Eu sempre digo que, ao dissertarmos sobre comportamentos humanos e fenômenos da sociedade, é importante conhecermos de fato o que a ciência biológica tem indicado sobre os corpos, pois em geral as pessoas orientam suas ideologias e ações fundamentadas nas representações sociais que têm da Biologia, e não no que de mais avançado as(os) biólogas(os) apresentam.
Este livro, publicado pelo Instituto Piaget de Lisboa, em 2007, pode ser bem elucidativo: BIOLOGIA DAS EMOÇÕES.
A obra, escrita por Catherine Belzung, apresenta as descobertas mais recentes da psicobiologia acerca das emoções, como expressão individual mas também própria de nossa espécie, e de outros primatas.
É uma perspectiva bem integrativa, que vai desde as bases teóricas sobre afetividade, aponta seus substratos biológicos e fala sobre as variações culturais na expressão dos afetos. Preciosa.
Lugar para percepções, ideias e análises a partir de uma visão pessoal, científica e profissional: uma janela, da minha perspectiva, para o mundo. ~o~ Place for perceptions, ideas and analysis from a personal, scientific and professional view: a window, from my perspective, to the world.
sábado, 31 de janeiro de 2015
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #35: DISCRIMINAÇÃO E DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL
DISCRIMINAÇÃO E DESIGUALDADES RACIAIS NO BRASIL, clássico de Carlos Hasenbalg. Esta bela edição (a segunda) foi publicada em 2005 pela Editora da UFMG, em parceria com o IUPERJ.
Nesta obra-marco dos Estudos Étnico-Raciais no Brasil, Hasenbalg inseriu a estrutura de classes e a estratificação social na discussão sobre as relações raciais pós-abolição, destacando a necessidade de mobilização da população negra para superação das desigualdades racistas impostas pela elite branca.
Nova Colunista da Afropress
Sou a nova colunista da Afropress - Agência Afroétnica de Notícias!
Quem Somos
A Afropress é uma Agência de Notícias on line que trata, especialmente, dos temas de interesse da maioria da população brasileira, que é preta e parda (50,7%), de acordo com o Censo do IBGE 2010.
No ar em tempo real, desde junho de 2007, comprometida com um Jornalismo crítico e independente de partidos e de Governos, a Afropress é a única fonte de notícias no Brasil especializada na produção de conteúdo jornalístico focado nesse tema, que interessa não apenas aos negros, mas ao Brasil, ainda profundamente marcado nas relações econômicas, sociais e políticas pela herança perversa de quase 400 anos de escravidão.
Desde que entrou no ar, inicialmente concebida e incubada como projeto da ONG ABC sem Racismo, a Afropress tem se caracterizado, na sua linha editorial, pela recusa a um Jornalismo “chapa branca”. É dirigida e editada pelo jornalista Dojival Vieira e mantém uma equipe de colunistas, colaboradores e correspondentes, não apenas no Brasil, mas também em Nova York e Londres.
No papel de levar informação de qualidade a pesquisadores, educadores e ativistas do movimento negro e interessados na questão étnico-racial brasileira, a Afropress tem também se afirmado como fonte e canal de informação e diálogo com jornalistas de grandes veículos de comunicação brasileira, contribuindo, dessa forma, para o rompimento da invisibilidade que a grande mídia ainda reserva ao tratamento desse tema, fundamental para um Brasil democrático, mais justo e solidário.
Saiba mais em http://www.afropress.com/post.asp?id=17854
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #34: O QUE É TRANSEXUALIDADE
Sendo hoje, 29 de janeiro, o Dia Nacional da Visibilidade Trans, trago em referência um livro fundamental para se conhecer melhor as pessoas e seu protagonismo: O QUE É TRANSEXUALIDADE.
Nesta obra fundamentalmente transgressora, publicada pela Brasiliense em 2008, Berenice Bento busca explicar a transexualidade bem longe das convenções sociais de masculinidade e feminilidade, problematizando a atuação das instituições sobre os corpos, em particular os das pessoas trans.
Trazendo a fala de quem vive o gênero para além das diferenças genitais, a autora detalha seus desejos, obstáculos e conquistas, sem a exotificação ou a simplificação comuns em outros trabalhos que se anunciam acadêmicos.
Nesta obra fundamentalmente transgressora, publicada pela Brasiliense em 2008, Berenice Bento busca explicar a transexualidade bem longe das convenções sociais de masculinidade e feminilidade, problematizando a atuação das instituições sobre os corpos, em particular os das pessoas trans.
Trazendo a fala de quem vive o gênero para além das diferenças genitais, a autora detalha seus desejos, obstáculos e conquistas, sem a exotificação ou a simplificação comuns em outros trabalhos que se anunciam acadêmicos.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Curso de Formação Política LGBT
Neste sábado, 31 de janeiro, a Tia Jaque dará uma aula sobre Teoria Queer e Mobilização, à tarde, no Curso de Formação Política LGBT da FENED (Federação Nacional de Estudantes de Direito).
O curso ocorrerá entre os dias 29/01 e 1º/02 em São Paulo, no campus Consolação da PUC-SP (Rua Marquês de Paranaguá, 111, Consolação, CEP 01303-050, São Paulo/SP). Conheça a PROGRAMAÇÃO.
Ele está sendo organizado pelo Setorial LGBT da FENED e pela Frente LGBT* da PUC-SP, coletivo em formação que sedia o evento, com apoio da PUC-SP e do Inanna (Núcleo Transdisciplinar de Investigações de Sexualidades, Gêneros e Diferenças).
É necessário se inscrever previamente! Acesse aqui.
Maiores informações sobre o curso, aqui.
Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo
Mensagem da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República:
No dia 28 de janeiro de 2004, os auditores do trabalho Nelson José da Silva, João Batista Lage, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista Ailton Pereira de Oliveira faziam uma operação de fiscalização em Unaí- MG, e foram assassinados durante o trabalho. O caso ficou conhecido como Chacina de Unaí. O Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo foi estabelecido em homenagem às quatro vítimas.
#CombateaoTrabalhoEscravo #DireitosHumanos
Livros para Libertação #33: GRUPO FOCAL
GRUPO FOCAL na pesquisa em Ciências Sociais e Humanas, de Bernardete Angelina Gatti, publicado em 2005 pela Liber Livro, de Brasília.
O livro é bem prático na orientação quanto ao uso de grupos focais como instrumento de pesquisa em processos de entrevista coletiva, onde as interações se sobressaem como elementos básicos da investigação.
O livro é bem prático na orientação quanto ao uso de grupos focais como instrumento de pesquisa em processos de entrevista coletiva, onde as interações se sobressaem como elementos básicos da investigação.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #32: THE MAKING OF MODERN SOCIAL PSYCHOLOGY
Este, já adianto, só pode ser comprado por lojas virtuais multinacionais, como a Amazon. Ainda não há tradução brasileira, até onde sei: THE MAKING OF MODERN SOCIAL PSYCHOLOGY: The hidden story of how an international social science was created.
Mais uma grande obra de Serge Moscovici, acompanhado de Ivana Marková.
Publicada pela Polity Press dos Estados Unidos da América, em 2006, ela nos ensina como o passado de uma ciência pode nos ensinar sobre a sua atualidade, em particular a moderna Psicologia Social, forjada pelos grandes acontecimentos do século XX e programas de intelectuais em busca de um saber científico reconhecido globalmente, e não globalmente imposto.
Mais uma grande obra de Serge Moscovici, acompanhado de Ivana Marková.
