quinta-feira, 25 de junho de 2015

Psiquiatra para Pobre, Psicólogo para Rico?

Ontem à noite vi uma cena em I Love Paraisópolis (por acaso, porque nunca assisti essa novela), que me chamou a atenção. Uma das atrizes, negra, representando uma empregada doméstica, pelo que entendi (os estereótipos sobre negros reprisados), aconselhava a jovem protagonista sobre como lidar com a nova patroa, que apresentava um comportamento estranho.

A senhora lhe disse, se a memória não me falha, que "pobre, quando fica doido, vai pro psiquiatra; já rico vai ao psicólogo".

O comentário, de teor irônico, afetou-me profundamente. Evidenciou, mais uma vez, a representação social que a Psicologia ainda tem para a população em geral: uma prática elitista, a serviço - apenas - dos poucos com renda. Até mesmo a medicina psiquiátrica parece ser mais próxima das pessoas, apesar de os dados e a constatação da realidade mostrarem o contrário.

Lembrei-me imediatamente de uma história que ouvi de uma amiga, há muito tempo, sobre um questionamento de Ana Bock a Henfil, salvo engano, por este ter desenhado um psicólogo atendendo alguém num divã. Ela explicou que esse era um estereótipo, e que a Psicologia ia muito além dessa prática clínica.

O cartunista lhe respondeu que essa era a imagem da Psicologia para a sociedade, e que os próprios psicólogos são responsáveis por perpetuá-la ou mudá-la.

Uma representação social não muda facilmente, ou melhor, dificilmente muda. Demanda transformações, a longo prazo, nos elementos que a ancoram a uma determinada concepção.

Entendemos que a Psicologia tem uma função social, e há décadas há um movimento ético-político de Compromisso Social da profissão (de certo modo presente em nosso Código de Ética Profissional), protagonizado na figura de Silvia Lane e levado à frente por seus discípulos e admiradores.

Qual Psicologia nós psicólogos queremos e estamos fazendo? Para quem e com quem?

Malfadado dia em que a Psicologia consistir apenas na aplicação de técnicas e instrumentos, sem visão estratégica das condições políticas, sociais e institucionais nos contextos em que se insere.

Entendo, no que me encontro com muitos outros colegas, que nossa ciência-profissão é relevante para todas e todos. Enormes são os desafios para que a sociedade também tenha essa percepção, a qual não se dará por imposição, mas por implicação das psicólogas e dos psicólogos nas demandas dessa sociedade, em todas as esferas.


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