Charge de Maurício Pestana.
Há décadas muitos militantes, como o mestre Abdias do Nascimento, pensadores, como Sueli Carneiro e artistas como o cartunista Pestana têm denunciado o racismo dissimulado/sutil/moderno que vigora no Brasil. Esse assunto já foi citado outras vezes neste blog.
Agora, mais dados se complementam à análise desse problema que, como demonstra o professor Hélio Santos, é grande responsável pelos obstáculos ao pleno desenvolvimento de todo o país, porque envolve a exclusão de mais da metade de nossa população.
O IBGE realizou estudo em mais de 15.000 domicílios, no Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal, sobre a influência da cor na vida dos cidadãos brasileiros.
A pesquisa pode ser lida minuciosamente aqui.
63,7% confirmaram a influência dessa variável na vida das pessoas, em especial no trabalho (71%), na relação com a Justiça e as forças policiais (68,3%), no convívio social (65%), na escola (59,3%) e nas repartições públicas (51,3%).
Sobre a questão da autoclassificação, 96% afirmaram que saberiam se classificar pela cor/racialmente, sendo que 65% classificaram sua cor de acordo com as categorias do IBGE (branca, preta, parda, amarela e indígena).
Vale ressaltar que a diferença entre a autoclassificação e heteroclassificação (feita pelo avaliador) foi mínima. A maior diferença ocorreu entre pessoas "morenas" (21,7% dos entrevistados se consideraram morenos, os entrevistadores consideraram que morenos eram 9,3%), classificação não utilizada pelo IBGE mas apontada por 21,7% dos entrevistados.
Esse ponto reforça a compreensão de que a percepção de cor/raça é construida socialmente, portanto é socialmente partilhada. Em um contexto de discriminação racial como o brasileiro, marcado pelo racismo de marca (pautado pela aparência e não pela origem da pessoa, como é o norte-americano), as pessoas discriminadas tendem a buscar se "embranquecer", ou seja, perceber-se e se fazer perceber como menos negras do que são.
Esse é um dos nefastos mecanismos de exclusão psicossocial do racismo institucional. O desafio da sociedade brasileira é o de criar condições para a inclusão efetiva da população negra, no acesso ao trabalho e emprego e à educação, como se tem tentado fazer por meio das ações afirmativas para inclusão no ensino superior. Um outro desafio da população negra, em particular, é o de fortalecer o reconhecimento sobre a sua História, além de valorizar os seus signos físicos e culturais.
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