Publicada pela Polity Press dos Estados Unidos da América, em 2006, ela nos ensina como o passado de uma ciência pode nos ensinar sobre a sua atualidade, em particular a moderna Psicologia Social, forjada pelos grandes acontecimentos do século XX e programas de intelectuais em busca de um saber científico reconhecido globalmente, e não globalmente imposto.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #31: O PENSAR COMPLEXO
Organizado por Alfredo Pena-Vega e Elimar Pinheiro do Nascimento, O PENSAR COMPLEXO: Edgar Morin e a crise da modernidade foi publicado pela Garamond Universitária, do Rio de Janeiro, em 1999.
Com contribuições de dezenas de autores, incluindo o próprio Edgar Morin, o livro revigora o posicionamento do sociológico acerca da necessária reforma do pensamento científico, a partir de uma pluralidade de vozes contra as diferentes formas de reducionismo.
Com contribuições de dezenas de autores, incluindo o próprio Edgar Morin, o livro revigora o posicionamento do sociológico acerca da necessária reforma do pensamento científico, a partir de uma pluralidade de vozes contra as diferentes formas de reducionismo.
domingo, 25 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #30: O QUE É PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
Mais um livro da coleção Primeiros Passos, da Brasiliense: O QUE É PARTICIPAÇÃO POLÍTICA.
A minha edição é de 2004. Neste livro, Dalmo de Abreu Dallari fala de maneira concisa sobre a participação dos indivíduos na vida social e seu papel de influência nas decisões de interesse comum.
O autor ressalta a importância da participação política para a modificação das condições de vida e para o enfrentamento de interesses de um grupo que podem ser perniciosos a outros.
A minha edição é de 2004. Neste livro, Dalmo de Abreu Dallari fala de maneira concisa sobre a participação dos indivíduos na vida social e seu papel de influência nas decisões de interesse comum.
O autor ressalta a importância da participação política para a modificação das condições de vida e para o enfrentamento de interesses de um grupo que podem ser perniciosos a outros.
sábado, 24 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #29: IDENTIDADE E DIFERENÇA
IDENTIDADE E DIFERENÇA: A perspectiva dos Estudos Culturais, foi publicado pela Vozes. Minha edição é de 2009.
Neste livro, organizado por Tomaz Tadeu da Silva, há textos de Kathryn Woodward e de Stuart Hall sobre o processo de identificação, sujeito ao jogo da différence e às práticas de significação.
Kathryn apresenta uma introdução teórica e conceitual aos conceitos de identidade e diferença. Tomaz Tadeu disserta sobre a produção social da identidade e da diferença e Stuart Hall discute a explosão discursiva do conceito de identidade, reconhecendo a importância política da questão.
Neste livro, organizado por Tomaz Tadeu da Silva, há textos de Kathryn Woodward e de Stuart Hall sobre o processo de identificação, sujeito ao jogo da différence e às práticas de significação.
Kathryn apresenta uma introdução teórica e conceitual aos conceitos de identidade e diferença. Tomaz Tadeu disserta sobre a produção social da identidade e da diferença e Stuart Hall discute a explosão discursiva do conceito de identidade, reconhecendo a importância política da questão.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #28: PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Este eu posso dizer dizer que é um livro de bases estritamente técnicas com fortes perspectivas políticas: PRECONCEITO LINGUÍSTICO: O que é, como se faz.
Partindo do que popularmente se fala, e repete-se até mesmo na academia, de que "português é muito difícil" ou de que as pessoas "não sabem português, falam errado", e ainda que "o certo é falar assim porque se escreve assim", Marcos Bagno, nesta publicação das Edições Loyola, de São Paulo (o meu exemplar é de 2002), demonstrará que tais afirmações derivam de um preconceito linguístico, que confunde língua com gramática normativa.
É um livro muito instigante intelectualmente, recomendo a pesquisadores não apenas do campo da Linguística (deve ser leitura básica dos colegas), mas principalmente a pesquisadores sociais e mesmo a leigos que, quase diariamente, acompanham pelos meios de comunicação debates comumente ridicularizantes sobre norma culta e coloquialidade.
Partindo do que popularmente se fala, e repete-se até mesmo na academia, de que "português é muito difícil" ou de que as pessoas "não sabem português, falam errado", e ainda que "o certo é falar assim porque se escreve assim", Marcos Bagno, nesta publicação das Edições Loyola, de São Paulo (o meu exemplar é de 2002), demonstrará que tais afirmações derivam de um preconceito linguístico, que confunde língua com gramática normativa.
É um livro muito instigante intelectualmente, recomendo a pesquisadores não apenas do campo da Linguística (deve ser leitura básica dos colegas), mas principalmente a pesquisadores sociais e mesmo a leigos que, quase diariamente, acompanham pelos meios de comunicação debates comumente ridicularizantes sobre norma culta e coloquialidade.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #27: ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL
A seguinte publicação traz elementos aprofundados sobre o estudo dos movimentos sociais como um campo do pensamento social: ESTADO, CLASSE E MOVIMENTO SOCIAL.
De Carlos Montaño e Maria Lúcia Duriguetto, o livro foi publicado pela Cortez em 2011. Traz amplas reflexões sobre o fenômeno em pauta, considerando Estado e Classes como conceitos fundamentais, descrevendo a concepção do Estado no capitalismo, as lutas de classe e os diferentes tempos dos movimentos sociais, como espaços de lutas sociais.
De Carlos Montaño e Maria Lúcia Duriguetto, o livro foi publicado pela Cortez em 2011. Traz amplas reflexões sobre o fenômeno em pauta, considerando Estado e Classes como conceitos fundamentais, descrevendo a concepção do Estado no capitalismo, as lutas de classe e os diferentes tempos dos movimentos sociais, como espaços de lutas sociais.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
A Lei dos Pontos Raciais Paulista
O Governo do Estado de São Paulo acaba de promulgar a Lei Complementar nº 1.259, de 15 de janeiro de 2015, que autoriza o Poder Executivo a instituir sistema de pontuação diferenciada em concursos públicos para pretos, pardos e indígenas. Um passo sério e necessário para se começar uma superação das desigualdades raciais no serviço público.
Essa legislação, atinente a um dos momentos-chave para a aplicação de ações afirmativas, o acesso, responsabiliza sobremaneira os órgãos que forem executá-la. Em termos técnicos e ético-políticos, os profissionais responsáveis por sua exequibilidade precisaram ser muito bem preparados, considerando que faltam parâmetros no documento relativamente a como evitar fraudes, inevitáveis em um processo que envolve a valorização de grupos historicamente alijados do acesso aos bens sociais.
Minha análise se concentra na população negra, como se verá, em função do elevado grau de reverberação das ações a ela voltadas no que toca a intensas transformações sociais, em decorrência da sua representatividade demográfica.
As comissões ou equipes responsáveis pela avaliação dos pedidos de candidatos precisarão discutir bem seus pressupostos para diminuir a probabilidade, por exemplo, de que brancos ganhem pontos, como se fossem negros de cor parda, por falsidade de autodeclaração, ou ainda que pessoas negras de cor parda sejam penalizadas, não participando do processo por razões várias.
Uma sugestão que trago, por experiência própria como profissional que conheceu por dentro a implantação de ações afirmativas, é a de que o Poder Executivo busque proatividade nesse processo, não se limitando a averiguar eventuais denúncias de fraude, mas atuando, desde os primeiros momentos de preparação dos concursos, para diminuir a sua ocorrência.
O ponto de corte quanto à condição sócio-econômica precisa ser ponderado com cuidado, a fim de que não seja muito baixo, excluindo potenciais candidatos de baixa renda.
