segunda-feira, 27 de abril de 2015

A GIRAFA E O ELEFANTE

Elefanta Mary e girafa William. Fonte aqui.


Tradução e adaptação de Jaqueline Gomes de Jesus, para uso em sala de aula, sem fins lucrativos.

A GIRAFA E O ELEFANTE
Uma fábula sobre a diversidade
De R. Roosevelt Thomas*

Numa pequena comunidade, um senhor girafa construiu uma casa à medida da sua família. Para as girafas, a casa era maravilhosa, com o teto muito alto e as portas bem altas. As janelas, no topo das paredes, deixavam entrar uma luz excelente e tinham uma linda vista, sem comprometer a privacidade da família. Corredores estreitos permitiam economizar espaço sem serem incômodos. A casa ficou tão bem construída que lhe foi atribuído o “Prêmio Nacional ‘Casa do Ano’ para Girafas”. Os donos ficaram muito orgulhosos.

Um dia, estava o senhor girafa a trabalhar na sua oficina de carpintaria, montada com as melhores ferramentas e equipamentos, quando, ao olhar pela janela, viu que um elefante vinha descendo a sua rua: “Esse eu conheço...”, recordou o senhor girafa, “...Estivemos juntos numa comissão de pais e alunos... Vou chamá-lo para ele ver a minha oficina nova. Talvez possamos até pensar nalguns projetos em comum”. O girafa meteu a cabeça e o pescoço pela janela e convidou o elefante para entrar.

O elefante ficou encantado, também se lembrava de ter estado com o senhor girafa na comissão de pais e gostaria de conhecê-lo melhor. Além disso, já sabia que o senhor girafa tinha uma oficina nova e tinha curiosidade em vê-la. Avançou até à entrada da casa e esperou que lhe abrissem a porta.

“Entra, entra!”, disse o senhor girafa. Mas aí houve logo um problema. Embora o elefante conseguisse meter a cabeça pela porta, não conseguia entrar.

“Ainda bem que fizemos esta porta de maneira a abrir mais, para deixar entrar as máquinas e os materiais para a oficina”, disse o girafa, “Espera um minuto, que eu já resolvo o problema”. O senhor girafa desenroscou uns parafusos, tirou uma série de tábuas e o elefante, a custo, conseguiu passar pela porta.

Estavam os dois muito entretidos, a conversar sobre coisas de carpintaria, quando a senhora girafa meteu a cabeça pelas escadas que davam para o porão e chamou o marido: “Querido, vem ao telefone, que é o teu patrão”.

“É melhor eu atender. Fica à vontade, que eu posso demorar”, disse o girafa ao elefante.

O elefante olhou à sua volta. Notou um objeto de madeira, inacabado, em cima de uma bancada em um canto da oficina e quis ver melhor do que se tratava. Mas, ao passar o corpo pela porta da oficina, ouviu um barulho esquisito. Recuou, coçando a cabeça.

“Talvez seja melhor eu ir ver o senhor girafa lá em cima”, pensou. Mas, mal tinha começado a subir a escada, sentiu os degraus começando a ceder. Deu um passo para trás e bateu contra a parede, que começou a desabar. Tentou se sentar, muito confuso, quando o senhor girafa desceu as escadas.

“Mas o que se passa aqui?!”, perguntou o girafa, atônito.

“Eu só estava tentando ficar à vontade”, respondeu o elefante.

O senhor girafa olhou em volta e disse: “Bem, bem, já vi o problema. Como a porta é pequena demais para você, temos de te encolher. Aqui perto tem uma academia. Se você fizer exercício, talvez consiga diminuir de tamanho”.

“Talvez...”, respondeu o elefante, sem parecer lá muito convencido.

“Além disso, as escadas também não aguentam o seu peso”, observou o senhor girafa. “Se você frequentar umas aulas de balé à noite, tenho a certeza de que ficará mais leve. Espero que você realmente faça isso, porque gosto de te ter aqui comigo”.

“Talvez”, replicou o elefante, “Mas, para te dizer a verdade, não penso que uma casa concebida para girafas alguma vez sirva para elefantes, a não ser que se mude muita coisa”.


Moral da história:
Valorizar a diversidade é construir uma casa para girafas e para elefantes.

Questões que aqui se colocam:
Como poderemos, juntos, construir uma casa em que a diversidade seja valorizada e possa ser aproveitada de forma positiva? Em que caibam tanto girafas quanto elefantes?


R. Roosevelt Thomas. (1999). Building a house for diversity. New York: American Management Association, pp. 3-5.

sábado, 25 de abril de 2015

I LOVE A VIDA


I LOVE A VIDA!

