segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Prezado Ministro da Educação, Cid Ferreira Gomes,



Serei honesta com o senhor, porque sou mesmo e sei que essa é uma característica que também prezas e adotas: decepcionei-me com sua indicação ao cargo, a princípio, devido a declarações que fizeste acerca do caráter vocacional da docência (e do serviço público).

Espero, sinceramente, que suas iniciativas futuras no Ministério mudem positivamente essa percepção. Apesar de nossas diferenças identitárias, ideológicas e políticas, concordamos que ações falam mais que palavras.

Então, deixo de blá blá blá e vou direto ao ponto: eu apoio Luma Nogueira de Andrade como Reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

Decerto o senhor está a par dessa discussão, que felizmente saiu das fronteiras do Ceará - tendo em vista o propósito internacionalista da Unilab - e aporta aqui e ali Brasil afora, nas redes sociais, jornais e revistas.

Até aqui, nada de mais a respeito. Cada qual com sua opinião. Porém preciso prendê-lo só mais um pouco, com alguns argumentos que vão além de repetidas questões de ordem pessoal e grupal (na condição de Reitora, a professora Luma seria a primeira travesti, seguindo à primeira negra, a professora Nilma Lino Gomes, ora sua colega de Esplanada).

Listagens classificatórias geralmente são incorretas e ignoram precursores anônimos, podendo se tornar justificativas superficiais para que não se avance em mudanças estruturais. Mas entendo que Luma, como dirigente superior da Unilab, contribuirá não apenas com sua capacidade gerencial e habilidade política para agregar a comunidade universitária, mas também poderá trabalhar os liames que se pretende fortalecer com os países africanos.

O fato de ela ser branca não prejudicará a interlocução luso-africana da instituição, que se apresentará, por meio de sua figura, como catalisadora de debates interraciais e transversais contemporâneos. Integração se faz, em parte considerável, com empoderamento.

Para além de lhe falar como pensadora e cronista, eu o faço como alguém que conhece pessoalmente aquela a quem retrato.

Ela me foi apresentada, há dois anos, pela professora Berenice Bento, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, quando eu procurava uma parceira para comigo coordenar um simpósio durante o Seminário Internacional Fazendo Gênero, que então ocorreria em Florianópolis.

Nós nos encontramos pessoalmente, após contatos virtuais para formalização da proposta, no Seminário Internacional Desfazendo Gênero, em Natal. Conversamos sobre concursos docentes (não por acaso um dos temas nos quais se espera que o senhor intervenha proativamente). Sou escaldada nesse campo, não necessariamente com experiências positivas. Luma pediu-me conselhos, orientações. Ofereci-lhe as que aprendi na labuta dos certames falhados e, quanto aos vindouros, senti-me incapaz de lhe jogar mais luzes.

Ela partiu em seguida para a seleção de professores em Educação da Unilab, e foi aprovada.

Reencontra-mo-nos, nesse mesmo ano, na Universidade Federal de Santa Catarina. Felicitei-lhe calorosamente pela vitória, ao que Luma respondeu:

- Amiga, você sabe que eu só afirmo o que está escrito e assinado.

Faltava a chancela da Reitora Nilma e a publicação do Ato no Diário Oficial para que a posse fosse oficializada, como foi.

Assim é a Luma Andrade que eu conheço: uma mulher que se afirma travesti para demarcar sua luta; uma educadora ansiosa por fazer seu trabalho de professora render mais do que mero status; uma profissional da maior sensatez.

Dito isso tudo, concluo reconhecendo que o movimento Luma Lá surgiu com um belo espírito, do de que agora é a hora oportuna para alguém que atua na Unilab concentrar as forças de seu avanço, e alguém capacitado, como pessoa e profissional.

O nome está posto para o seu alvedrio, Ministro.