Conforme dados do relatório sobre as condições de vida e trabalho da população negra no Brasil, publicado em fins de 2014 pela Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR da Presidência da República, em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (confira o estudo clicando aqui), 6,7% dos trabalhadores brancos paulistas são servidores públicos, enquanto, na mesma condição, 4,3% são negros. A maioria dos desempregados no Estado de São Paulo é negra.
25,1% dos paulistas com 12 ou mais anos de escolaridade são brancos, ao passo que menos da metade, 10,4%, são negros. Cito essa informação porque ela terá algum impacto no perfil dos candidatos de determinados certames, o que precisa ser levado em conta. Suponho que se deva conferir uma pontuação maior aos candidatos negros para cargos de nível superior do que para os de outros níveis de ensino.
Quando se reflete nas pontuações, é imprescindível ter em vista o aumento da presença da população-alvo da política na instituição em pauta. Os pontos a serem conferidos precisam contribuir positivamente, de maneira significativa, para a proporção de membros de grupos sócio-historicamente discriminados na organização pública.
Um ponto emblemático na Lei 1.259/2015 é o conceito de etnia, destacado no Artigo 5º. É problemático utilizá-lo quando se refere à população negra (subentendida como uma categoria cultural formada pelos pretos e pardos), porque ele é mais apropriado para as populações indígenas, como dimensão mais estanque do que a de cor/raça.
A identificação de alguém como uma pessoa negra ou branca, na sociedade brasileira, e suas consequências, não decorre estritamente de ancestralidade, mas daquilo que chamamos de racismo de marca, pontuado por elementos da aparência do indivíduo. Na população indígena, ao contrário, o reconhecimento pelo grupo étnico de origem é uma condição muito mais saliente.
Entretanto, parece-me, tal questionamento é mais teórico do que prático, e não trará maiores contratempos à implantação da proposta.
Os desafios posteriores à aplicação adequada da norma serão: (1) a implementação de políticas criativas para a permanência qualificada dos profissionais que ingressarem, tendo em vista quase certas limitações financeiras que eles terão, mas também restrições dos colegas que os receberão, no que tange ao acesso a informações e relacionamentos sociais no trabalho; e (2) a preparação dos dirigentes para uma efetiva gestão da diversidade, objetivando a formação de equipes que aprendem com a sua variedade humana, e não apesar dela.
A adoção de tal ação afirmativa pelo Estado mais rico do país, e com uma das maiores visibilidades nacionais e internacionais (como o do Rio de Janeiro, que já adota medidas dessa natureza), certamente trará reflexos políticos favoráveis em outras Unidades da Federação, que estarão mais sensibilizadas a discutir o quão imperioso é criar condições para diminuir os obstáculos históricos e atuais para a inclusão de pessoas negras e indígenas nos quadros do Estado.
Livros para Libertação #26: PSICOLOGIA POLÍTICA
PSICOLOGIA POLÍTICA: Temas atuais de investigação, organizado por Salvador Antonio Mireles Sandoval, Domenico Uhng Hur e Bruna Suruagy do Amaral Dantas, publicado pela Editora Alínea, de Campinas, em 2014.
O livro agrega olhares da Psicologia acerca de fenômenos políticos na contemporaneidade, que não se restringem às instituições tradicionais, expressam-se nos movimentos sociais e apresentam as dimensões identitárias como uma marca de sua forma de ser no mundo.
A Psicologia Política é um campo multifacetado, e os temas abordados nos capítulos da obra buscam traçar um mapa mínimo dessa variedade, na ordem que segue: marxismo, emancipação, intervenção comunitária, políticas públicas, memória coletiva, migração, arte, religião, gestão ambiental, identidade da mulher negra, movimentos de mulheres e feminismos, instituições militares e juventude.
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
As 10 + Lidas
As dez postagens mais lidas no meu blog, desde maio de 2010:
#01 Abaporu em Brasília
#02 Mitos sobre Gênero em uma Matéria da Revista Veja
#03 Psicologia Social: Preconceito, Estereótipo e Discriminação
#04 O Parque da Cidade: Um Olhar Afetuoso
#05 O Caso Mirian França
#06 Você tem Medo do Trovão ou do Raio?
#07 Somos Todas Charô Nunes
#08 Hoje é Dia de Parada, Para Quem?
#09 Bafão: Tem Gente de Esquerda que Vota em Aécio
#10 Convite: Aniversário de Brasília
Hoje é Dia de São Sebastião
Vejam como funciona a branquitude, como ideal de humanidade no Brasil, a partir de uma descoberta com restauração: no século XVI, a estátua do Santo tinha a pele mais escura e olhos castanhos. Com o passar dos séculos, foram clareando-a, e pintaram seus olhos de azul.
A imagem de São Sebastião passou por um processo de restauro que durou oito meses e meio (Foto: Cristina Boeckel/G1).
Milhares de fiéis lotam a Paróquia de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, na Tijuca, em homenagem ao Padroeiro da Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Igreja dos Capuchinhos repleta de fiéis no dia de São Sebastião, padroeiro do Rio - Renan França/O Globo.
Leia a matéria n´O Globo.
Conheça melhor o processo de restauro da imagem clicando aqui.
São Sebastião foi sincretizado, no processo histórico de resistência cultural dos adeptos do Candomblé, com o Orixá Oxóssi, arqueiro de uma só flecha, filho do verde, senhor da mata, da caça e da fartura. Guardião famoso, com seu chapéu de banda, é aquele que acertou o Pássaro da Noite e se tornou membro da Casa Real. Assim é saudado: Okê Arô!
Livros para Libertação #25: ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS
ANÁLISE DE DADOS QUALITATIVOS, de Graham Gibbs, publicado pela Artmed em 2009.
O livro se concentra na apresentação de estratégias para análise de entrevistas, grupos focais e biografias, considerando questões práticas e ressaltando o uso de programas eletrônicos como apoio ao trabalho investigativo.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #24: GUERRA CIVIL
Nesta obra monumental, Luís Mir analisa as baixas da violência epidêmica no Brasil, que mata milhares, muitas vezes com a anuência e quase sempre com a indiferença do Estado, com base em discriminações étnicas, sociais, éticas e políticas: GUERRA CIVIL: Estado e trauma.
Publicado pela Geração Editorial de São Paulo, em 2004, o livro alia medicina e história, e utiliza dados acerca dos homicídios ocorridos diária e anualmente neste país para falar do apartheid vigente nesta sociedade.
Populações inteiras, especialmente as negras e indígenas, são exterminadas e segregadas sistemicamente e forçadas a viver em campos de concentração (favelas), monitoradas pela polícia, sob ameaça de agressão ou pena de morte.
Uma obra necessária para qualquer pesquisador social e, particularmente, para os que entendem a natureza dos "autos de resistência" e reconhece a necessidade de seu fim imediato.
domingo, 18 de janeiro de 2015
Brasília é uma terra de ninguém
Brasília é uma terra de ninguém onde as autoridades se acham donas de cada pedaço.
Livros para Libertação #23: O QUE É VIOLÊNCIA
Lamentavelmente, a Editora Brasiliense faliu. Ela foi responsável pela bela coleção Primeiros Passos, da qual este livro fez parte: O QUE É VIOLÊNCIA.
Aprendemos que o ser humano é um animal gregário, depois que é um animal político. Nilo Odalia, neste livro de 1983, dir-nos-á que também somos animais violentos: "...a violência sempre caminhou lado a lado com a civilização. E chega aos dias de hoje nas mais diversas formas: física, racial, sexual, política, econômica"...