E deixo os avessos cuidarem de você, pessoa nefasta, que fica dando palestra e consultoria sobre direitos humanos no Brasil e no exterior, mas me oprimiu por algo que não era de minha alçada.

Você vai sendo desmascarada. Eu sigo meu voo sem olhar pra ti, que já passou: "O resto é silêncio".

quarta-feira, 22 de abril de 2015

SÓ POR HOJE VOU DEIXAR O MEU CABELO EM PAZ


Poemas de Cristiane Sobral, publicado em Brasília, em 2014, com recomendação de Nicolas Behr e prefácio de Rosália Diogo.

Contate a autora pelo seu blog http://cristianesobral.blogspot.com.br, pelo e-mail crisobral2@gmail.com ou pelo https://www.facebook.com/CristianeSobralArtista

Repensando a Extensão Universitária: Travestilidade e Transexualidade


Programa Pólos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG:

Nesta sexta-feira, 24 de abril, contamos com a presença da doutora Jaqueline Gomes de Jesus, diretamente da UnB, na Mesa Repensando a Extensão Universitária: Travestilidade e Transexualidade

Como chegar lá: 

- Para chegar a Escola de Arquitetura da UFMG a pé, saindo da Faculdade de Direito, suba a Av. Afonso Pena e vire a direita na rua Paraíba. A entrada fica na rua Gonçalves Dias.

- De ônibus, pegue o 4108 ou 104 na Av. Afonso Pena nº 1534, desça no nº 2372, logo após a praça Tiradentes. Vire a direita na Gonçalves Dias, a entrada fica quase na esquina com a rua Paraíba.

- Saindo do Campus UFMG Pampulha, pegue o 5106 na estação Move UFMG e desça na Praça da Liberdade. Depois desça a rua Gonçalves Dias.

Maiores informações em https://www.facebook.com/events/827970280602410

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Somos Todas Verônica

Uma imagem fala mais que mil palavras: #SomosTodasVerônica!


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Livros para Libertação #73: ESPAÇO URBANO E AFRODESCENDÊNCIA

Por oportunidade de minha ida a Fortaleza, a fim de palestrar sobre insurgência no Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará - UFC e sobre feminismos no evento Curta O Gênero, indico o livro ESPAÇO URBANO E AFRODESCENDÊNCIA: Estudos de Espacialidade Negra Urbana para o Debate das Políticas Públicas.


Organizado por Henrique Cunha Jr. e Maria Estela Rocha Ramos, o livro foi publicado pela UFC Edições, de Fortaleza, em 2007.

Com vários autores, a obra aborda os diversos fatores que determinam a vida da população negra nas cidades brasileiras, tratando das segregações e desigualdades influenciadas historicamente e perpetuadas pelas políticas públicas, que não observam a necessidade de superar as desigualdades estruturais e conjunturais de cunho racista.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Palestra na Universidade Federal do Ceará: Insurgência


CONVITE:

O PARALAXE: Grupo Interdisciplinar de Estudos, Pesquisas e Intervenções em Psicologia Social Crítica, com o apoio do Laboratório de Psicologia em Subjetividade e Sociedade – LAPSUS e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFC, convida para a Palestra: Insurgência e Política Identitária sob uma Ótica Psicossocial, com a presença da professora Doutora Jaqueline Gomes de Jesus, que será realizada no dia 16/04/2015, às 09h30, na Sala de Estudos do Depto. de Psicologia da UFC.

Jaqueline Gomes de Jesus é Psicóloga, Doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações pela Universidade de Brasília - UnB. Pós-doutora pela Escola Superior de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. 

Teoria das Representações Sociais - 50 anos

A Technopolitik Editora está disponibilizando em seu site, GRATUITAMENTE, a 2ª edição do livro Teoria das Representações Sociais: 50 anos, organizado pelas professoras Ângela Almeida, Fátima Santos e Zeidi Trindade!

Serge Moscovici, criador da Teoria das Representações Sociais.

Acesse http://www.technopolitik.com.br/downloads e carregue o arquivo do livro, em formato pdf ou para dispositivos Apple.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Buraco no Coração dos Homens

Hoje à noite fiquei triste ao presenciar duas cenas na televisão:

Na primeira, durante o Jornal Nacional, matéria sobre jovens graduandos em Engenharia da PUC-Rio que ganharam prêmio com a construção de um robô que destrói outros. Compreendo a importância da formação, mas amarga ver, mais uma vez, que as pessoas apelam para a destruição a fim de se divertirem e se instruírem.