Respeitosamente,

Jaqueline Gomes de Jesus

6 comentários:

  1. Prezada Professora, chamo-me Antonio Jefferson, aluno do curso de Administração Pública da referida universidade; baseado no direito que tenho de publicizar parecer como discente, posiciono-me contra a Profa Luma como Reitora. Sabendo que tanto ela como os professores sugeridos pelos demais movimentos estudantis, como Prof° Fernando Afonso e a Profa Marília Domingos, apresentam formação técnica-acadêmica equiparáveis, defendo minha posição fundamentado na não aceitação por parte da maior parcela da comunidade unilabiana (docentes, discentes, técnicos e a sociedade civil) que, como eu, defende eleições abertas, um certame democrático no qual, efetivamente, a vontade da maioria será atendida. Peço, gentilmente, sua maior reflexão quanto a essa sugestão, pois isso pode gerar maior instabilidade interna, com movimentos estudantis contrários a possível reitora Luma, tornando a sua atuação impossível administrativamente.
    Grato

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    1. Jfferson Ferreira, assim como a professora Jaqueline Gomes de Jesus, eu pertenço à comunidade externa da Unilab, e estou apoiando o movimento Luma Lá. Perceba, no texto da professora Jaqueline, que o apoio dela é pessoal, e ao movimento Luma Lá. Não há que se pretender que um processo como este ocorra sem embates, sem discordâncias e com unanimidade. A Dra. Jaqueline é uma renomada intelectual brasileira, com certeza ela refletiu antes de escrever seu apoio. Não é adequado que você, apoiando outros candidatos, vá dizer a ela o que deve ou não escrever em seu Blog, como deve ou não se posicionar a fim de não gerar conflitos, Jaqueline é uma ativista negra, LGBT, feminista, que votou em Aécio e que haje com a convicção de sua consciência, conhecendo a Dra. Luma, é natural que mesmo quem não é unânime receba apoios de outras pessoas. Em Dezembro também iniciou-se um movimento a favor do nome do Dr. Fernando Afonso, um movimento que também não era unânime, esperar pela unanimidade é optar por ficar na inatividade. Infelizmente este processo não é de eleição, Luma, como nós sabemos, defende que a Unilab possua, o quanto antes, eleições diretas, entretanto, neste momento, para o cargo de Pro Tempore, a decisão cabe a Cid Gomes. Sua fala, também não representa todos os alunos da Unilab, porque não há unanimidade em relação a nenhum nome, e é bom que não haja, afinal, a democracia se constrói em arenas de disputa, ou como diria Arendt, em espaços de enunciação entre os sujeitos. Não compreendo porque pede a Dra. Jaqueline que reconsidere o apoio pessoal que ela concedeu a professora Luma, pessoa que ela conhece, e em quem confia. Isso sim não me parece democrático.

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    2. Caro Fernando Vieira, não externo no texto acima apoio a nenhum movimento estudantil; os cito apenas para mostrar a irrelevância de se analisar o aspecto técnico-acadêmico dos docentes sugeridos pelos estudantes. Alerto para a publicação da renomada professora, pois, a publicação de seu apoio ao movimento, até então apenas discente, Luma Lá, promove, ao meu ver, um possível viés no qual demonstre a vontade da maioria discente, o que é inverídico. Cautela ao fazer qualquer publicação é uma reflexão que deve ser recorrente para todas as pessoas, independentemente do seu nível de formação.

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  2. Prezado Jefferson,

    Compreendo perfeitamente o seu posicionamento e suas preocupações. Muito obrigada pela confiança de expô-los aqui.

    Como não conheço os demais colegas docentes sugeridos pela comunidade unilabiana, não posso me pronunciar a respeito. Minha opinião neste artigo é apenas como pessoa que conhece a professora Luma e apresenta elementos a seu favor.

    Certamente a decisão do Ministro se fará de maneira autônoma, e consciente das necessidades da Unilab como universidade em formação, considerando os interesses daqueles que a fazem ser melhor a cada dia.

    Desejo boas discussões e trabalhos bem sucedidos a todos vocês, independentemente de quem seja o(a) próximo(a) reitor(a) da instituição. O futuro da Unilab depende de todos.

    Abraços Fraternos,
    Jaqueline.

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