O objetivo da obra é apenas o de fazer uma tipologia da violência.
sábado, 17 de janeiro de 2015
Marcha das Mulheres Negras 2015
Vídeo da Marcha das Mulheres Negras 2015 - Contra o racismo e a violência e pelo bem viver, produzido pela Griô Produções:
Realização: AMNB - Articulação de Mulheres Negras Brasileiras
Coordenação: Jurema Werneck, Nilza Iraci, Simone Cruz
Apoio: Fundo Elas
Filmagens, edição e finalização: Chaia Dechen
Roteiro e Produção executiva: Jaqueline Fernandes
Produção Musical: Higo Melo
Letra: Oliveira Silveira (Guerreiras Brasileiras)
Vozes: Leci Brandão, Elaine Dorea, Mabô
Imagens cedidas: Luiza Mahim no canto das mulheres anônimas e guerreiras brasileiras. 1988 de Vik Birkbeck e Ras Adauto.
Livros para Libertação #22: COMO SE ENSINA A SER MENINA
COMO SE ENSINA A SER MENINA: O sexismo na escola, de Montserrat Moreno, publicado pela Editora Moderna, de Campinas, em parceria com a Editora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 1999.
O livro se foca no tema do androcentrismo (o homem como centro de tudo), e conduz explicações o mais didáticas possíveis sobre como as concepções sexistas de ser humano, como masculino e feminino, ocorrem e são reiteradas na escola.
Recomendo o livro para quem pretende ter uma visão um pouco mais crítica sobre os pretensos fundamentos biológicos que determinam os papeis de homens e mulheres na sociedade, comumente para a submissão destas.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Mesa “Despatologização das Identidades Trans” - CRP/MG
O Conselho Regional de Psicologia – Minas Gerais (CRP-MG) realizará, no dia 28 deste mês, a mesa "Psicologia e Direitos Humanos: Despatologização das Identidades Trans”. O evento acontece a partir das 19 horas, na sede do próprio Conselho, em Belo Horizonte.
A mesa será composta pelos palestrantes:
Felippe Lattanzio (psicólogo, doutorando em Psicopatologia - UFMG, mestre em Psicologia/Teoria Psicanalítica - UFMG,palestrante nas temáticas de Gênero, Masculinidades, Psicopatologia Psicanalítica)
Jaqueline Gomes de Jesus (psicóloga, pós-doutora - FGV, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações - UnB, autora e organizadora do livro "Transfeminismo: Teorias e Práticas")
Paulo Ceccarelli (psicólogo, psicanalista, pós-doutor – Universidade de Paris 7- Diderot, doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise – Universidade de Paris 7- Diderot, autor do livro "Transexualidades").
A inscrição é gratuita, necessitando apenas enviar um e-mail prévio para estagio.rp@crp04.org.br informando nome completo e instituição que trabalha.
Mais informações pelo telefone (31) 2138-6769 e aqui.
Mesa Psicologia e Direitos Humanos: Despatologização das Identidades Trans
Data: 28 de janeiro de 2015
Horário: 19 horas
Local: Auditório Ruy Flores Lopes, Rua Timbiras, 1532, 6º andar, Lourdes, Belo Horizonte, MG
Informações e inscrições: estagio.rp@crp04.org.br e (31) 2138-6769
Livros para Libertação #21: SOCIOLOGIA DO TRABALHO
Este foi o meu primeiro livreto quando comecei a re-educação no Pós-Doutorado, para conhecer a categoria "trabalho" nos campos das Ciências Sociais e da História: SOCIOLOGIA DO TRABALHO.
De José Ricardo Ramalho e Marco Aurélio Santana, foi publicado pela Jorge Zahar Editor, do Rio de Janeiro, em 2004.
O livro analisa conceitualmente o trabalho a partir de suas transformações e reestruturações produtivas na contemporaneidade, delineando um cenário de processos e impactos coletivos e organizacionais, a partir do referencial teórico da Sociologia do Trabalho.
De José Ricardo Ramalho e Marco Aurélio Santana, foi publicado pela Jorge Zahar Editor, do Rio de Janeiro, em 2004.
O livro analisa conceitualmente o trabalho a partir de suas transformações e reestruturações produtivas na contemporaneidade, delineando um cenário de processos e impactos coletivos e organizacionais, a partir do referencial teórico da Sociologia do Trabalho.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #20: RACISMO E ANTI-RACISMO NA EDUCAÇÃO
"Como integrar a temática racismo ao refletirmos sobre o tipo de educação que queremos?", essa pergunta é o ponto de partida de RACISMO E ANTI-RACISMO NA EDUCAÇÃO: Repensando nossa escola.
Publicado pelo Selo Negro da Summus Editorial, de São Paulo, em 2001, este livro organizado por Eliane Cavalleiro apresenta reflexões sobre preconceito e discriminação no ambiente educacional, com vistas à sua superação, a partir do comprometimento com uma educação anti-racista, explicada em diferentes capítulos por referências nacionais nesse campo, como a própria organizadora, Cidinha da Silva, Nilma Lino Gomes, Elisa Larkin Nascimento, Jeruse Romão, Ana Lúcia Silva Souza, Andréia Lisboa de Sousa, Cesar Rossato, Verônica Gesser, Elisabeth Fernandes de Souza e Isabel Aparecida dos Santos.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #19: ANÁLISE DO CONTEÚDO
Não é o clássico da Bardin, mas merece nossa atenção: ANÁLISE DO CONTEÚDO.
De Maria Laura P. B. Franco, foi publicado pela pequena Liber Livro, de Brasília, em 2005.
Vale muito a pena. Atualizado, o livro demonstra a aplicação da análise de conteúdo a um espectro amplo de problemas, para o teste de hipóteses, sua conexão com outras técnicas de pesquisa e toca na utilização de softwares.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
Edital - Combate à Violência Institucional e à Discriminação
O Fundo Brasil de Direitos Humanos irá doar, por meio de Edital, até R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais) para apoio a projetos. O fundo prioriza o apoio a projetos institucionais, mas poderá oferecer bolsas individuais, desde que as propostas apresentadas por indivíduos atendam aos mesmos requisitos do Edital.
Serão apoiados, em 2015, projetos que tenham por objetivo combater a violência institucional e a discriminação, com um ou mais dos seguintes focos:
Superexploração do trabalho, trabalho escravo e trabalho infantil;
Violência policial, de milícias ou esquadrões da morte;
Tortura e execuções;
Não acesso à terra e ao território;
Democratização do acesso à justiça;
Violação de direitos socioambientais;
Criminalização de organizações e movimentos sociais;
Violência contra defensores de direitos humanos;
Discriminação no acesso ao serviço público;
Discriminação de gênero, de raça, de etnia, de orientação sexual;
Discriminação em razão de condição econômica;
Combate à intolerância religiosa.
Valor total de no mínimo R$ 20.000,00 (vinte mil reais) e no máximo R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), para até um ano de duração.
O proponente deve responder formulário e encaminhá-lo ao endereço do Fundo Brasil de Direitos Humanos, somente por correio, até o dia 27 de fevereiro de 2015.
Informações detalhadas e acesso ao Edital aqui.
Livros para Libertação #18: ESTATÍSTICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS
Livro super amigável para quem está começando a tatear os usos das estatísticas, nem sei se ainda é publicado. Digo isso porque a minha edição é de 1999: ESTATÍSTICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS.
De Pedro Alberto Barbetta, publicada pela Editora da UFSC, de Florianópolis, motiva o aprendizado com muitos exemplos, figuras e exercícios.
