noviços e, em 1578, superior do convento. Morto em 1589, sua canonização ocorreu em 1807.
O caso de São Benedito, venerado por séculos em comunidades negras brasileiras, faz-me refletir - novamente - sobre os processos de exclusão de pessoas negras ao longo da Era Moderna, pautada pelo tráfico transatlântico de africanos escravizados.
Um escape religioso ante à exploração e às subalternizações estruturais? Um exemplo de ascensão na sociedade branca eurocêntrica? Um token incluído ante a uma imensidão de negras e negros aviltados? Talvez todas as opções, e outras, sejam cabíveis, naqueles tempos em que o Estado, no Ocidente, era imiscuído com a Igreja Católica.
Com relação à contemporaneidade, nenhuma pessoa negra - ou indígena, lembrando que estamos em mobilização pelos direitos dos povos indígenas - deveria, em sã consciência, deveria confiar plenamente no Estado brasileiro para a superação das desigualdades raciais e étnicas deste país, onde o poder é branco, oligárquico - senão clânico - e colonizado.
E não existem mais santos para servirem como referencial. Enquanto o racismo institucional permanecer constante e intenso como é, continuaremos a ter apenas um ou outro exemplo de pessoa negra em espaço de poder - exceções perseguidas e monitoradas que confirmam a regra.
Grandes são os desafios para que as ações individuais e coletivas modifiquem o perfil racista e etnocêntrico do poder neste país - em quaisquer instâncias.
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