Na segunda cena, há pouco na Novela Babilônia, a personagem Inês, interpretada pela excelente Adriana Esteves, é humilhada pelo marido de sua odiada ídola, amiga/inimiga Beatriz (Glória Pires), o hedonista auto-centrado Evandro (Cássio Gabus Mendes). Mesmo sendo uma ficção, eu me solidarizo com o sofrimento da personagem, e me desgosta a violação moral, por mais que a intenção inicial dela tenha sido das menos altruístas.

Nos dois casos me decepciona ver o humano, novamente, adorando a aniquilação e rindo da subalternização do outro, seja ele humano ou não.

O buraco no coração dos homens ainda pode devorá-los.

domingo, 12 de abril de 2015

Hillary Clinton Announces, "I’m Running for President"!

Hillary Rodham Clinton at an event in Washington in March. Credit Jabin Botsford/The New York Times.


Deu no New York Times, Hillary Clinton anuncia sua candidatura à Presidência da República dos Estados Unidos da América!

Leia mais aqui (em inglês).

sábado, 11 de abril de 2015

Carole Pateman na UnB


VOU-ME EMBORA PRA PASSÁRGADA

Jaqueline Gomes de Jesus

Vou-me embora pra Passárgada,
Lá faço amigos e amor,
Sou de um homem se eu desejo,
Na cama ou não, onde for.

Vou-me embora pra Passárgada,
Palavras despertarão
Com buzinas e fumaça
Para falar dos heróis
Que um dia nascem protestando,
Noutro são executados.
De crianças brincando, rindo,
Em seguida metralhadas.
Numas linhas redivivos,
Serão vistos na internete,
Curtidos, compartilhados,
Lembrados e, talvez, lidos.

Vou-me embora pra Passárgada,
Mil quilômetros daqui,
Com você e outras centenas,
Amando-te e a mais alguns.
Sou sua e jamais serei
Sua sem ser de mim mesma
Tanto quanto aos meus demais
Sentimentos e esperanças.
Chegarei durante o outono,
Levando livros e calor.
Tudo desabrochará,
Sem ter medo do fracasso,
Sem venerar o sucesso,
Ficando perto de mim:
Passárgada sem califa
E sem Pérsia, na beirada
Do abismo de onde verei
Minha antiga batucada.
Portanto vos digo adeus,
Brasília, eu vou embora
Chorando com coração
Sorrindo por vos deixar
Com minha semeadura,
Com os meus risos e lágrimas,
Com o que podia dar.
Há um mundo além de Brasília;
Passarinhos, borboletas,
Granito, concreto, areia,
E como aqui rios e mares
Verdes-chamas, azuis-brancos.
É melhor pois a escolhi,
Olhos vestidos de lua,
Negra qual noite estrelada,
Dedos sonhando papéis.
Eu quero a felicidade:
Vou-me embora pra Passárgada.

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Windeck

Cabo Snoop, kudurista angolano (fonte: http://notjustok.com/artists/cabo-snoop)

WINDECK
Cabo Snoop

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

Deejay, deejay, deejay!
Pára a música!
Deixa xipilicar
Windeck é então M’boa!
Que quando tá no lume
Só quer...

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

Windeck é também só aqueles Wi
Que quando veem M’boas
Que quando estão no lume
E se aproveitam sós de ah, pah!

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

Mas, como é, Wi?
Windeck, então quer dizer o quê?
Wilson, não estão a compri...nhão?! (compreender, não?!)
Fica só já!

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

Windeck são aquelas M’boas
Que para partir o braço
Pa lhes comprar em postiço
Uhée
Têm que...

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

Windeck também são aqueles Wi
Que param já nas portas das FAO
Pa dá boleia...
Mas só querem é...

Windeck, ha oba, ba, windeck, ahkh...

7 Meninas Crespas


Editorial de moda infantil Sete meninas crespas, feito para a marca Lulu e Lili, com direção, produção e fotografia do Quilombo dos meninos crespos. ELAS SÃO TUDO!!!


As sete poderosíssimas modelos crespas são: Alice, Ana Carolina, Elis, Helena, Isabella, Júlia e Maria Clara. ARRASO!!!



Veja mais fotos e babe de paixão clicando aqui.


quarta-feira, 8 de abril de 2015

TRANSFEMINISMO no ‎XV Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade 2015



O livro Transfeminismo: Teorias e Práticas, está concorrendo ao XV Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade 2015!

Se você curte nosso livro, tem até 10 de abril para entrar na fanpage e indicá-lo ao prêmio!