É muito agradável e estimula quem está começando a calcular médias, desvios-padrão, tamanho de amostras, fazer testes de comparação, análise de dados categorizados, correlações e regressões.
É muito agradável e estimula quem está começando a calcular médias, desvios-padrão, tamanho de amostras, fazer testes de comparação, análise de dados categorizados, correlações e regressões.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Prezado Ministro da Educação, Cid Ferreira Gomes,
Serei honesta com o senhor, porque sou mesmo e sei que essa é uma característica que também prezas e adotas: decepcionei-me com sua indicação ao cargo, a princípio, devido a declarações que fizeste acerca do caráter vocacional da docência (e do serviço público).
Espero, sinceramente, que suas iniciativas futuras no Ministério mudem positivamente essa percepção. Apesar de nossas diferenças identitárias, ideológicas e políticas, concordamos que ações falam mais que palavras.
Então, deixo de blá blá blá e vou direto ao ponto: eu apoio Luma Nogueira de Andrade como Reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Decerto o senhor está a par dessa discussão, que felizmente saiu das fronteiras do Ceará - tendo em vista o propósito internacionalista da Unilab - e aporta aqui e ali Brasil afora, nas redes sociais, jornais e revistas.
Até aqui, nada de mais a respeito. Cada qual com sua opinião. Porém preciso prendê-lo só mais um pouco, com alguns argumentos que vão além de repetidas questões de ordem pessoal e grupal (na condição de Reitora, a professora Luma seria a primeira travesti, seguindo à primeira negra, a professora Nilma Lino Gomes, ora sua colega de Esplanada).
Listagens classificatórias geralmente são incorretas e ignoram precursores anônimos, podendo se tornar justificativas superficiais para que não se avance em mudanças estruturais. Mas entendo que Luma, como dirigente superior da Unilab, contribuirá não apenas com sua capacidade gerencial e habilidade política para agregar a comunidade universitária, mas também poderá trabalhar os liames que se pretende fortalecer com os países africanos.
O fato de ela ser branca não prejudicará a interlocução luso-africana da instituição, que se apresentará, por meio de sua figura, como catalisadora de debates interraciais e transversais contemporâneos. Integração se faz, em parte considerável, com empoderamento.
O fato de ela ser branca não prejudicará a interlocução luso-africana da instituição, que se apresentará, por meio de sua figura, como catalisadora de debates interraciais e transversais contemporâneos. Integração se faz, em parte considerável, com empoderamento.
Para além de lhe falar como pensadora e cronista, eu o faço como alguém que conhece pessoalmente aquela a quem retrato.
Ela me foi apresentada, há dois anos, pela professora Berenice Bento, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, quando eu procurava uma parceira para comigo coordenar um simpósio durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero, que então ocorreria em Florianópolis.
Nós nos encontramos pessoalmente, após contatos virtuais para formalização da proposta, no Seminário Internacional Desfazendo Gênero, em Natal. Conversamos sobre concursos docentes (não por acaso um dos temas nos quais se espera que o senhor intervenha proativamente). Sou escaldada nesse campo, não necessariamente com experiências positivas. Luma pediu-me conselhos, orientações. Ofereci-lhe as que aprendi na labuta dos certames falhados e, quanto aos vindouros, senti-me incapaz de lhe jogar mais luzes.
Ela partiu em seguida para a seleção de professores em Educação da Unilab, e foi aprovada.
Reencontra-mo-nos, nesse mesmo ano, na Universidade Federal de Santa Catarina. Felicitei-lhe calorosamente pela vitória, ao que Luma respondeu:
- Amiga, você sabe que eu só afirmo o que está escrito e assinado.
Faltava a chancela da Reitora Nilma e a publicação do Ato no Diário Oficial para que a posse fosse oficializada, como foi.
Assim é a Luma Andrade que eu conheço: uma mulher que se afirma travesti para demarcar sua luta; uma educadora ansiosa por fazer seu trabalho de professora render mais do que mero status; uma profissional da maior sensatez.
Dito isso tudo, concluo reconhecendo que o movimento Luma Lá surgiu com um belo espírito, do de que agora é a hora oportuna para alguém que atua na Unilab concentrar as forças de seu avanço, e alguém capacitado, como pessoa e profissional.
O nome está posto para o seu alvedrio, Ministro.
Respeitosamente,
Jaqueline Gomes de Jesus
Livros para Libertação #17: MANAGING DIVERSITY
Esta importante referência para o meu pensar e fazer em gestão da diversidade, você, até onde sei, só encontrará em lojas virtuais como a Amazon: HARVARD BUSINESS REVIEW ON MANAGING DIVERSITY.
Quem primeiro me indicou essa obra durante a minha graduação, vale dizer, foi o professor Cláudio Vaz Torres, na disciplina Tópicos Especiais em Psicologia das Organizações, na qual ele abordou Diversidade nas Organizações. Minha edição é de 2002.
Publicado pela Harvard Business School Press, nos Estados Unidos da América, o livro apresenta perspectivas pessoais, estudos de caso e orientações práticas no sentido da promoção da equidade no trabalho, identificando a gestão da diversidade e seu papel na valorização das várias dimensões sócio-identitárias humanas, no contexto das organizações.
Publicado pela Harvard Business School Press, nos Estados Unidos da América, o livro apresenta perspectivas pessoais, estudos de caso e orientações práticas no sentido da promoção da equidade no trabalho, identificando a gestão da diversidade e seu papel na valorização das várias dimensões sócio-identitárias humanas, no contexto das organizações.
domingo, 11 de janeiro de 2015
Escreva Lola Escreva
Defender os direitos de grupos sócio-historicamente discriminados continua sendo perigoso no Brasil, especialmente quando você se reconhece como integrante de alguns deles e não permite que sua fala seja autorizada ou cerceada.
A feminista, professora e blogueira Lola Aronovich vem sendo ameaçada pelo seu trabalho intelectual, livremente divulgado na internet pelo seu blog Escreva Lola Escreva.
Conheça um pouco mais sobre a pensadora, por meio desta interessante e rica entrevista feita em 2013 pela Revista O Viés: LOLA ARONOVICH: “NÃO CONSIGO DESVINCULAR O FEMINISMO DE OUTRAS LUTAS SOCIAIS”
Clicando aqui, veja algumas das chocantes agressões que ela tem sofrido nos meios virtuais, por parte de figuras já conhecidas.
A Revista Fórum acaba de publicar entrevista da jornalista Jarid Arraes na qual Lola relata detalhadamente os ataques que vem sofrendo, os apoios que recebe (recentemente foi referendada por meio de um tuitaço com a hashtag #PorqueNaoMeCalo) e suas ações incisivas a respeito, tanto intelectuais quanto no campo jurídico: Lola Aronovich: “Calar não é uma opção”
A intimidação é uma velha tática dos que almejam silenciar quem emite opiniões contrárias às suas. Ao nos referirmos a quaisquer posicionamentos divergentes do padrão tradicional, essa estratégia é praticamente automatizada pelos opositores, independentemente da sua escolaridade, os quais defendem a manutenção do discurso comum. Desconsidera-se a qualidade da reflexão a partir de referências outras que não a sua sustentação argumentativa.
Entretanto, quando quem porta a fala é alguém oriundo de um grupo social desconsiderado no estereótipo do sujeito universal (homem cisgênero branco heterossexual casado com filhos e de classe média), a crítica se torna mais agressiva, senão letal. Desconsidera-se a capacidade reflexiva da pessoa, e em alguns casos se autoriza seu banimento ou até sua eliminação, justificada pelo risco que a sociedade corre com a sua existência ruidosa.
Considero que Lola Aronovich está sendo vítima deste tipo de perseguição hedionda, que objetiva, além de silenciá-la, reiterar as fronteiras de outros discursos, que não o hegemônico, que porventura problematizem as regras e códigos do status quo.
Mais que uma perseguição pessoal, essa é uma mais uma ação de personalidades autoritárias, que visam perpetuar a dominação do pensamento e, por conseguinte, da influência e do poder nas mãos e mentes de quem se considera o ser humano por excelência (enquadrados no modelo do sujeito universal supracitado).
Expresso meu total apoio à livre expressão de Lola e defendo a responsabilização dos que, divergindo dela, apelam violentamente para a depreciação e a tentativa espúria de subjugação.
A feminista, professora e blogueira Lola Aronovich vem sendo ameaçada pelo seu trabalho intelectual, livremente divulgado na internet pelo seu blog Escreva Lola Escreva.
Lola Aronovich. Fonte da imagem aqui.
Conheça um pouco mais sobre a pensadora, por meio desta interessante e rica entrevista feita em 2013 pela Revista O Viés: LOLA ARONOVICH: “NÃO CONSIGO DESVINCULAR O FEMINISMO DE OUTRAS LUTAS SOCIAIS”
Clicando aqui, veja algumas das chocantes agressões que ela tem sofrido nos meios virtuais, por parte de figuras já conhecidas.
A Revista Fórum acaba de publicar entrevista da jornalista Jarid Arraes na qual Lola relata detalhadamente os ataques que vem sofrendo, os apoios que recebe (recentemente foi referendada por meio de um tuitaço com a hashtag #PorqueNaoMeCalo) e suas ações incisivas a respeito, tanto intelectuais quanto no campo jurídico: Lola Aronovich: “Calar não é uma opção”
A intimidação é uma velha tática dos que almejam silenciar quem emite opiniões contrárias às suas. Ao nos referirmos a quaisquer posicionamentos divergentes do padrão tradicional, essa estratégia é praticamente automatizada pelos opositores, independentemente da sua escolaridade, os quais defendem a manutenção do discurso comum. Desconsidera-se a qualidade da reflexão a partir de referências outras que não a sua sustentação argumentativa.
Entretanto, quando quem porta a fala é alguém oriundo de um grupo social desconsiderado no estereótipo do sujeito universal (homem cisgênero branco heterossexual casado com filhos e de classe média), a crítica se torna mais agressiva, senão letal. Desconsidera-se a capacidade reflexiva da pessoa, e em alguns casos se autoriza seu banimento ou até sua eliminação, justificada pelo risco que a sociedade corre com a sua existência ruidosa.
Considero que Lola Aronovich está sendo vítima deste tipo de perseguição hedionda, que objetiva, além de silenciá-la, reiterar as fronteiras de outros discursos, que não o hegemônico, que porventura problematizem as regras e códigos do status quo.
Mais que uma perseguição pessoal, essa é uma mais uma ação de personalidades autoritárias, que visam perpetuar a dominação do pensamento e, por conseguinte, da influência e do poder nas mãos e mentes de quem se considera o ser humano por excelência (enquadrados no modelo do sujeito universal supracitado).
Expresso meu total apoio à livre expressão de Lola e defendo a responsabilização dos que, divergindo dela, apelam violentamente para a depreciação e a tentativa espúria de subjugação.
Para o crente não é a mensagem que importa, e sim o emissor.
Desacredito da capacidade intelectual de estudiosos que se preocupam mais em saber sobre a identidade social de quem fala ou escreve do que com o quê esse alguém fala ou escreve.
Livros para Libertação #16: GUIA PRÁTICO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
Neste momento de intensas discussões sobre intolerância e liberdade de expressão, creio que esta leitura pode lhe ser pertinente: GUIA PRÁTICO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS em famílias e organizações.
Publicado pela Summus Editorial de São Paulo, em 2008, este livreto de Malvina Ester Muszkat orienta para o reconhecimento dos tipos de conflito, suas características, e sugere estratégias de como manejar situações de conflito.
É um guia útil para contextos interpessoais e intergrupais, focado na comunicação como elemento necessário para a reflexão.
sábado, 10 de janeiro de 2015
Livros para Libertação #15: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL
Hoje apresento um livro de grande poder para o estudo e a intervenção em organizações, não só as de trabalho, que congrega conhecimentos de diversas áreas científicas: COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL.
De Angelo Kinicki e Robert Kreitner, a publicação faz uma eficiente e qualificada apresentação de saberes acumulados sobre variados tópicos ligados a indivíduos, grupos e organizações, sem perder a capacidade de aplicação local com visão global, e sempre pautado por um reconhecimento da dimensão ético-política. Considero um valiosíssimo livro-texto.
A minha edição é de 2006, publicada pela McGraw-Hill, de São Paulo.
De Angelo Kinicki e Robert Kreitner, a publicação faz uma eficiente e qualificada apresentação de saberes acumulados sobre variados tópicos ligados a indivíduos, grupos e organizações, sem perder a capacidade de aplicação local com visão global, e sempre pautado por um reconhecimento da dimensão ético-política. Considero um valiosíssimo livro-texto.
A minha edição é de 2006, publicada pela McGraw-Hill, de São Paulo.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
O CASO MIRIAN FRANÇA
Gaia Molinari. Fonte da imagem aqui.
O CASO MIRIAN FRANÇA
Jaqueline Gomes de Jesus*
Seria conveniente que você não conhecesse Mirian França de Mello antes de saber o que aconteceu com ela (as circunstâncias em que ela se encontra e as quais me dignaram a escrever este texto), para que não forme um juízo preconceituoso, perca o interesse em minha crítica ou a considere exagerada, senão imprópria.
No Natal de 2014, o corpo de Gaia Molinari, 29 anos, turista italiana, formada em Ciências da Computação, foi encontrado na localidade de Serrote, em Jijoca de Jericoacoara, no Ceará. Apresentava lesões na cabeça, arranhões pelo corpo e sinais de estrangulamento. Morreu por asfixia, na véspera.
Mirian França, 31 anos, farmacêutica cursando doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conheceu Gaia porque buscou, pela internet, companhia para a viagem de fim de ano, de modo que se conheceram no dia 17 de dezembro e estavam hospedadas no mesmo albergue em Fortaleza.
Você pode imaginar, sem maiores detalhamentos, que Mirian França seja uma morena pálida e magra, oriunda de família de classe média, trabalhando com jaleco em um laboratório. Bem, essa figura não descreve fielmente a pessoa.
Gaia e Mirian foram juntas a Jericoacara no dia 21, Mirian voltou à capital cearense antes. Na condição de testemunha, prestou depoimento na Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur). Após acareações, foi presa temporariamente por, segundo a delegada responsável, sem descrever as condições, contradizer-se no testemunho.
Com exceção do vil assassinato de Gaia, a notícia não mobilizou os leitores com relação à inquirida. Prevaleceu a confiança cega nos procedimentos investigativos. Um turista uruguaio e sua noiva, que trocaram mensagens com Gaia, também foram presos, mas logo liberados.
Entretanto, diferentes pessoas, incluindo a mãe de Mirian, começam a questionar a legalidade da prisão. Por que ela foi presa sem flagrante? Desde quando contradizer-se ou se confundir num testemunho justifica prisão? Por que ela não pôde se comunicar com os familiares? Como ela, mediando 1,60 metros, poderia ter asfixiado Gaia? Como o encarceramento temporário é adequado se Mirian tem residência fixa? A partir desse momento, surge a denúncia de que Mirian França foi presa injustamente, e assim se encontra até o momento da escrita deste artigo.