Transfeminismo: Teorias e Práticas é o primeiro livro sobre o tema em língua portuguesa, já sendo estudado no Brasil e no exterior!

Para saber mais sobre ele, clique aqui.

domingo, 5 de abril de 2015

QUEM É O TITEREIRO?

Montagem sobre cena do videoclipe "Baby Don't Lie", de Gwen Stefani.


Jaqueline Gomes de Jesus

Quem é o titereiro
Que na tua mente
Julgas controlar?

No teu coração,
Ditador gentil,
Dominas um mundo.

Assinas aquilo
Ditado no ouvido
Qual se houveste criado.

Eu sei muito bem
Do ardor por decretos
Que move teus dedos.

Mas na concepção
És quem, arrogante,
Transcreve a mensagem.

Sabes dos cordéis
Que te fazem rir,
Que fazem chorar?

Com olhos vendados,
Balança na mão,
Recitas uns versos.

Orações repetes
Da boca das ruas,
Do livro das casas.

Eu sei demasiado.
Canetas e teclas
Roí sob meus dedos.

Entretanto te enganas.
Depositas dote
Que falta ao rebento:

Quem é o titereiro
No teu coração?
Assinas aquilo,
Eu sei muito bem,
Mas na concepção
Sabes dos cordéis.
Com olhos vendados
Orações repetes,
Eu sei demasiado,
Entretanto te enganas.

A PAZ PRECISA SER ALIMENTADA

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

sábado, 4 de abril de 2015

sexta-feira, 3 de abril de 2015

POR QUE A PSICOLOGIA?


POR QUE A PSICOLOGIA?
Jaqueline Gomes de Jesus

Nasci nos estertores da década de 70 do século XX, logo, minha infância foi marcada pelos ventos libertários dos anos 80, ao que minha adolescência ocorreu na decepcionante década de 90, a qual delineou profundamente minha formação pessoal e profissional.

A inflação era devastadora, junto ao caos político do governo Collor, porém seria controlada no governo FHC. Politicamente, compartilhava com outros colegas esquerdistas a sensação de fracasso pela derrota de Lula. Ainda éramos ingênuos politicamente, e acreditávamos na impermeabilidade entre os lados direito e esquerdo.

Em 1996 eu já tinha uma relação irreversível com a Psicologia. No primeiro semestre, um professor cujo nome não me lembro, durante aula introdutória, perguntou à turma se permaneceríamos no curso de Química até o final.

O tom lamurioso da indagação chegou a me dar pena, e achei menos agressivo, apesar de mentiroso, responder-lhe que “sim”. Ainda naquele período fiz novamente o vestibular, agora para Psicologia, cujo instituto na Universidade de Brasília ficava em frente ao de Química; passei.

Sempre achei a Química interessantíssima, como um hobby nérdico (com “é” mesmo), digamos assim. A grave escolha do curso no qual eu faria minha primeira graduação ficou dividida entre ela e a Filosofia.

Quem leu o meu Memorial, o qual não é um texto público, e por isso teve até hoje uns dez leitores, no máximo, sabe do papel crucial de minha mãe, Maria Marly da Cunha Gomes, para a minha decisão. Como, muito certamente, você que me lê agora não teve contato com o Memorial, reitero o que já escrevi lá, um trecho curto:

“Eu pouco sabia o que um químico fazia, mas certamente deveria ser algo mais ‘prático’ do que o que um filósofo [fazia], que apesar de me atrair mais, era uma escolha que minha mãe não recomendava, dizia ser mais sensato fazer primeiro um curso que ‘desse dinheiro’, e depois fazer o que eu gostava” (Memorial, de Jaqueline Gomes de Jesus).

Não suportei muito a melhor opção financeira futura, ao mesmo tempo em que comecei a me deslumbrar com o vizinho do outro lado do jardim.

Mas por que a Psicologia?

A princípio, eu preferia um curso em que eu conhecesse melhor o humano do que as pipetas (que continuo adorando), mas eu não me via como profissional da área química. Vivi a popularização da Psicologia (ou da mitologia acerca dessa ciência), entre discursos de verdade amplamente conhecidos, que ao longo da graduação eu aprenderia como falsos, e gurus de auto-ajuda auto-declarados especialistas que falavam, principalmente na televisão, sobre o poder e a fragilidade da Psiquê. De psicólogo(a) e de louco(a) todo mundo tem um pouco.

Nesse caldo de verdades, meias-verdades e falácias imaginei uma Psicologia que respondesse a nossas questões existenciais melhor do que a Filosofia, porque mais próxima do cotidiano e menos suscetível a elucubrações fortemente determinadas pelo senso comum. Apesar de ter esse ponto-de-vista na época, continuei amando a Filosofia, inscrevi-me em diversas disciplinas correlatas ao longo dos anos.