Estou certa que parcela considerável de quem leu esta caracterização dos personagens e suas situações, deve-se indagar: porque uma moça com esse perfil cometeria um crime tão hediondo? Temos lá nossos preconceitos de classe, os quais, simploriamente, associam violência a pobreza ou baixa escolaridade.
Você teria outra opinião se eu tivesse iniciado afirmando que Mirian França é negra?
Mirian França. Fonte: facebook.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o jovem Rafael Braga Vieira, morador de rua, encontra-se preso desde 20 de junho, por participação nos protestos de 2013, acusado de porte de material explosivo. Ele carregava uma garrafa contendo água sanitária e outra com álcool. Além dos acusados pela morte do morte do cinegrafista Santiago Andrade, ele é o único detido por estar presente nas manifestações. Sim, estou citando-o aqui, peremptoriamente, porque ele também é negro.
Esses dois casos revelam como falhas procedimentais podem fazer interseção com dimensões identitárias, evocando o espírito do preconceito, em pauta, o racismo institucional, envolto no discurso oficial de que a discriminação racial não existe mais, e que, portanto, acusações que apontam a sua ocorrência seriam equivocadas.
Ainda pode haver outro aspecto pesando na investigação, que não foi apercebido da maioria: a lesbofobia. Conhecemos exemplos de que não é necessário ser homossexual para, numa sociedade homofóbica, ser alvo de todo tipo de violações. Basta ser reconhecido(a) como tal, mesmo que não se vivencie essa orientação sexual.
Segundo fala à imprensa do uruguaio já liberado, a polícia suspeita que Mirian e Gaia tivessem um relacionamento afetivo. Leiam este depoimento da delegada responsável, Patrícia Bezerra, que encontrei no jornal Tribuna do Ceará: “Foi feito exame para comprovar ou não a existência de sêmen coletado no corpo da vítima. Esse exame deu negativo, então, em princípio, não houve violência sexual por parte de um homem”. A tese, vis a vis, é a de um crime passional.
Implicitamente, reforça-se a ideia da participação de uma mulher no homicídio, a partir da suposição de que um homem não estuprou Gaia, mas pode ter auxiliado na realização do ilícito.
Enfim, como podemos considerar que está ocorrendo uma investigação justa nas condições em que Mirian foi presa? Quem tem um mínimo de conhecimento – e sensibilidade – acerca da lógica dos aprisionamentos no Brasil, que afetam preponderantemente a população negra, obviamente desconfia do processo em curso.
É bastante apontado, pelos movimentos negros, o uso excessivo dos poderes de polícia no que tange à revista de homens negros (popularmente conhecida como “baculejo” ou “dar uma dura”), principalmente os jovens, mas, igualmente, as políticas de detenção e de custódia são envoltas em constantes dúvidas quanto a sua eficácia e adequação, quando aplicadas à população negra.
No entanto, a questão vai além: onde estão os argumentos para a prisão dessa jovem que não são divulgados, apenas sugeridos? Corre pelas redes virtuais esta mensagem, a qual endosso: Libertem Mirian França! E que seja feita justiça a Gaia Molinari.
*Jaqueline Gomes de Jesus é psicóloga, com doutorado em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília e pós-doutorado pela Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.
Bolsas de Estudo para Travestis em São Paulo
Eis uma iniciativa simples mas que transformará muitas vidas, e será centelha de uma mudança social.
Parabéns! Viva São Paulo!
Matéria de O Globo
POR MARIANA SANCHES
Prefeitura de São Paulo pagará salário mínimo para travestis estudarem
Inicialmente, cem delas vão receber bolsa para voltar às aulas e se matricular em cursos do Pronatec
SÃO PAULO - A prefeitura de São Paulo anunciará no fim do mês a criação de uma bolsa de um salário mínimo mensal (R$ 788) para que, inicialmente, cem travestis e transsexuais da capital voltem a estudar e se matriculem em cursos técnicos do Pronatec. Para receber o salário do município, as beneficiárias terão que comprovar presença nas aulas. A exigência é semelhante à do principal programa de transferência de renda do governo federal, o Bolsa Família. A iniciativa é inédita no Brasil e na América do Sul e custará cerca de R$ 2 milhões aos cofres públicos em 2015. O valor é três vezes maior do que o orçamento do próprio governo federal para ações voltadas ao público LGBT no ano passado.
- O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo. Mata quatro vezes mais do que o México, o segundo mais violento. Essas pessoas nunca foram tratadas como cidadãs, sempre foram empurradas para as ruas pelas famílias, pela escola e pela sociedade. Queremos tratá-las como gente, com a opção de se prostituir ou não - afirma Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos do município, responsável pela coordenação do programa.
A ideia é prioritária para o prefeito Fernando Haddad, que pessoalmente pediu a elaboração do programa. A mãe de Haddad vive em uma zona de prostituição de travestis. O confronto cotidiano com a realidade teria gerado a urgência no prefeito.
EXPANSÃO ATÉ O SEGUNDO SEMESTRE
Segundo Sottili, o programa começa com poucas vagas, mas poderá ser ampliado já no segundo semestre. A ideia é que as travestis permaneçam no programa por dois anos e saiam de lá formalmente empregadas. Não existem estatísticas oficias sobre o número de transsexuais e travestis vivendo em São Paulo, mas a secretaria estima que sejam ao menos quatro mil.
- Elas são alvo preferencial do tráfico de pessoas, do tráfico de drogas. Entre as beneficiárias, nenhuma tem renda fixa, todas vivem em moradia precária, não terminaram a escola e começaram a se prostituir ainda na infância. Delas, 31% admitiram ter silicone industrial injetado no corpo, e 60% afirmaram já ter sofrido alguma agressão física por sua identidade de gênero - explica Alessandro Melchior, coordenador de políticas LGBT da prefeitura e autor do programa.
A paulistana Aline Rocha, de 36 anos, é a face que ilustra os dados elencados por Melchior. Os traços femininos dos olhos e do nariz desenhados a bisturi são emoldurados por um espesso cabelo negro implantado cirurgicamente. Para custear as operações, Aline se prostitui há quase 20 anos. Parou de estudar na 4ª série — seu jeito afeminado a tornava alvo de espancamentos dos colegas. Ela tentou outros trabalhos, chegou a ser atendente de uma locadora de vídeo, mas diz que perdeu o emprego ao resistir aos assédios sexuais do patrão. A prostituição, segundo Aline, era sua única fonte possível de renda. Sem dinheiro para reconstruir o corpo todo com plásticas, apelou para a caseira solução de colocar silicone industrial nos glúteos. Como muitas travestis brasileiras, chegou a ir morar na Itália, onde fez centenas de programas. Acabou presa pela polícia italiana.
- Sair da rua é tudo o que eu mais quero na vida. Não tem nada pior do que ser tratada como um pedaço de carne, cada dia um estranho diferente passando a mão no seu corpo - conta, entre lágrimas.
Além de si mesma, Aline sustenta a mãe. Afirma que estava a ponto de “acabar com a própria vida” quando foi selecionada pelo programa:
- Minha esperança é que isso me devolva o respeito, a dignidade. Quero poder entregar currículos e ser selecionada para trabalhar como todo mundo.