Aprendemos em poucos semestres, senão no primeiro, que a ideia de fórmula mágica da Psicologia para resolver os problemas humanos é uma enorme ilusão, uma ilusão de poder, de controle sobre nossos corpos, e mais ainda sobre os dos outros, que ao longo das décadas se mostrou perniciosa para a formação da Psicologia Científica.

Como explicar o inexplicável? A maioria das pessoas procura respostas imediatas (não necessariamente as mais fáceis), encontradas em abundância nas religiões e demais ideologias. Saber que era necessário buscar respostas melhores que as disponíveis, destrinchar as crenças em voga, autopsiar os cadáveres dos ídolos, atou-me à Psicologia.

Eu vi muitas Psicologias possíveis. Se no começo me satisfazia com o mundão interior, aprendi — durante o que foi para mim uma época de ouro — que existia um universo para além dos indivíduos, ou melhor, através deles/de nós.

Contraditória, por vezes; demasiado compartimentalizada, geralmente. São desafios da contemporaneidade para a nossa moderna ciência-profissão: transdisciplinarizar-se e se multiprofissionalizar, em suas práticas e teorias.

Em vários momentos pensei em deixar a Psicologia, pelas dificuldades postas no caminho, por mais que me esforçasse. Mas esse sentimento logo me desagradava: eu não me via mais como uma pessoa inteira sem a minha educação e socialização psicossociais; sem a minha linguagem e instrumental psicossociais.

Hoje reconheço, escurecidamente, que a Psicologia não era mais algo externo a mim, ela se apossou da minha “inconsciência”, até se tornar um dos elementos componentes da minha consciência.

Hoje não me arrogo a afirmar que saberei, nalgum dia, explicar bem porque escolhi a Psicologia. Ela me ensinou que tendemos a dar explicações simplórias para a inexplicabilidades da vida, e que envidamos esforços cognitivos tremendos para justificar nossas verdades.

Muitas das minhas primeiras expectativas acadêmicas e profissionais para com a Psicologia foram frustradas, mas isso não significou a destruição do meu interesse nela, muito ao contrário, novas perspectivas, mais consolidadas no real, foram plantadas e renderam frutos.

Mais que uma escolha inexorável, a escolha da Psicologia como característica fundamental do que e de quem sou foi-se construindo ao longo dos anos de aprendizado. Mudaram as imagens, e eu me identificava com as novas que me eram apresentadas.

Não me coloco no centro do universo, crendo que isso ocorreu só comigo, particularizando algo que é universal: percebi que, com os novos conhecimentos, a minha relação com a Psicologia chegou a um ponto tal de afeto —anteriormente era curiosidade entusiasmada — que eu não poderia abandoná-la, que ela precisava de mim. Penso que esse seja um tipo de sentimento de missão.

Em suma: cresci para a Psicologia porque meu pensamento amadureceu, deixando de acreditar nela como um totem que me daria respostas; reconhecendo que meu sangue, suor e lágrimas eram necessários para o crescimento dela.

Nem ela me escolheu, nem eu a escolhi, ambos nos escolhemos, para tentarmos ser melhores do que éramos, do que somos. Não sou apenas a psicóloga, mas a pessoa que eu sou tem uns óculos das Psicologias que participam de quem sou. Há muito o que fazer para sermos, mais que respeitadas, valorizadas.

E persistir nessa missão difícil, e provavelmente inalcançável, muito me agrada. Sei que a estrada de cada um(a) sempre acaba, por isso é menos desgastante seguirmos no ritmo de nossos próprios passos, sem pressa, aproveitando ao máximo aquilo que sabemos, mas principalmente melhorando a qualidade do nosso andar.

A Psicologia me acompanha nesta senda.

NÃO BEBA NO DURANGOS



Sobre o que aconteceu no Durangos na madrugada do dia 1 para o dia 2 de abril:1. Não foi homofobia, foi TRANSFOBIA e...
Posted by Heloisa Melino on Sexta, 3 de abril de 2015

quinta-feira, 2 de abril de 2015

QUE FAREI COM ESTE LIVRO?

Alguma editora aí estaria interessada em publicar o meu livro HOMOFOBIA: IDENTIFICAR E PREVENIR, que foi aprovado pelo Conselho Editorial da Editora Brasiliense (a qual infelizmente faliu sem publicá-lo); e que "não foi colocado entre as prioridades editoriais para publicação no momento" pela Cortez Editora?

É só falar comigo.