Além de garantir educação (em salas mistas de duas escolas municipais no centro da cidade), o programa obriga as beneficiárias a prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em troca, além do dinheiro, a prefeitura irá fornecer hormônios femininos para as travestis em unidades básicas de saúde. Hoje há uma fila de quase duas mil pessoas à espera de tratamentos hormonais desse tipo na rede pública. Por falta de opção, muitas recorrem ao arriscado mercado negro.
Além disso, o município irá inaugurar o primeiro albergue público exclusivo para travestis. É para lá que deverá se mudar Jennifer Araújo, de 31 anos. Jennifer está sem casa nos últimos dois meses, desde que resolveu deixar de se prostituir e se inscreveu no programa municipal. Ela é reticente sobre sua condição anterior e desconversa quando perguntada sobre cafetinas e pontos de prostituição. Mas, com frequência, travestis são aliciadas sexualmente e pagam com o corpo pela moradia. Quando desistem da prostituição, ficam também sem teto.
- Tudo o que eu quero é trabalhar atrás de um computador ou ser assistente social. Acho um luxo - diz Jennifer, que começou a se prostituir aos 16 anos, depois que ficou órfã.
PREOCUPAÇÃO COM A VELHICE
Ela diz que sua motivação para procurar a prefeitura foi pensar no futuro, especificamente na velhice. E lembra que a prostituição a atraiu porque o dinheiro que recebia era maior do que nos empregos que conseguiria com sua baixa escolaridade.
O programa não obriga as travestis a deixar a prostituição. Mas, ao remunerá-las para estudar, cria uma inédita oportunidade para isso. Jennifer ostenta no rosto as marcas de uma paulada desferida por um cliente que quebrou seu maxilar. Ela sabe que nada vai apagar as cicatrizes de seu passado, mas abre um sorriso diante da possibilidade de recomeçar.
Parabéns! Viva São Paulo!
Novo horizonte. Aline Rocha, selecionada pelo programa da prefeitura de SP, diz que pretende deixar as ruas: ‘é tudo o que eu mais quero’ - Fernando Donasci / Fernando Donasci
POR MARIANA SANCHES
Prefeitura de São Paulo pagará salário mínimo para travestis estudarem
Inicialmente, cem delas vão receber bolsa para voltar às aulas e se matricular em cursos do Pronatec
SÃO PAULO - A prefeitura de São Paulo anunciará no fim do mês a criação de uma bolsa de um salário mínimo mensal (R$ 788) para que, inicialmente, cem travestis e transsexuais da capital voltem a estudar e se matriculem em cursos técnicos do Pronatec. Para receber o salário do município, as beneficiárias terão que comprovar presença nas aulas. A exigência é semelhante à do principal programa de transferência de renda do governo federal, o Bolsa Família. A iniciativa é inédita no Brasil e na América do Sul e custará cerca de R$ 2 milhões aos cofres públicos em 2015. O valor é três vezes maior do que o orçamento do próprio governo federal para ações voltadas ao público LGBT no ano passado.
- O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo. Mata quatro vezes mais do que o México, o segundo mais violento. Essas pessoas nunca foram tratadas como cidadãs, sempre foram empurradas para as ruas pelas famílias, pela escola e pela sociedade. Queremos tratá-las como gente, com a opção de se prostituir ou não - afirma Rogério Sottili, secretário de Direitos Humanos do município, responsável pela coordenação do programa.
A ideia é prioritária para o prefeito Fernando Haddad, que pessoalmente pediu a elaboração do programa. A mãe de Haddad vive em uma zona de prostituição de travestis. O confronto cotidiano com a realidade teria gerado a urgência no prefeito.
EXPANSÃO ATÉ O SEGUNDO SEMESTRE
Segundo Sottili, o programa começa com poucas vagas, mas poderá ser ampliado já no segundo semestre. A ideia é que as travestis permaneçam no programa por dois anos e saiam de lá formalmente empregadas. Não existem estatísticas oficias sobre o número de transsexuais e travestis vivendo em São Paulo, mas a secretaria estima que sejam ao menos quatro mil.
- Elas são alvo preferencial do tráfico de pessoas, do tráfico de drogas. Entre as beneficiárias, nenhuma tem renda fixa, todas vivem em moradia precária, não terminaram a escola e começaram a se prostituir ainda na infância. Delas, 31% admitiram ter silicone industrial injetado no corpo, e 60% afirmaram já ter sofrido alguma agressão física por sua identidade de gênero - explica Alessandro Melchior, coordenador de políticas LGBT da prefeitura e autor do programa.
A paulistana Aline Rocha, de 36 anos, é a face que ilustra os dados elencados por Melchior. Os traços femininos dos olhos e do nariz desenhados a bisturi são emoldurados por um espesso cabelo negro implantado cirurgicamente. Para custear as operações, Aline se prostitui há quase 20 anos. Parou de estudar na 4ª série — seu jeito afeminado a tornava alvo de espancamentos dos colegas. Ela tentou outros trabalhos, chegou a ser atendente de uma locadora de vídeo, mas diz que perdeu o emprego ao resistir aos assédios sexuais do patrão. A prostituição, segundo Aline, era sua única fonte possível de renda. Sem dinheiro para reconstruir o corpo todo com plásticas, apelou para a caseira solução de colocar silicone industrial nos glúteos. Como muitas travestis brasileiras, chegou a ir morar na Itália, onde fez centenas de programas. Acabou presa pela polícia italiana.
- Sair da rua é tudo o que eu mais quero na vida. Não tem nada pior do que ser tratada como um pedaço de carne, cada dia um estranho diferente passando a mão no seu corpo - conta, entre lágrimas.
Além de si mesma, Aline sustenta a mãe. Afirma que estava a ponto de “acabar com a própria vida” quando foi selecionada pelo programa:
- Minha esperança é que isso me devolva o respeito, a dignidade. Quero poder entregar currículos e ser selecionada para trabalhar como todo mundo.
Além de garantir educação (em salas mistas de duas escolas municipais no centro da cidade), o programa obriga as beneficiárias a prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em troca, além do dinheiro, a prefeitura irá fornecer hormônios femininos para as travestis em unidades básicas de saúde. Hoje há uma fila de quase duas mil pessoas à espera de tratamentos hormonais desse tipo na rede pública. Por falta de opção, muitas recorrem ao arriscado mercado negro.
Além disso, o município irá inaugurar o primeiro albergue público exclusivo para travestis. É para lá que deverá se mudar Jennifer Araújo, de 31 anos. Jennifer está sem casa nos últimos dois meses, desde que resolveu deixar de se prostituir e se inscreveu no programa municipal. Ela é reticente sobre sua condição anterior e desconversa quando perguntada sobre cafetinas e pontos de prostituição. Mas, com frequência, travestis são aliciadas sexualmente e pagam com o corpo pela moradia. Quando desistem da prostituição, ficam também sem teto.
- Tudo o que eu quero é trabalhar atrás de um computador ou ser assistente social. Acho um luxo - diz Jennifer, que começou a se prostituir aos 16 anos, depois que ficou órfã.
PREOCUPAÇÃO COM A VELHICE
Ela diz que sua motivação para procurar a prefeitura foi pensar no futuro, especificamente na velhice. E lembra que a prostituição a atraiu porque o dinheiro que recebia era maior do que nos empregos que conseguiria com sua baixa escolaridade.
O programa não obriga as travestis a deixar a prostituição. Mas, ao remunerá-las para estudar, cria uma inédita oportunidade para isso. Jennifer ostenta no rosto as marcas de uma paulada desferida por um cliente que quebrou seu maxilar. Ela sabe que nada vai apagar as cicatrizes de seu passado, mas abre um sorriso diante da possibilidade de recomeçar.
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